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Sábado, 10 Abril 2021 17:44

O que pretende o MPLA ao resgatar políticos influentes?

Ativistas dizem que João Lourenço "ilude-se" ao pensar que será reeleito por "pescar" figuras com imagens gastas. A indicação de políticos da era JES para altos cargos do MPLA é vista como um sinal de perda popularidade.

Após terem sido afastados da liderança do Movimento pela Libertação de Angola (MPLA) depois de João Lourenço assumir a presidência do partido que governa Angola, Rui Falcão, ex-governador de Benguela, voltou ao Bureau Político para assumir as funções secretário para Informação. Virgílio Fontes Pereira, que já foi ministro da Administração do Território, volta a ocupar o cargo de presidente do Grupo Parlamentar do MPLA.

Também volta em grande, para o topo do partido dos camaradas, o deputado Bento Francisco Bento, o Bento Bento. O político que governou Luanda até 2016, volta a ser o líder do Comité Provincial do MPLA em Luanda, a maior praça eleitoral de Angola.

Este mês, o partido realiza uma conferência extraordinária para confirmar a eleição de Bento Bento ao cargo de primeiro secretário do "M" na capital angolana, em substituição a Joana Lina, que vai se dedicar somente ao cargo de governadora de Luanda - província que vive uma crise de saneamento básico há quase três meses.

A decisão saiu da quinta sessão ordinária do Comité Central, orientada pelo presidente do MPLA, João Lourenço, realizada na passada terça-feira (06.04), em Luanda.

Conhecido como grande mobilizador das massas, Bento Bento dirigiu o MPLA na província de Luanda, entre 2007 e 2016. Neste ano pré-eleitoral, foi "repescado" para o Bureau Político.

O que vai mudar no cenário político angolano?
O regresso destas figuras é um assunto político da semana em Angola. Nas redes sociais, as opiniões divergem quanto à produtividade destas figuras. Afinal, o que vai mudar na política angolana com a "ressurreição" dos "dinossauros políticos"? O analista político Wilson Calunga diz que a nova tática do "xadrezista" JLo vai obrigar a oposição a repensar a sua estratégia.

"Tendo em conta que Luanda é a maior praça eleitoral, é sempre importante atualizar as estratégias políticas para se adequar melhor com o tempo e com quem se concorre. A UNITA, por exemplo, teve situações menos boas no seu comité provincial nos últimos tempos, e esse regresso certamente, vai mudar a estratégia política da oposição em Luanda", diz o analista angolano em entrevista à DW em Luanda.

Para Wilson Calunga, visto que a oposição está cada vez mais ativa e que vai ganhando mais apoio da sociedade civil, o país poderá registar mais tensão na disputa política porque o partido no poder não vai querer perder terreno.

"Estas alterações ao nível do secretariado provincial vêm mais adequar as estratégias com o tempo que se vive. Estamos num cenário político onde se vê mais atuação da oposição, é importante reenquadrar as estratégias do partido com os militantes com experiência suficiente, com os militantes que têm consigo, capacidade de maior mobilização e maior respostas ao nível do cenário político que se vive no país".

"Contexto atual tem novos desafios"

O ativista angolano Hitler Samussuco, promotor de manifestações contra a governação do MPLA, diz que a atualização do Bureau Político com estas figuras é prova de que o partido no poder e o seu líder perderam a popularidade face à situação atual do país. Samussuco afirma que os veteranos do MPLA não estão em forma para reconquistar o eleitor que está "desiludido" com o regime.

"Rui falcão saiu da província de Benguela sob pressão, Virgílio Fontes Pereira não tem mais nada para dar, é muito mais velho, já está na terceira idade. Bento Bento também ficou ultrapassado com o tempo. Se João Lourenço estiver a pensar ser desta forma que será reeleito, estará a iludir-se porque o atual contexto tem novos desafios", afirma o ativista angolano à DW.

Para Samussuco, "há um registo de crescimento por parte da oposição, as pessoas sentem-se mais livre em falar da oposição que no passado". "Então", prossegue o ativista, "essas mexidas só representam um reconhecimento do esvaziamento do próprio regime por parte de João Lourenço e o reconhecimento da impossibilidade eco índice elevado da rejeição da sua candidatura".

UNITA não teme "mexidas" no MPLA

O retorno do grande mobilizador do MPLA em Luanda não intimida a oposição, segundo o líder da UNITA na capital angolana. Nelito Ekuikui afirma que as mexidas são alterações normais e que "são figuras bem conhecidas, que já deram o seu melhor na política. A sua entrada não constitui novidade e tão pouco ameaça".

Ekuikui diz que "a indicação do deputado Bento Bento para primeiro secretário do MPLA em Luanda, enquadro-a numa perspetiva normal".

"Naturalmente visa trazer alguma dinâmica ao nível das estruturas de base do MPLA, também considero uma alteração normal, e não vai mudar absolutamente, nada. Não vai mudar o sentido do voto tão pouco a simpatia que os eleitores têm pela UNITA. Portanto, é uma alteração normal. Mas esperemos 2022 para o julgamento final", afirma Nelito Ekuikui. DW

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