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Segunda, 15 Junho 2020 17:06

Sindicato dos médicos ameaçam com greve para verem atendidas reclamações

O Sindicato Nacional dos Médicos de Angola (Sinmea) ameaçou hoje partir para uma greve, nos próximos dias, caso não haja resposta do Presidente da República, a quem foi enviado um manifesto da classe médica angolana.

O presidente do Sinmea, Adriano Esteves, disse em conferência de imprensa que o sindicato está preocupado com o elevado número de médicos angolanos no desemprego, o elevado índice de morbimortalidade nos hospitais e falta de condições de trabalho.

Segundo Adriano Esteves, a exiguidade de médicos especialistas no país é também outra preocupação, bem como a criação de um sistema de saúde primário eficiente em Angola.

"Queremos manifestar o nosso descontentamento pelo facto de ainda termos médicos desempregados e o sindicato vai continuar a lutar no sentido de melhorarmos cada vez mais a prestação de serviço no nosso país", referiu.

O dirigente sindical frisou que o Sinmea está a contar com todos os médicos, para "encontrar os melhores caminhos para diminuir o elevado índice de mortalidade e morbilidade no país".

"Nós não vamos descansar, enquanto sindicalistas, enquanto a população de Angola não tiver as mesmas oportunidades, precisamos que cada um, seja rico ou pobre, tenha as mesmas possibilidades e não é o que observamos no nosso país", vincou.

O sindicalista salientou que o país tem atualmente no ativo apenas 8.000 médicos, para uma necessidade de pelo menos 30.000 profissionais.

Por sua vez, a vice-presidente do Sinmea, Domingas Matos, apontou que apesar das várias reclamações e apelos feitos pelo sindicato não há qualquer resposta das autoridades governamentais.

"É nesta ordem, que não temos outra saída se não partirmos para as nossas ações reivindicativas, só não partimos para uma greve neste período devido à situação que o país e o mundo vive, estamos em situação de calamidade pública e juridicamente não é permitida a greve neste período", disse a sindicalista.

Contudo, prosseguiu: “Tão logo se levante este período, nós o sindicato partiremos para uma, duas, três, quatro, quantas greves forem necessárias para que sejamos ouvidos, para que os nossos documentos e os nossos pedidos sejam olhados com o merecer que se impõe e sejamos atendidos".

Domingas Matos assegurou que, apesar da situação de calamidade, o sindicato não vai cruzar os braços e, embora não seja possível uma paralisação, há atividades que podem ser realizadas para fazer ouvir as suas vozes.

"A princípio começaremos por manifestações, faremos quantas forem necessárias e, se nos próximos 15 dias as respostas de tudo o que já foi apresentado não forem dadas, então daí mesmo o conselho nacional do sindicato vai reunir para sacar todas as atividades reivindicativas que sejam juridicamente aceitáveis nesta situação", adiantou.

O sindicato apresentou, em 2018, um caderno reivindicativo ao Ministério da Saúde, dirigiu em setembro de 2019 a todas as comissões de especialidade da Assembleia Nacional um manifesto, ambos sem resposta, e no dia 03 deste mês enviou uma carta ao Presidente da República, aguardando até ao momento por um pronunciamento.

Já o responsável sindical de Luanda, Miguel Sebastião, lembrou que em dezembro de 2019, o Ministério da Saúde realizou um concurso público, cujas listas finais foram publicadas este mês, seis meses depois, tendo inscritos 1.400 médicos para 1.200 vagas.

Miguel Sebastião sublinhou que Angola é um país com "carência gritante de médicos", questionando-se como podem estar no desemprego 2.500 profissionais.

O médico realçou que no meio do concurso público Angola recebeu mais de 200 médicos provenientes de Cuba, colegas formados pelo Estado, que no regresso ao país se encontram "pura e simplesmente abandonados".

"Até que ponto estamos a valorizar os quadros nacionais, formados no estrangeiro, que voltam ao país?", questionou o sindicalista, notando que o médico formado no estrangeiro chega e "é abandonado" e o "colega com quem estudou, na mesma sala" chega a Angola "e diretamente tem direito ao emprego".

"Onde está o patriotismo deste país?", perguntou Miguel Sebastião, referindo-se aos médicos importados de Cuba em detrimento aos angolanos formados no mesmo país.

De acordo com Sebastião, a situação dos médicos é a mesma para os enfermeiros e técnicos de diagnóstico.

Sindicato reitera que não se opõe à contratação de médicos cubanos

O Sindicato Nacional de Médicos de Angola (Sinmea) reiterou que não está contra a contratação de médicos cubanos, mas contra a situação dos mais de 2.500 profissionais que se encontram no desemprego.

Segundo a vice-presidente do Sinmea, Domingas Matos, a contratação dos médicos cubanos foi justificada pelo Governo com a situação da pandemia de covid-19 e os problemas que os hospitais enfrentam.

"O espanto é que, segundo relatos dos colegas que estão nos locais onde os médicos foram alocados, dizem que eles não estão a trabalhar para aquilo que vieram fazer. Muitos estão a fazer trabalhos administrativos e outros estão a se adaptar", disse.

Domingas Matos frisou que o Governo justificou que os médicos expatriados foram recrutados para dar formação aos quadros nacionais.

"Como é possível que quem veio formar a esta altura estar a adaptar-se, não estaria já a formar ao invés de estar a ser formado, há mesmo necessidade de trazermos médicos para nos formar, quando na verdade acabam adquirindo experiência cá?”, questionou.

"Queremos médicos nos hospitais, queremos um negócio, o que queremos?", prosseguiu, questionando também a necessidade de "gastar milhões importando quem vem fazer trabalhos administrativos".

A sindicalista reclamou que o Governo consegue pagar a médicos estrangeiros, mas aos nacionais, muitos deles reprovados no concurso público, apela ao voluntariado.

"Então servem para trabalhar, isso já deixaram bem claro, mas só como voluntários, não servem para receber um ordenado pelo trabalho que fazem", frisou.

Segundo a responsável, apelam à "sensibilidade, patriotismo, amor e juramento dos médicos, e tem sido isso que os médicos têm feito.

"Sim, fazemos um juramento e temos estado a cumprir, patriotismo existe, até ao momento o médico angolano vive disso - patriotismo, amor ao próximo, altruísmo e nada mais que isso. Pergunto-me, vamos viver disso até quando?", reiterou.

Domingas Matos referiu que a desculpa da crise económica não colhe, como ficou agora aprovado com a pandemia de covid-19.

"Olhamos para esta situação do novo coronavírus, apareceu dinheiro para muita coisa, para levantar e equipar hospitais em menos de um mês, dinheiro para a contratação de profissionais de fora, dinheiro para compra até de condomínios sobrefaturados, afinal, o dinheiro existe, só falta mesmo é vontade", salientou.

Por sua vez, o presidente do Sinmea, Adriano Esteves, afirmou que num encontro que teve com a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta referiu que interessava entrar novos médicos, para que os médicos generalistas cubanos regressassem ao seu país, "mas está a fazer o contrário".

"Nós não estamos contra a vinda de médicos estrangeiros, essa é a ideia que certa imprensa pública faz passar, não é possível, porque mesmo com os médicos angolanos que estão a formar agora ainda somos poucos para cobrir o défice, vamos precisar de médicos expatriados na mesma", vincou.

Os custos para a contratação de médicos especialistas cubanos para assistência médica em Angola e formação de profissionais nacionais, ascendem a 79,3 milhões de dólares (70,2 milhões de euros).

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