O director da Rádio Ecclesia, padre Quintino Candange, denunciou que existem organizações internacionais que financiam órgãos de comunicação social em Angola com vista a derrubar o poder actual.
A Rádio Ecclesia e a União Europeia (UE) estão em desacordo sobre 149.631.27 euros. De um lado a emissora católica diz que vai devolver a verba porque não aceita servir interesses que visam provocar uma "alternância do poder" em Angola através da imprensa, do outro a UE alega que a quantia refere-se ao reembolso de um financiamento não utilizado.
Por ocasião do Dia da Liberdade de Imprensa, assinalado ontem, o director da Rádio Ecclesia, Quintino Kandandji, declarou ao Jornal de Angola que devolveu recentemente 149 mil euros à UE em discordância com uma alegada agenda obscura da organização.
"Nós devolvemos o dinheiro em tempo de crise", vincou o padre Kandandji, acrescentando que a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) está a acompanhar o assunto. "Os bispos disseram-me que não posso vender-me a esses interesses", adiantou o pároco, lançando suspeitas sobre os objectivos dos programas da UE.
"O que nós entendemos por financiar democracia e cidadania é ajudar para que um país seja mais democrático ou ajudar para que um cidadão seja mais cívico", defendeu o director da Rádio Ecclesia ao Jornal de Angola, acusando as organizações internacionais de, a pretexto da promoção de uma cultura democrática, quererem forçar uma "alternância do poder" por via da imprensa.
As declarações do padre Kandandji levaram a Delegação da UE em Luanda a emitir uma nova de esclarecimento, que apresenta uma versão diferente sobre os 149 mil euros invocados pelo director da emissora católica.
Começando por explicar que a ligação à Ecclesia remonta a 2011, a UE adianta que, nesse ano, a rádio foi escolhida, para beneficiar "de um contrato de subvenção com uma duração de 24 meses (entre Fevereiro de 2012 e Março de 2014), e num montante máximo de 299.961.74 euros (representando um co-financiamento de 58.86% do custo total do projecto)".
Segundo se lê na mensagem distribuída às redacções, a emissora católica acabou por receber um total de 234.736 euros para implementação da sua proposta.
"Finalizado o projecto, em Março de 2014, a Ecclesia apresentou os respectivos relatórios finais. A análise da execução financeira - verificada por auditoria - revelou que havia um montante não utilizado de 149.631.27 euros", detalha a UE, esclarecendo que, nos termos do contrato, o valor terá de ser devolvido.
"Este facto foi comunicado e posteriormente aceite pela Rádio Ecclesia. A 25 de Maio de 2015 foi emitida uma ordem de reembolso, pelo mesmo valor, que até há data não foi liquidada pela Rádio Ecclesia", prossegue a nota, que classifica de "infundadas" as declarações do padre Kandandji.
A União Europeia lembra que trabalha em parceria com o Governo angolano há 30 anos e procura promover a criação de um espaço de diálogo democrático onde as várias vozes e tendências se possam manifestar tendo em vista o fortalecimento da democracia.