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Sábado, 30 Novembro 2024 13:05

Corredor do Lobito assegura manutenção de interesses americanos em Angola - especialistas

Especialistas ouvidos pela Lusa acreditam que os interesses norte-americanos em Angola se vão manter, pelo menos no que toca à importância atribuída ao Corredor de Lobito e, também, de forma a contrabalançar a presença crescente da China em África.

Nas vésperas da chegada do Presidente norte-americano Joe Biden a Angola, país africano lusófono onde o líder democrata estará entre 02 e 04 de dezembro, a Lusa ouviu especialistas em assuntos africanos e, sendo certo que todos concordam que a prioridade dos Estados Unidos não é África, todos referem que existem exceções que pesam na consideração dos interesses geopolíticos estratégicos dos EUA no continente africano, como a manutenção dos investimentos no Corredor do Lobito, uma infraestrutura ferroviária que liga Angola às zonas de minérios da República Democrática do Congo (RDCongo) e da Zâmbia.

“Esta visita está relacionada com um grande investimento que está a ser feito no Corredor do Lobito", referiu Cátia Batista, professora catedrática da Nova SBE e diretora do centro NOVAFRICA, acrescentando que "há naturalmente um grande interesse económico que tem a ver com recursos naturais”.

Referindo que esta viagem surge num contexto em que os Estados Unidos foram expulsos do Níger e em que existe uma crise humanitária no Sudão muito grave, Cátia Batista, que é um dos membros do recém-criado Conselho Nacional para as Migrações e Asilo, referiu que é perante este cenário que aparece o interesse geoestratégico desta viagem a Angola.

"O que está aqui em jogo é este investimento enorme e estratégico e o acesso a recursos naturais por parte dos Estados Unidos em África", concluiu. Por outro lado, o manifesto interesse e o realinhamento da China em África são também variáveis que têm de ser equacionadas quando falamos do interesse dos Estados Unidos no continente africano, referiu Cátia Batista, acrescentando que “a China está a investir cada vez mais em África, de forma mais influente e com uma nova tendência de aposta na formação dos líderes africanos".

Em declarações à agência Lusa, Fernando Jorge Cardoso, professor catedrático convidado da Universidade Autónoma de Lisboa e especialista em assuntos africanos, referiu, também, a enorme importância geoestratégica do Corredor do Lobito como uma das razões, "independentemente da parte simbólica da viagem", que o leva a acreditar que a política norte-americana em África se vai manter "como uma política de apoio às multinacionais americanas que estão a operar em países africanos. Isto com Trump ou sem Trump".

Para Fernando Cardoso, a importância desta infraestrutura tem a ver com o garante de uma saída de recursos para o Atlântico de um país que está profundamente ligado economicamente aos Estados Unidos, através da exploração de petróleo. Por outro lado, Fernando Cardoso apontou a componente política desta viagem, que associa aos chineses.

"É uma jogada que tem interesse para as multinacionais americanas, para a política de acesso fácil a recursos e também uma política de contraposição ao rival principal dos Estados Unidos", concluiu. Com a mesma linha de pensamento, Marlon Francisco, do Economics for Policy da Nova SBE, referiu que a administração de Joe Biden esforçou-se para apresentar África como um parceiro valioso e “um dos exemplos positivos é o investimento no Corredor do Lobito.”

Reconhecendo que existem muitas questões que têm de ser avaliadas, Marlon Francisco, que é também economista consultor do Banco Mundial, disse acreditar que “a reeleição de Donald Trump em 2024 poderá trazer incertezas significativas para o continente africano, especialmente em áreas de comércio e ajuda externa, embora a necessidade de competir com a China possa levar à continuidade de algumas parcerias estratégicas”.

Para Marlon Francisco, “a reeleição de Trump provavelmente significará uma abordagem pragmática e mais focada em interesses diretos e menos em apoio humanitário ou parceria a longo prazo”.

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