Em Angola práticamente todos os partidos da oposição - Bloco Democrático, Casa-CE, UNITA e PRS - condenaram as detenções - ontem - terça-feira - de vários jovens ativistas que tinham convocado uma manifestação sob o lema "chega de chacinas em Angola".
Jovens manifestantes tratados de forma desumana
Recorde-se que mais de 20 jovens manifestantes foram detidos e depois tratados de forma desumana. Segundo se pode ler num comunicado do Bloco Democrático (BD), os jovens foram "atirados à rua, várias horas depois da detenção, a dezenas de quilometros de distância do local onde tinham sido inicialmente presos". Um dos jovens detidos, Pedrowski Teca, confirma.
“Fomos presos às 15 e libertados apenas às 20horas. Fomos levados para a unidade da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) e houve uma sessão de espancamentos. A polícia chegou ao ponto de nos fechar numa carrinha e atirar para dentro do veículo uma bomba com gás pimenta que ardia nos olhos e na pele. Foi simplesmente horrível."
Sem gravar entrevistas o comandante geral da Polícia Nacional, Comissário-chefe, Ambrósio Freire de Lemos e o comandante provincial de Luanda comissário António Maria Sita, afirmaram desconhecer qualquer acto de espancamento cometido contra os activistas.
Contudo, um destacado militante do Bloco Democrático e do Sindicato dos Professores disse ter sido espancado e fotos demonstram que foi agredido.
Em entrevista a uma rádio estrangeira, o Secretário Nacional Para Formação E Cultura do Bloco Democrático e responsável do Sinprof, Manuel de Victória Pereira disse que os detidos foram barbaramente espancados:
“Eu sabia de algumas prisões e procurava comunicar via SMS, quando a PIR agarrou em mim, meteu-me no carro e começou a espancar-me”, contou.
“Bateram-nos muito mesmo, foram me chamando de branco, mulato”, continuou.
PIR "neutralizou" manifestantes antes dos espancamentos
Para Pedrowski, a atuação dos elementos da Polícia de Intervenção Rápida, PIR, foi a maneira que encontraram para neutralizar os jovens para depois “nos baterem muito e nos transferir em seguida para um páteo. Trouxeram-nos de Luanda e fomos abandonados em Catete. Pelo caminho entre Luanda e Catete fomos obrigados a ficar com a cabeça para baixo, num calor infernal, enquanto nos pisavam e éramos bastonados. Pelo facto, vários jovens foram parar ao hospital”.
Os jovens, para além de serem espancados, terão também sido roubados. Segundo descreve Pedrowski Teca: "Tiraram-nos os cintos, os anéis e todo o dinheiro que tínhamos. Os telefones também, mas estes foram-nos devolvidos. Nem o nosso dinheiro nem os anéis foram-nos entregues.Os polícias da PIR apropriaram-se indevidamente dos nossos bens”.
Os jovens decidiram apresentar queixa no tribunal
A lista de detidos conta com vários representantes do denominado '"movimento revolucionário", que têm vindo a convocar manifestações, a maior parte delas reprimidas com mais ou menos violência, por parte da polícia angolana. Alguns dos nomes: Raul Mandela, António Camilo, Pedrowski Teca, Manuel Chivongue Nito Alves, Adolfo Campos, Emiliano Catombela, McLife Bunga, Agostinho Pensador e Abrão Cativa.
A DW tentou obter uma reação por parte da polícia nacional de Angola. Mas o porta-voz, não quis comentar o assunto. Os jovens - entretanto - prometem não desarmar. Adolfo Campos, outro membro do grupo, mostra-se determinado e afirma falar em nome da maior parte dos integrantes do movimento revolucionário: “Isso não vai parar por aqui porque simplesmente aumentou a nossa ira, a nossa fúria. Depois de nos espancarem tiveram ainda a coragem de lançar bombas de gás lacrimogéneo e trancaram-nos lá dentro. Querem mesmo matar os jovens”.
Os próximos passos estão agora a ser estudados pelos jovens. Tudo indica que o caso transitará para a justiça. Segundo Adolfo Campos, “vamos apresentar uma queixa contra o comandante geral da Polícia de Angola e o ministro do Interior, porque o que vem acontecendo é uma situação muito grave. Estamos num país completamente abandonado...o povo está totalmente abandonado. Nós temos pais, temos mães temos primos e temos gentes que seguem os nossos ideais. Se continuarem assim um dia vai haver uma rebelião”, acrescentou.
DW.DE/AO24