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Quinta, 06 Abril 2023 20:28

"Homens como padre Jorge Casimiro Congo nunca deviam morrer" - Raul Tati

O ex-vigário-geral da diocese de Cabinda, Raul Tati, lamentou hoje em declarações à Lusa a morte do padre Jorge Casimiro Congo, de quem disse ser um “homem que nunca devia morrer”.

“Se tivesse poderes divinos para determinar o destino dos homens, eu teria escolhido o padre Congo como um daqueles homens que nunca devia poder morrer”, disse Raul Tati, a propósito da notícia da morte esta madrugada, em Cabinda, de Jorge Casimiro, um paladino da independência daquele enclave angolano.

“Nunca devia conhecer a morte. Esta morte é, de alguma maneira para nós uma perda absoluta para o povo de Cabinda, que desde há muito tempo vem carregando uma espécie de orfandade, quer do ponto de vista interno, quer do ponto de vista externo e agora com esta perda, agudiza-se ainda mais esse sentimento de orfandade”, salientou.

O padre Jorge Casimiro Congo morreu hoje de madrugada no Hospital Geral de Cabinda, vítima de doença.

Jorge Casimiro Congo, de 71 anos, nasceu em Lândana, município de Kakongo, na província de Cabinda, e foi um dos ativistas mais proeminentes da separação de Cabinda de Angola, tendo por essa razão sido detido em várias ocasiões pelas autoridades de Luanda.“O padre Congo, durante a sua vida, durante a sua vida no ministério sacerdotal, no ativismo político em que esteve engajado, ensinou esse caminho de liberdade, de dignidade”, acrescentou.

Raul Tati, que abandonou a vida sacerdotal, é atualmente militante da UNITA, o maior partido da oposição em Angola, de que foi deputado na anterior legislatura, disse à Lusa ser o primeiro-ministro sombra de um executivo liderado por esta formação partidária.

Bispo recorda padre Congo como uma das grandes referências da Igreja Católica em Cabinda

O bispo da diocese de Cabinda, Belmiro Chissengueti, disse hoje que foi “com muita consternação” que recebeu a notícia da morte do padre Jorge Casimiro Congo, uma das grandes referências da Igreja Católica na província de Cabinda.

Numa nota, Belmiro Chissengueti destacou as qualidades do padre Congo, que conheceu em 1985 quando chegou a Lândana, província de Cabinda, no norte de Angola, para o curso propedêutico à filosofia.

“Homem de grande inteligência e de vasta cultura é das grandes referências da Igreja Católica em Cabinda. Deu um grande contributo na pregação, na dinamização da liturgia, na criação de um cancioneiro adaptado à realidade de Cabinda, na criação de grupos apostólico locais como os Samaritanos, Massuela, Lutambi e tantos outros”, recordou o bispo.

Belmiro Chissengueti frisou que o padre Congo “era o primeiro a manifestar solidariedade nos momentos difíceis da diocese, sobretudo nos óbitos de sacerdotes, fazendo questão de estar presente”.

“Nesta madrugada recebi, com muita consternação, a notícia do seu falecimento. Perdi um bom amigo”, disse o bispo, expressando o desejo de “presidir à sua missa de corpo presente na Imaculada Conceição ou em São Tiago Maior de Lândana”.

“Oxalá, a família e os seus membros mo permitam. Mas, se não permitirem, lá estarei na mesma”, disse.

Jorge Casimiro Congo, de 71 anos, nasceu em Lândana, município de Kakongo, na província de Cabinda, e foi um dos ativistas mais proeminentes da separação de Cabinda de Angola, tendo por essa razão sido detido em várias ocasiões pelas autoridades.

O padre Jorge Casimiro Congo formou-se em Teologia e Línguas Antigas na Universidade Urbaniana de Roma, e foi pároco na igreja Imaculada Conceição, em Cabinda, onde alimentava com os seus sermões o independentismo cabinda.

Na companhia de outros padres cabindas, questionou e opôs-se à nomeação do bispo Filomeno Vieira Dias em substituição do bispo Paulino Madeka, o que lhe valeu ter sido afastado pelo Vaticano da Igreja Católica.

A sua reação foi aderir à igreja Católica das Américas, acabando por ser nomeado bispo desta confissão religiosa, título que manteve até ao fim.

Antigo secretário da Educação, Ciência e Tecnologia do governo provincial de Cabinda, o que lhe valeu críticas de setores independentistas, mas que justificou como uma oportunidade de combater em Cabinda, Casimiro Congo era até à data da sua morte bispo da Igreja Católica Americana em Angola.

Foi professor de Português e Metodologias na Universidade Lusíada.

Em 2003 participou na constituição da Associação Cívica de Cabinda “Mpalabanda”, que seria extinta dois anos depois pela justiça angolana por alegada subversão à ordem constitucional e atentado à unidade do Estado.

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