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Sexta, 30 Outubro 2020 14:34

Líder da UNITA: João Lourenço tem medo do povo

Embora não tenha merecido o mesmo destaque na comunicação pública, também decorreu ontem, a II Reunião Ordinária da Comissão Política, o mais importante órgão deliberativo da UNITA, que reúne anualmente no intervalo dos Congressos, devendo encerra hoje.

Não tem sido, por enquanto, nossa prática a divulgação, neste espaço, de discursos ou outro tipo de informação partidária. Mas, tendo em conta o momento e porque o fizemos primeiro em relação ao MPLA, trazemos também à estampa, o discurso proferido pelo presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior. Tire as suas ilações:

“Esta Reunião tem lugar num período marcante da vida do nosso país, numa semana de grande agitação social e política, marcada pela manifestação do dia 24 de Outubro. Angola testemunhou a saída à rua de organizações da sociedade, especialmente jovens empurrados pelo sofrimento e pela ausência de esperança, empurrados por mil promessas incumpridas, aos quais se juntaram cidadãos de diversas proveniências.

Estamos a ouvir as mais altas instancias do país afirmarem que estes jovens não têm pensamento próprio, não lhes é reconhecida a capacidade de terem ideais e de não serem capazes de perseguirem causas próprias! Para quem governa este país, a população que sai à rua e se manifesta, os jovens que têm a coragem de lutar por melhores condições de vida, ou de exigir um calendário para a realização das autarquias, só podem ter vínculo à UNITA!

É interessante atribuírem à UNITA a convicção de lutar pelo que se acredita. É interessante reconhecer a defesa de causas à UNITA. Mas é preciso reconhecer que o angolano hoje está bem informado! Cresceu. Quem nos governa desconhece em absoluto as convicções e as razões da juventude, ou está convencido que pode manipular toda a gente! Aos angolanos, alertamos: não se deixe manipular!

A juventude maturou, cresceu e todos nós devemos estar preparados para reconhecer-lhes capacidade de optar, de lutar, de perseguir causas em que acreditam, ou de protestarem porque vivem cansados de tanta desorientação governativa, cansados da extrema miséria em que a maioria vive.

Fiquei com a certeza ao ouvir o Presidente do MPLA que tem medo do povo, que vai demonstrando saber ler e posicionar-se em defesa do seu interesse.

Porque será que decorridos todos estes anos de Paz, não se construíram as bases de uma Nação, Pátria Mãe de todos nós? Porque será que 18 anos depois da Paz ainda ouvimos o mais alto magistrado no papel de Presidente do seu Partido, dirigir um discurso de exclusão, de inimizade, um discurso não construtivo? Analisado ao pormenor aquele discurso indica também uma grande impreparação em lidar com uma oposição que lhe diga que as leis não são para serem geradas por conveniência e muito menos para limitar direitos constitucionalmente garantidos.

Nós temos insistentemente apelado ao diálogo e a construção de bases sólidas e seguras de uma Angola reconciliada, inclusiva e moderna. Ninguém tenha dúvidas que para se edificar essa grande obra, nós teremos de abraçar as tão faladas reformas e a revisão da constituição. O MPLA construi-se leis inexistentes em democracias funcionais. Retiraram aos angolanos a condição de elegerem directamente o Presidente da República; na CNE têm domínio absoluto da administração eleitoral, garantindo sempre os resultados de sua conveniência e nós estamos a dizer que precisamos de abraçar a lei modelo eleitoral aprovada pelo SADC, de que fazemos parte! O Presidente do MPLA não gosta de ouvir dizer que está a fazer uso e abuso da comunicação social pública e daquela que por consequência das anexações passaram a ser geridas por gestor público nomeado. Hoje não há qualquer respeito pela pluralidade , pelo contraditório, sendo que batemos no fundo da violação de tudo o que é ético e deontológico na comunicação, que se tornou uma completa instrumentalidade do regime. São uma vergonha os conteúdos informativos das televisões, da RNA, pagos com o dinheiro de todos nós, contribuintes.

O regime anulou as eleições autárquicas, após inúmeras intervenções vinculativas dos seus múltiplos titulares. E hoje ninguém conhece um horizonte temporal de compromisso. Não há um qualquer calendário que indique aos angolanos para onde estamos a caminhar! Tudo está dependente dos interesses de uma pequena elite que mantém o país refém dos seus vícios e dos interesses do seu partido.

E nós não temos qualquer duvida. Teremos de abraçar o diálogo e a concertação. Reparem, eu não disse diálogo e negociação, mas sim diálogo e concertação.

Eu sonho com um dia não muito distante, em que os homens se abracem de forma genuína e abatam os muros partidários e olhem-se como angolanos; que se garanta a cada um, ser um cidadão igual , sem ameaças, sem ódios!

A pandemia da Covid-19 veio tão-somente destapar as enormes fragilidades da governação. Governar é Programar, programar é planificar, planificar é organizar e organizar é prever; prever seria ter a percepção que o petróleo é um recurso não renovável e apostar ou investir unicamente nesse recurso como fonte de receita para um País, mais a corrupção que gangrenou as mentes dos governantes, haveríamos de chegar a este nível a que está relegada Angola, cuja solução é estender a mão a mendicidade do FMI e aceitar todas as imposições que o FMI e demais doadores condicionam as tranches de seus empréstimos.

Decorridos 3 anos da actual legislatura, Angola ficou mais pobre porque a vida do angolano agravou-se cada vez mais em todos os sectores sociais.

A perspectiva da construção de uma Nação assenta no seu capital humano e na forma como esse deve ser moldado para responder aos desafios, não só do presente mas sobretudo os do futuro. Assim foram feitas as Nações que hoje constituem referência no mosaico mundial. Essas Nações tiveram a sorte de ter a sua frente e em determinado momento da história, homens excepcionais que transformaram os recursos disponíveis em factor de desenvolvimento. Tal desiderato, passou necessariamente pela formação dos homens e mulheres jovens, com programas escolares e conteúdos técnico-científicos capazes de responder as necessidades dos seus países.

Um intelectual, deve ser sobretudo um homem livre, deve constituir massa crítica para ajudar e participar na governação do País e estar ao nível da classe intelectual mundial. Urge investir fortemente na educação criando soluções viáveis para a recuperação sustentável e duradoura do país. Promover “bajus” não garante o futuro!

Os erros crassos e repetidos que o actual Executivo tem cometido desde o passado recente até hoje, seriam evitados se soubessem escutar outras franjas da sociedade fora do círculo partidário por via de um debate profundo, aberto, aturado e aceitar opiniões de uma importante camada da sociedade civil que tem elaborado estudos científicos de extrema importância, capazes de tirar Angola desse marasmo total em que nos encontramos, neste país partidário!

Angola e os angolanos têm assistido ao desfilar de programas como o PIIM, PAC, PRODESI, KWENDA, iguais aos tristemente célebres PAPE, PAPAGRO, PAPAROCAS, KIKUYA, etc.

Estes planos todos, têm sido simplesmente, mais uma janelinha para o rombo do nosso dinheiro” e o “filme continua” tal como a luta continua entre o antigo e o novo grupo dentro da mesma família política.

É devido a essas más políticas públicas, que os angolanos se manifestam por dias melhores.

Se realmente o Partido Estado concordar que o mais importante é resolver os problemas do povo, as autarquias são sim uma obrigatoriedade vital para a resolução dos problemas do povo. Continuar a planificar, a decidir, a orientar e fiscalizar tudo à partir de Luanda, como Capital do poder centralizado mas que não passa de uma outra Província cujas realidades são especificamente diferentes, é alhear-se dos reais problemas do povo e todos os erros de análises e acções, morrem solteiras por não se poder responsabilizar ninguém pelos erros dos administradores locais por falta de uma administração local de jure, fruto do poder autárquico.

Um governo patriótico, com vocação nacional, nunca olharia para a implementação das autarquias com antipatia, aliás, para um executivo sério, veria nelas um poder complementar que o ajudaria a resolver os muitos desafios do país.

Denuncio aqui o perverso agitar de fantasmas, para restringir as liberdades, para criarem medo às populações e restringirem a sua capacidade de optar. Angola a regredir! Digamos basta a esta desformatação. Deixemos os tempos do trungungu, da sociedade policiada, que todos os dias vemos renascer! Não são estes os caminhos que nos levarão ao desenvolvimento.

Hoje, não há respeito pela pluralidade, pelo contraditório, sendo que batemos no fundo da violação de tudo o que é ético e deontológico na comunicação, que se tornou uma completa instrumentalidade do regime. São uma vergonha os conteúdos informativos das televisões, da RNA, pagos com o dinheiro de todos nós, contribuintes.

Nós percebemos que o MPLA está desesperadamente à procura de um catalisador de unidade interna. Esse catalisador è a promoção da violência.

Nós somos pela Paz. Dizemos não à violência. Dizemos sim ao Estado Democrático e de Direito. Não aos monopólios. Sim ao pluralismo na informação.

Para terminar, dizer que sabemos que o tribunal está a receber ordens superiores e pressão dos agentes da segurança do estado, que têm permanecido na sala. Aqueles julgamentos estão a construir mártires. Nós aconselhamos vivamente a libertarem todos os jovens presos. Eles são os filhos desta sociedade que não lhes dá esperança, nem emprego e nem segurança!

Tirem-nos da cadeia e levem-nos para a escola. Tenho a certeza que enveredar pelo discurso truculento, arrogante, terá o efeito perverso de incitar de novo a uma nova e desnecessária onda de violência.

Sim ao diálogo, não à violência”.

Por Ramiro Aleixo

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