Em declarações aos jornalistas numa viagem entre Huambo e Benguela, através da linha ferroviária que integra o Corredor do Lobito, o presidente executivo da Lobito Atlantic Railway (LAR), consórcio que ganhou a concessão da infraestrutura por 30 anos, destacou que o mercado mundial de minerais não tem bandeiras e procura quem oferece melhores condições.
"O Corredor do Lobito abriu uma porta para o Atlântico. Já existe hoje outra porta, que é a ligação de Walvis Bay (Namíbia) e, do lado do Índico, o corredor de Dar es Salam (Tanzânia) e na Beira (Moçambique), só que, do lado do Índico, os portos estão muito congestionados", explicou Francisco Franca.
"A nossa vantagem competitiva maior é o tempo. Os nossos tempos são muito menores relativamente a esses corredores", considerou, apontando os preços como outra vantagem, bem como o facto do transporte ser feito só por via ferroviária.
Francisco Franca, que acompanhou uma comitiva diplomática numa viagem ao Corredor do Lobito organizada pela embaixada norte-americana em Angola, adiantou que, em 2024, o primeiro ano de operações da LAR, foram transportadas 125 mil toneladas de carga, prevendo-se este ano chegar às 400 mil.
Em 2026 a expectativa é duplicar o volume de toneladas e em 2027 chegar a um milhão e meio de toneladas.
"O nosso plano está a ser cumprido de acordo com o contrato de concessão", afirmou o responsável do consórcio, sublinhando que a carga internacional é a que tem mais peso (300 mil toneladas).
A LAR leva até ao Porto do Lobito, no sul de Angola, carregamentos de cobre provenientes de Kolwezi na Republica Democrática do Congo (RDCongo) e transporta no sentido contrário enxofre, usado na exploração das minas.
A nível doméstico circulam neste corredor essencialmente diesel, gás, cimento e produtos alimentares do grupo agroaindustrial angolano Carrinho.
O Corredor do Lobito, que percorre Angola ao longo de 1.300 quilómetros, é considerada uma infraestrutura de importância geoestratégica para norte-americanos e europeus, por aproximar as ligações por via atlântica à Europa e à América, tendo sido anunciados milhões de investimentos no projeto.
Uma parte substancial será financiada por empréstimos da norte-americana Development Finance Corporation (550 milhões de dólares, ou 497 milhões de euros) e do Development Bank of Southern Africa (200 milhões de dólares, ou 181 milhões de euros).
Francisco Franca reafirmou que o desembolso do empréstimo da DFC vai acontecer nos próximos meses, desvalorizando os atrasos. "É um processo normal, isto é um projeto complexo, (..) é um projeto internacional que requer muitas garantias", sublinhou, garantindo que a assinatura dos contratos de financiamento está na fase final e deve acontecer nos próximos dois a três meses.
Até agora tâm sido os acionistas a investir (além da portuguesa Mota-Engil, a LAR integra a belga Vecturis e a suíça Trafigura), sem que sejam afetadas as atividades operacionais, disse.
"Até este momento (...) têm investido no projeto [300 milhões de dólares] e, se houver mais algum atraso, os acionistas irão continuar a apoiar o projeto", assegurou, dando nota que poderão ser adiados investimentos que não impactam na operação, como a melhoria das estações.
Entre os principais desafios que a LAR tem enfrentado apontou as restrições de velocidade na linha, por questões de segurança, estando em curso trabalhos de manutenção, assegurados pela Mota-Engil.
Atualmente, o percurso Lobito-Luau-Lobito, desde o Porto do Lobito até a fronteira com a RDCongo, demora sete a oito dias.
O responsável da LAR disse também que estão a ser ultrapassadas algumas limitações relacionadas com o material circulante que receberam do Estado.