Sexta, 26 de Setembro de 2025
Follow Us

Quinta, 25 Setembro 2025 22:20

Higino Carneiro acusado de colaborar com ex-agente da CIA

A revelação do envolvimento de general Higino Carneiro em operações secretas lideradas por Dale Britt Bendler, ex-oficial paramilitar da CIA em Angola e chefe de estação em Paris, foi revelada em um tribunal na Virgínia Oriental, Estados Unidos.

ARTIGO RELACIONADO https://jackpoulson.substack.com/p/foreign-agent-registration-confirms

O antigo oficial paramilitar da CIA em Angola e ex-chefe de estação em Paris, Dale Bendler, declarou-se culpado, conforme consta num comunicado publicado no site do Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América. O caso está a ser julgado no Distrito Leste da Virgínia, onde os procuradores pedem apenas 24 meses de prisão.

Entre julho de 2017 e setembro de 2020, período em que trabalhou como contratado a tempo inteiro na CIA, Bendler tinha acesso diário a documentos altamente sensíveis, recebia paralelamente cerca de 360 mil dólares em honorários privados, utilizando os arquivos da agência como um “Google pessoal” onde ia buscar elementos para proteger quem lhe pagava.

O montante mais relevante desses honorários era pago por Higino Carneiro, que muito provavelmente, se verá a braços com acusações criminais de corrupção de agente federal nos EUA, podendo a todo o tempo ser emitido um mandado de captura americano para o levar a julgamento na Virgínia, EUA.

Documentos e declarações submetidas por Bendler e pelo seu cunhado, Nilton Fernandes Rosa, confirmam que o “Principal Estrangeiro 1” era Higino Carneiro, então deputado do MPLA e antigo governador da província de Luanda.

Isto é, Higino Carneiro era o principal cliente privado de Bendler da CIA, a quem pagava para promover os seus interesses e garantir protecção.

Bendler recebia US$ 24.750 mensais de Higino para organizar uma campanha de relações públicas destinada a refutar alegações de desvio de fundos contra Carneiro e para fazer lóbi junto de autoridades norte-americanas e estrangeiras.

Esta operação está directamente ligada ao escândalo do Fundo Soberano de Angola (FSDEA), exposto nos Paradise Papers de 2017, que revelaram o desvio de milhões de dólares por Jean-Claude Bastos de Morais, empresário suíço-angolano e amigo próximo do filho do então Presidente José Eduardo dos Santos. As “velhas guardas” a descoberto.

Os pagamentos a Bendler eram canalizados através da empresa DAT LLC, presidida por Sandra Rosa Bendler, esposa angolana do ex-agente, com quem casou em 1994. Bendler integrava o conselho de administração da empresa, oferecendo “aconselhamento sobre tudo o que é angolano” a potenciais investidores norte-americanos.

Carneiro foi investigado pela primeira vez por sua suposta relação com o escândalo de lavagem de dinheiro do FSDEA em 2019. Uma nota publicada pelo Ministério das Finanças de Angola em 15 de novembro de 2019 afirmou que, "em fevereiro de 2019, o ex-governador de Luanda e atual deputado do MPLA, Higino Carneiro, foi colocado sob investigação em conexão com crimes de lavagem de dinheiro, pois houve alegações de impropriedade relacionadas ao leilão da quarta licença de telecomunicações de Angola em abril de 2019". "A licença foi concedida à Telstar-Telecomunicações, Lda, uma empresa angolana constituída em 2019 com um registro limitado e controlada por pessoas com ligações às forças armadas angolanas", continuou a declaração.

Além disso os documentos indicam ainda que Bendler prestava apoio não financeiro a actividades de activismo político ligadas a uma eventual candidatura presidencial de Higino Carneiro.

Num dos documentos, o ex-agente anotou ironicamente que “a cooperação em minerais críticos entre Angola e os Estados Unidos é boa para os Estados Unidos de muitas maneiras”.

As ligações a Angola foram inicialmente denunciadas em meados de 2025 pelos jornalistas Jack Murphy e Sean Naylor, com base nas revelações feitas por Bendler numa entrevista de três horas ao podcast The Team House, em Março de 2024.

Este conjunto de informações revela uma teia de corrupção e influência transnacional, onde Higino Carneiro surge como figura central, beneficiando de operações clandestinas e de protecção política. Agora, os EUA vão andar atrás de Higino Carneiro por ter corrompido um dos seus oficiais, entretanto, condenado.

Rate this item
(0 votes)