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Sexta, 23 Novembro 2018 21:30

Refugiados com SIDA não estão protegidos em Angola

Angola regista anualmente 28 mil novas infeções e 13 mil mortes por VIH/SIDA, apesar dos esforços das autoridades sanitárias para o combate à doença, tendo o índice de incidência aumentado nos últimos anos, passando dos 4,2%, em 2015, para os 6% atuais

A legislação angolana de proteção das pessoas com VIH/SIDA reconhece-lhes o direito à assistência médica gratuita e aos antirretrovirais, mas é omissa quanto aos refugiados, requerentes de asilo, apátridas e migrantes, que ficam em situação de vulnerabilidade.

A conclusão consta do Relatório Nacional Consolidado da Avaliação do Ambiente Jurídico em Angola, elaborado no âmbito do Projeto Regional para a Redução do Risco de VIH e a Melhoria da Saúde Sexual e Reprodutiva das Populações Chave Jovens em África Austral.

O documento, a que a agência Lusa teve acesso, refere, no ponto sobre Refugiados, Requerentes de Asilo, Apátridas e Migrantes, que Angola recebe um número elevado de migrantes e requerentes de asilo, fundamentalmente da África Ocidental, que, no geral, os fluxos migratórios se originam na República Democrática do Congo, país vizinho.

“Apesar de, ainda no plano internacional, existirem algumas lacunas legislativas ou ausência de padrões, a vulnerabilidade destes grupos em Angola é exacerbada pelo facto de que as leis e políticas angolanas só contêm escassas disposições específicasque protejam, especialmente, os refugiados, requerentes de asilo e apátridas em matéria de saúde sexual e reprodutiva e VIH“, lê-se no documento.

O relatório avança ainda que “importantes estudos estatísticos” sobre saúde realizados por Angola “não mostram a situação destes grupos“. “Por exemplo, o IIMS (Inquérito de Indicadores Múltiplos de Saúde) 2015-2016, coordenado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), em colaboração com o Ministério da Saúde (MINSA), não aporta dados sobre migrantes, refugiados, requerentes de asilo e apátridas“, refere o documento.

Além da falta de dados sobre este grupo em importantes estatísticas do país, o relatório aponta igualmente a inexistência de estudos publicados ou números disponíveis em outros setores sobre o estado serológico deste grupo, nem da sua condição de população chave, embora se tenham reportado casos de prostituição.

“Apesar da falta de dados específicos para Angola, é um facto reconhecido internacionalmente que os migrantes indocumentados, refugiados, requerentes de asilo e apátridas correm maior risco de exposição à infeção pelo VIH”, salienta o documento.

Angola não tem igualmente estudos socio-comportamentais nos grupos vulneráveis, como trabalhadores migrantes e refugiados disponíveis em termos de VIH e outras doenças. De acordo com o relatório, as dificuldades no acesso aos serviços de identificação, educação e trabalho influenciam também no acesso aos serviços de saúde, exemplificando que, “os indocumentados não procuram os serviços de saúde por temor a represálias”.

“No caso de obter a identificação, a fraca qualidade do cartão de identificação de refugiado, juntamente com uma tendência a atitudes discriminatórias, aumentada na sociedade angolana, dificultam também o acesso destes grupos aos cuidados de saúde”, frisa o relatório.

“Os grupos populacionais aqui referidos não estão bem informados sobre temas relacionados com o VIH/SIDA e outras doenças de transmissão sexual, bem como dos seus direitos, particularmente o direito à saúde”, acrescenta o documento.

Angola regista anualmente 28 mil novas infeções e 13 mil mortes por VIH/SIDA, apesar dos esforços das autoridades sanitárias para o combate à doença, tendo o índice de incidência aumentado nos últimos anos, passando dos 4,2%, em 2015, para os 6% atuais.

A província angolana do Cunene lidera a taxa de incidência, com 6% das novas infeções, seguindo-se o Cuando Cubango (5%) e o Moxico (4%), sendo o Zaire a região com a menor taxa de incidência (0,5%).

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