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Domingo, 01 Setembro 2024 20:57

Sérgio Raimundo questiona se Dino Matrosse hoje já é traidor após ataques contra antigo dirigente do MPLA

Dino Matrosse, veterano e antigo Secretário-geral do MPLA tem sofrido ataques de supostas milícias de João Lourenço, por este estar a ser associado à possibilidade de coordenar a candidatura de Fernando da Piedade Dias dos Santos (Nandó), para o congresso ordinário do MPLA, em 2026, que vai eleger o novo presidente do partido e demais orgãos internos.

Desde já, por força dos estatutos do Partido em causa, nesse mesmo Congresso Ordinário, o actual presidente, João Lourenço, estará impedido de concorrer à sua sucessão.

Sérgio Raimundo, renomado advogado e antigo militante do MPLA, em reação aos alegados ataques e acusações dirigidos a Dino Matrosse questionou: “Dino Matrosse foi nosso chefe na direção política, foi ele que recebeu João Lourenço em 1982, formou e lhe catapultou a comissário político no moxico. Agora hoje é traidor?”,

Porque um partido que se diz democrata e que nos seus estatutos contempla as multiplas candidaturas pensa que coordenar ou apoiar uma candidatura de alguém do mesmo partido é ser traidor? Se é assim então porque temos as multiplass candidaturas estabelecidas nos estatutos?”, questionou.

Este mesmo grupo do MPLA, segundo Raimundo, também não teve nenhuma estratégia, não fez estudos nenhuns. “Aquilo para mim resultou de uma... foi mais uma questão emocional e de luta interna dentro do próprio MPLA. Aliás, eu sempre disse, e assumo isso publicamente, que em Angola não há nenhum combate à corrupção.”

De acordo com o advogado, o que se assiste em Angola é uma luta de dois grupos dentro do próprio MPLA. Constituído o primeiro grupo por aqueles que estavam no poder e hoje já não estão lá. E o segundo grupo por aqueles que chegaram hoje ao poder entre aspas.

“Eu coloco aspas porque sempre estiveram todos lá. Sempre estiveram lá. Sim, só que este segundo grupo entende que comeu menos do que os do primeiro grupo.

Estão a usar o sistema judicial para justamente retirar, desapulsar os do primeiro grupo dos seus bens, entre aspas, para transferi-los de forma legítima, entre aspas, para a esfera jurídica da nova elite. E portanto, esta é para mim a grande motivação desse tipo de combate à corrupção. Se nós fôssemos para uma discussão inclusiva, como eu pensava, sugeri, e penso que ainda vamos a tempo de fazer isso, a solução não seria este caminho que estamos a trilhar”, avançou.

Defende que a solução seria justamente aquele caminho que muitos apontam, inclusive a própria UNITA. Já veio publicamente, quando surgiu aquele caso do Zeno, algum debate na Zimbo, que comentava o Nelito Ekuikui, acho que o Milonga Bernardo, e que o próprio Nelito Ekuikui alertava a direção do MPLA a combater a corrupção sim, mas por essa via não vai sobrar ninguém no MPLA para contar a história. E a própria UNITA sugeria que era preciso dialogarmos e encontrar uma plataforma comum que não promovesse a instabilidade da própria economia e da própria situação política do país.

“Aliás, eu citei aqui o general Numa, que é considerado uma das vozes mais radicais da UNITA, que já naquela altura, na entrevista que deu ao Vanguarda, defendia que combater a corrupção sim, mas não da forma como estava a ser feita. E ele também sugeria que era necessário um debate amplo e inclusivo. E aí, provavelmente, todos nós compreenderíamos que esta ideia de combater uns e deixar outros não iria resolver o problema”, lembrou.

Assim, ressaltou, como a ideia de matar todos, também não estaríamos a resolver o problema. “Mas que a solução seria, provavelmente, a mais racional era negociar com essas pessoas, depois de identificar o que cada um tinha, porque também ir negociar às escuras é enganar-se a si próprio, porque depois as pessoas poderiam não ser honestas e dizer eu não tenho nada, ou só tenho isto, não tenho aquilo, não. O Estado tem órgãos com capacidade de fazer um levantamento desses bens”.

“E chegar aqui e dizer assim, senhor Sérgio Raimundo, você tem 30 milhões de dólares, você vai pôr aqui 15 milhões de dólares. Criar um fundo, um fundo de apoio, sei lá, econômico ou social, para que estes valores sejam direcionados às esferas da vida da sociedade que tocam mais a vida diária do cidadão, como é a área social, a saúde, a educação, saneamento básico, água, luz, etc. E aí as pessoas iam sentir o resultado do combate à corrupção”, sugeriu, Sérgio Raimundo.

Porque no seu entender, combater a corrupção não é apreender bens, não é apreender pessoas, isso é atacar os efeitos da corrupção. “Porque quando você prende ou apreende bens ou prende as pessoas, é porque o crime está consumado. Nós temos que investir na prevenção da corrupção, para que não haja corrupção.

E para isso é preciso atacar as causas, as bases. E é preciso ouvir todos. As igrejas, as escolas, a sociedade civil, todas as forças vivas da nação”, apelou.

Nestes termos, assegurou com plena certeza que um diálogo inclusivo e profundo seria a melhor solução. Porque da forma que “nós estamos a combater a corrupção, nós estamos a guiar a solução do problema. Porque quando essas pessoas terminarem os seus mandatos, nós vamos assistir uma situação quase parecida àquela que nós estamos a assistir”.

Sérgio Raimundo acredita, que seja quem for o próximo líder do país, vindo dentro do próprio MPLA ou fora do MPLA, jamais seguirá este caminho, porque este é o caminho do suicídio político. “E a prova é que nós estamos a viver hoje. O presidente João Lourenço está praticamente em maus lençóis.

Sem querer sair do tema, essa reunião com as bases é justamente um final porque o presidente acordou que não tem as bases do seu lado”, finalizou.

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