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Terça, 14 Abril 2020 17:26

Covid-19: Intelectuais africanos pedem que saúde seja vista como “bem público essencial”

Mais de 80 intelectuais africanos ou da diáspora apelaram hoje a chefes de Estado do continente para que repensem a saúde como “um bem público essencial” e para que aproveitem “este momento de crise” para “rever as políticas públicas”.

Segundo os signatários, a pandemia de covid-19, provocada pelo novo coronavírus, expõe as fragilidades até aqui ignoradas pelas classes médias e ricas do continente.

“A pandemia de covid-19 poderá minar as fundações dos Estados e das administrações africanas, cujos profundos fracassos têm sido ignorados há demasiado tempo pela maioria dos dirigentes do continente”, referiu a carta assinada por uma lista de personalidades académicas, políticas e económicas.

Na missiva, os autores – entre os quais se encontra o Nobel da Literatura de 1986, Wole Soyinka – salientaram que fatores como “o subinvestimento em saúde pública e investigação fundamental, a insegurança alimentar, o desperdício das finanças públicas, a priorização de infraestruturas rodoviárias, energéticas e aeroportuárias em detrimento do bem-estar humano” são alguns dos fatores que agora estão a ser agravados pela pandemia.

Os intelectuais consideraram que os governos africanos têm assumido o modelo de confinamento brutal às suas populações, “frequentemente pautado, quando não é respeitado, pela violência policial”.

Para os signatários, “não se trata de uma oposição à segurança económica e sanitária” em África, mas sim de “insistir na necessidade de os governos africanos terem em conta as condições crónicas de precariedade em que vive a maioria da população”.

As personalidades que assinaram a carta consideraram que o estado de urgência nos vários países “não pode nem deve ser um modo de governação”.

“Devemos aproveitar este momento de crise grave como uma oportunidade para rever as políticas públicas, em especial para garantir que elas funcionam a favor das populações africanas e em conformidade com as prioridades” do continente, defenderam.

Entre os mais de 80 signatários encontram-se a antiga primeira-ministra de São Tomé e Príncipe, Maria das Neves de Sousa, a historiadora e ex-ministra da Cultura de Angola, Rosa Cruz e Silva, além dos académicos e investigadores lusófonos Lourenço do Rosário, Bruno Sena Martins, Cláudio Alves Furtado, José Luís Cabaço, Narciso Matos, Inocência Mata, Iolanda Évora, Rita Chaves, Iva Cabral, Alain Kaly e Carlos Castel-Branco

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 120 mil mortos e infetou mais de 1,9 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Dos casos de infeção, cerca de 402 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

O número de mortes provocadas pela covid-19 em África ultrapassou hoje as 800 com mais de 15 mil casos registados em 52 países, de acordo com a mais recente atualização dos dados da pandemia no continente.

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