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Terça, 16 Junho 2015 14:06

Governador do BNA explica desvalorização do kwanza com mercados

O governador do Banco Nacional de Angola (BNA), José Pedro de Morais Júnior, afastou hoje um cenário de forte e repentina desvalorização da moeda nacional, justificando as desvalorizações recentes, face ao dólar, com as flutuações do mercado.

O responsável falava aos jornalistas à margem da apresentação, em Luanda, de um projeto de literacia financeira no sistema de ensino angolano, tendo defendido que "a primeira missão" do banco central "não é defender a todo o custo a paridade do kwanza", mas sim "provocar o ajuste da economia e criar condições" para garantir as metas de crescimento.

Em causa está a atual crise cambial que afeta o país, devido à quebra nas receitas com a exportação de petróleo, tendo o kwanza desvalorizado em poucos dias, já este mês, mais de 6%, face ao dólar norte-americano, mas com José Pedro de Morais Júnior a não prever, para já, uma tendência.

"O mercado é que vai ditar", disse o governador, questionado pelos jornalistas.

Recordou ainda que o atual mercado cambial funciona com base em taxas flutuantes "influenciadas pelas oscilações das pressões da oferta e da procura", neste momento agravadas pela forte necessidade de divisas.

"Mas estamos a desenvolver mecanismos para provocar o ajuste. Não só no mercado cambial, mas também no mercado monetário", disse ainda.

A moeda angolana ultrapassou na segunda-feira, em termos de taxa oficial de câmbio do BNA, os 118,9 kwanzas (89 cêntimos de euro) por cada dólar norte-americano, refletindo a desvalorização de mais de 6,6% desde 04 de junho.

A cotação oficial está ainda distante dos preços praticados no mercado informal, a única solução face às dificuldades dos clientes em acederem a divisas junto dos bancos comerciais. Na rua, mas também nas casas de câmbio, a venda (aos clientes) continua acima dos 180 kwanzas por cada dólar.

O banco central anunciou a 28 de maio a intenção de "descomprimir" a crise cambial no país, devido à crise do petróleo, que desde outubro fez reduzir a entrada de divisas no país, quando então um dólar valia menos de 100 kwanzas.

O Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola defende, no seu relatório económico anual uma desvalorização imediata até 20% na moeda nacional, face ao dólar, para travar a especulação no mercado paralelo.

O documento, apresentado no passado dia 11, é uma das referências do plano económico em Angola e analisa, entre outros assuntos, as consequências da quebra da cotação internacional do crude.

Segundo disse à Lusa o diretor do CEIC e autor do estudo, o economista e professor universitário Manuel Alves da Rocha, foi feita uma "aproximação ao valor necessário para a desvalorização do kwanza, através de metodologias consagradas".

"A conclusão é que, num cenário ótimo de tentar travar a fuga do mercado paralelo, a desvalorização teria que tocar os 20%. Num cenário mais 'soft' e gradualista a desvalorização tocava 10 a 15%", explicou Manuel Alves da Rocha.

Questionado pela Lusa, o governador do BNA afastou para já este cenário de desvalorização repentina.

"Nós temos no mercado cambial mecanismos perfeitamente estabilizados, o nosso departamento de mercados tem realizado duas a três sessões de leilões por semana e os movimentos dos operadores económicos têm sido consistentes com um determinado historial nesse mercado. Não me parece que haja mecanismos bruscos que possam ser antecipados", disse José Pedro de Morais Júnior.

Lusa