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Terça, 27 Agosto 2024 19:21

Encontro do líder do MPLA com bases pode inibir outros candidatos à sucessão - analista

O analista político angolano David Sambongo considerou hoje que o encontro de João Lourenço, líder do MPLA, com os coordenadores das estruturas de base do partido, pode dissuadir outros militantes de candidatarem-se à sua sucessão.

Este encontro pode ser entendido como um mecanismo de dissuasão, de demonstração de força do presidente João Lourenço, para reafirmar e dizer que controla as bases, tem apoio das bases e qualquer tentativa de outros candidatos, que não sejam apadrinhados por ele, provavelmente serão derrotados, é essa a leitura que faço”, disse à Lusa David Sambongo.

O líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), João Lourenço, realizou, segunda-feira, em Luanda, um encontro com os primeiros secretários dos Comités de Ação do Partido (CAP), para revitalizar e fortalecer as estruturas do partido, que contou com 2.700 coordenadores dos 60.000 CAP de todo o país.

David Sambongo recordou que João Lourenço, quer do ponto de vista estatutário quer do ponto de vista da Constituição da República de Angola, não pode concorrer a Presidente da República nas eleições gerais de 2027, por ter atingido o limite de dois mandatos.

O académico destacou que circulam informações que no congresso extraordinário do MPLA, em 2026, haverá “figuras de proa a concorrer à liderança do partido”, elemento que sustenta a sua tese.

Eu penso que estas dinâmicas internas que o presidente do MPLA está a fazer evidenciam claramente uma intenção de controlar as bases, de ter as bases consigo para um eventual arranjo político - isso é uma análise perspetiva que estou a fazer - que permita com que consiga concorrer para um terceiro mandato, alterando a Constituição da República de Angola, para permitir isso, ele consiga conter os ânimos com a legitimidade que foi buscar neste encontro com os primeiros secretários dos CAPs”, afirmou.

Para este especialista, foi um encontro histórico, o segundo que um líder do MPLA realiza com os responsáveis das estruturas de base, enraizadas nos bairros das comunas, distritos e municípios, e que pode ter significado também uma maior preocupação do líder do partido, “com a forma como o MPLA está a ser encarado pela sociedade”.

É um desgaste enorme da imagem do MPLA, em função do conjunto das políticas públicas que falharam. Temos em Angola um tecido social cada vez mais frágil, onde a maior parte das famílias tem dificuldades hoje de fazer três refeições ao dia”, disse, acrescentando que João Lourenço usou desta via para tentar “inverter o quadro, do ponto de vista da sua imagem”.

Do discurso, David Sambongo destacou também o facto de João Lourenço ter admitido a existência no seio do partido do tráfico de influência, impedindo que militantes de base de cheguem a cargos de direção do partido, em detrimentos de outros, nomeados por via de “jogos de influência”.

Ele fala para denunciar, mas não aponta os mecanismos, os canais que os militantes devem usar(…), se diretamente ao presidente do partido, se vão fazer denúncias ao Comité Central, aos órgãos do Comité Central, que é onde existem esses militantes, que mesmo sem mérito conseguem ascender por conta da aproximação, da afinidade que têm com os membros do Comité Central do MPLA e também do Bureau Político”, declarou.

Sobre o apoio que João Lourenço manifestou aos jovens, que considera estarem preparados para ascenderem a cargos de direção no partido “inclusive para assunção do mais alto posto de Presidente da República”, David Sambongo concorda que “do ponto de vista académico, intelectual, há sim jovens com capacidade no MPLA para assumir a liderança quer do partido quer do país”, mas tem dúvidas sobre o seu comprometimento com o país.

Duvido muito do patriotismo, do sentimento de abnegação e, sobretudo, do senso de responsabilidade daquilo que é a função de servir o país. Há muitos jovens que hoje estão no aparelho político do Estado angolano que deixam muito a desejar, são muito imediatistas e que não colocam o interesse nacional angolano acima de todos os interesses, estão mais apara atender os caprichos e os interesses individuais”, referiu.

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