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Terça, 13 Janeiro 2015 16:40

General Numa disposto a concorrer para a presidência da UNITA

O antigo secretário-geral da UNITA, Abílio Camalata Numa, condicionou a oficialização da sua candidatura ao cadeirão máximo do partido, no Congresso Ordinário previsto para este ano, a um debate interno e profundo sobre unidade no seio dos maninhos, que entende ser um elemento que ainda inspira muitos cuidados. Enquanto isso, o porta-voz do partido, Alcides Sakala, garantiu não existirem problemas que possam desalentar a participação dos candidatos ao conclave.

“Segundo o que reza os estatutos do partido, estou habilitado em poder candidatar-me a presidência da UNITA durante o próximo congresso. Até porque, democraticamente, admite-se esta prorrogativa”, afirmou em entrevista exclusiva a este jornal, Abílio Camalata Numa. Apesar disso, o politico considera que a sua candidatura, naquele que é descrito como um dos maiores acontecimentos do Galo Negro para o presente ano, (até porque é dele que se poderá saber se Isaias Samakuva poderá continuar a frente dos destinos do partido), não poderá ser oficializada de forma “emotiva” sem ponderar alguns aspectos, com realce para a coesão e unidade interna no partido, que na sua visão tem estado a “minar” as relações internas e, consequentemente, o desenvolvimento da UNITA como uma força politica que pode ser alternativa ao poder em Angola.

“Me quero candidatar para ajudar o partido a ter uma maior projecção; uma nova visão como verdadeira oposição; para ajudar o meu país a desenvolver-se. Participar para levantar mais contradições e polémicas no seio do partido, não vale a pena”, realçou a nossa fonte, que insistiu dizendo, que a direcção do partido precisa de esclarecer, de entre outros aspectos, esta questão da unidade, “Temos de discutir a agenda nacional para o país, e apresentar um programa que possa mobilizar o MPLA, e outros, em volta dos mais candentes desafios que se apresentam”, frisou Camalata Numa.

Importância de um diálogo abrangente

Em relação aos supostos problemas que enfermam a UNITA, à semelhança de outras forças politicas, o interlocutor advertiu para a necessidade de maior cautela por altura de esgrimir argumentos críticos, a julgar pela dinâmica dos acontecimentos, bem como, o contexto em que se vive.

Contudo, o também general na reforma “deu a mão à palmatória” ao admitir que muitos erros cometidos no seio da UNITA, foram supostamente devido a “ineficiência” na forma de resolução e estratégia interna. O entrevistado reconheceu que os últimos tempos têm sido marcados por um abrupto crescimento pessoal, na maneira de apreciar os acontecimentos políticos do país, sobretudo do partido do qual é membro do comité permanente, tendo exemplificado as circunstâncias completamente diferentes em que o actual presidente, Isaías Ngola Samakuva terá chegado ao poder em 2002, após o fim do conflito armado, e as do ano de 2008.

“Não é muito fácil julgar as coisas a partir de fora. Em democracia é preciso fazer leituras dos tempos. Em nada adianta estarmos a falar sem estar lá dentro”, admitiu o político que insistiu no debate sobre a unidade no seio do partido uma vez que considera ser elemento chave para afastar a possibilidade de o MPLA poder vir a repetir a mesma proeza da maioria absoluta.

“A UNITA não se pode dar ao luxo de não aprofundar o diálogo e a coesão e perder muitos quadros que ela mesmo formou depois de muitos anos. Se quisermos ser alternativa para este pais não podemos permitir o que aconteceu no Congresso passado, onde perdermos figuras como Abel Chivukuvuku e outros correligionários”, advertiu a fonte que manifestou a sua aversão quanto a ideia de formação de governos de coligação.

O político entende que este processo de diálogo deve ser abrangente, incluindo o partido que detém o poder, o MPLA, uma vez que a visão deve ser de uma verdadeira reconciliação nacional, em detrimento do desenvolvimento do país de forma equilibrada, por meio da apresentação de programas e projectos sustentáveis.

Questionado sobre os grandes desafios que poderá atacar na eventualidade de concorrer e vencer, Camalata Numa aponta a corrupção, que considera um dos principais problemas que tem causado consequências irreparáveis na sociedade angolana.

“Entre o ódio e o medo estão divididos os angolanos, devido à corrupção, estimulando um ambiente de total desconfiança”, disse.

Referindo-se às consequências decorrentes deste fenómeno sublinhou a crise que se aguarda com a problemática da baixa do preço do petróleo no mercado internacional, uma situação que se prevê agravar o sector social, e multiplicarem acções de protestos, como as greves, manifestações, aumento da criminalidade no seio dos mais jovens e o desemprego.

A corrupção e a crise nos combustíveis tem sido nota dominante do discurso de vários analistas e a solução para Angola passar pela diversificação, apostando-se em grande medida no sector produtivo, agricultura e também estimular a indústria.

Entretanto, disse que tem havido uma distância enorme, que inviabiliza o desenvolvimento económico, longe da dependência do petróleo. A fonte citou como exemplo o Governo de Cabo Verde, que proporciona aos seus concidadãos uma vida melhor, em relação ao nosso país, sabendo gerir o pouco que possui em matéria de recursos e, apostando na agricultura, assim como no turismo.

“Ficamos aqui a dizer que somos potência na região, mas nem se quer uma agulha conseguimos fabricar”, lamentou.

Camalata Numa reputa de preocupante a importação de capital humano, sem que tenham a qualificação adequada, deitando por terra a possibilidade dos nacionais com qualificações equiparadas ou melhores obterem emprego no mercado de trabalho. Os chineses são alguns dos muitos indivíduos de nacionalidade estrangeira apontados.

Ambiente que antecede a reunião do Comité Permanente

Embora não esteja convocada oficialmente a reunião da Comissão Permanente do partido, prevista para o próximo mês de Março, no seio dos dirigentes do partido já reina um clima de grandes espectativas e algumas incertezas. Afinal, é deste encontro que dependerá a definição da data concreta para o Congresso Ordinário, onde temas como a discussão da agenda eleitoral, a criação da Comissão Eleitoral, que se encarregará da oficialização das candidaturas e a questão da campanha eleitoral, e assuntos ligados a vida interna do partido estarão em cima da mesa de debate, segundo adiantou O PAIS, o porta-voz dos maninhos, Alcides Sakala.

Segundo uma fonte bem colocada na cúpula da UNITA, a agenda do Comité Permanente andará à volta, dentre outras questões já abordadas acima, da renovação de mandatos, a questão da estratégia e do programa do partido para os próximos quatro anos, a vida do parlamento, bem como da própria organização política do partido, fundado por Jonas Savimbi a 13 de Março de 1966, na localidade de Muangai, província do Moxico.

Os rumores segundo os quais os estatutos da UNITA conheceriam algumas mexidas no próximo congresso, sobretudo no que se refere ao modo de eleição e às competências do presidente, foi descartada categoricamente, tal possibilidade por Sakala, tendo garantido por outro lado, estarem criadas as condições para o êxito destes desafios que se avizinham.

Balanço das acções do partido em 2014.

A regressão do processo democrático em Angola, com a multiplicação de actos de intolerância política em quase todo o país, é uma das conclusões a que a UNITA chega ao fim de mais um ano, sustentado esta posição com supostas violações dos direitos humanos, é o desrespeito à Constituição. De facto, estas violações, que obedecem a uma estratégia, segundo os maninhos, foram sustentadas e encorajadas por discursos “incendiários” de dirigentes do partido no poder, como foi o caso de Bento Bento, do Ministro do Interior e do Governador da Província do Bié, Boavida Neto para falar apenas destes.

A repressão da polícia contra manifestantes pacíficos é outra prova da intolerância política do regime angolano. Sakala apontou como exemplo o caso da jovem Laurinda Gouveia, que terá sido maltratada na última manifestação dos jovens revolucionários, assim como a suposta “diabolização” do Presidente da UNITA pelos órgãos públicos da comunicação social.

Quanto ao regime, a UNITA entende estar ainda muito centralizado, naquilo que considera ser uma “autêntica cleptocracia”, que tem dificultado a convivência democrática. Já para o processo de reconciliação nacional, registou algum avanço, embora o diálogo nacional precise de um maior impulso, sobretudo entre o executivo e a UNITA, e entre o executivo com outras forças vivas da sociedade que propiciaram este estado de coisas.

“O MPLA continua a não querer dialogar com as outras forças políticas. Falta-lhe, assim, sentido republicano e de história. Continua fechado na lógica de partido-Estado, de partido único, de triste memoria no nosso país, uma postura que pode pôr em risco a estabilidade do país porque cria tensões politicas, Entre as forças da oposição tem de se melhorar a convivência política, realçando a necessidade destes partidos trabalharem juntos para se atingirem objectivos comuns“, acusou o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala.

Como prioridade o partido terá pela frente a realização do seu Congresso ordinário em 2015; o início das celebrações do cinquentenário da UNITA, fundada a 13 de Março de 1966, e a criação de condições para a realização das autarquias.

Historial

Na eleição de 2003, o Presidente Samakuva foi eleito com cerca de 76% dos votos expressos e na eleição de 2007 foi escolhido com 78%. Ao longo dos seus mandatos, Samakuva tem recebido manifestações de apreço e de lealdade de uma maioria de membros, segundo afirmam alguns analistas políticos, embora ao meio exista naturalmente no seio do partido vozes discordantes em relação a forma como o partido tem sido dirigido. Logo após as eleições de 2008, a Comissão Política reiterou a sua confiança no Presidente eleito. Antes, durante e depois do golpe constitucional, milhares de membros do Partido, quer directamente, quer através dos vários órgãos, manifestaram, igualmente, a sua confiança na maneira como tem sabido discernir e contrariar as supostas investidas do governo contra a democracia, e o estado de direito.

O actual presidente do partido derrotou folgadamente Lukamba Gato e Eduardo Chingunji, para depois quatro anos, Abel Chivukuvuku manifestasse a disputa ao cadeirão presidencial com a figura que ele mesmo apoiou no congresso anterior.

Comentava-se, na altura, que no referido conclave, o antigo líder da bancada parlamentar da UNITA seria apoiado por Lukamba Gato, cuja derrota no último congresso, contou com o apoio do primeiro, projecções que não passaram disto mesmo.

O PAIS