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Sábado, 23 Mai 2020 12:31

Angola admite entregar petróleo à China para pagar dívidas

Governo angolano poderá vir a negociar a entrega direta de carregamentos de petróleo no alto mar à China para amortizar parte da dívida de 22 mil milhões de dólares. Mas recusa a cedência de ativos estratégico como está a acontecer noutros países africanos igualmente devedores do Estado chinês

Angola admite vir a negociar a entrega à China de carregamentos de petróleo no alto mar na posse de traders que, devido a paralização da economia mundial provocada pela pandemia da covid-19, não conseguem colocar no mercado, soube o Expresso junto de uma fonte da Sonangol. Com esta operação, as autoridades angolanas pretendem antecipar junto de Pequim a amortização de parte de uma dívida de 22 mil milhões de dólares.

Para além da gradual liquidação do empréstimo chinês, o gesto serve também de alívio à pressão que, nos últimos tempos, tem estado a ser exercida sobre Angola pelo governo e entidades de bancárias chinesas, nomeadamente o Banco de Desenvolvimento da China, o maior credor. “Precisamos de lhes dar sinais claros de seriedade”, disse fonte governamental. “Será uma negociação entre amigos com respeito mútuo”, assegurou ao jornal “Valor”, o embaixador da China em Angola, Gong Tao.

Com esta decisão, Angola satisfaz uma exigência considerada inegociável para credores chineses que “não estão dispostos a abrir mão do petróleo como moeda de pagamento da dívida”.

Apesar do aperto financeiro que vive a economia, as autoridades angolanas garantem estar afastado qualquer risco da China poder vir a apoderar-se de alguns dos seus ativos estratégicos, contrariamente ao que está a acontecer com outros países africanos como o Quénia, a Zâmbia e a República Democrática do Congo.

“O nível de incumprimento destes países nada tem a ver com o nosso que, para além de não haver da contraparte nenhuma exigência dessa envergadura, assegura o petróleo como colateral para o maior banco financiador de Angola”, disse ao Expresso fonte do Ministério das Finanças.

Mas, se Angola prepara-se para tranquilizar os credores chineses, já não consegue contornar e muito menos travar os efeitos do choque pandémico na atividade das sondas petrolíferas estacionadas ao largo da sua costa marítima.

Confrontadas com restrições de mobilidade e com a redução da produção mundial de petróleo imposta pela OPEP, algumas das maiores companhias petrolíferas a operar em Angola viram suspensos diversos contratos adjudicados às suas sondas.

Com este rude golpe nos seus planos, multinacionais como a Chevron e a Total decidiram retirar as sondas de Angola transferindo-as provisoriamente para a Namíbia. Para esta decisão terão concorrido também os custos elevados cobrados por Angola para a manutenção das sondas petrolíferas no seu espaço marítimo.

“Nesta fase é natural que as companhias petrolíferas prefiram estacionar as suas sondas na Namíbia onde poupam anualmente mais de 1 200 mil dólares, mas esta é uma situação que já nos está a levar a reaquacionar a problemática do preço dos combustíveis em Angola para podermos concorrer com custos mais baixos”, disse fonte da petrolífera angolana.

REFORÇO DO INVESTIMENTO NA REFINARIA DE CABINDA

Dependente das importações de derivados de petróleo, as autoridades angolanas viram-se agora para Cabinda onde, contra todas as contrariedades do mercado, a Gemcorp – um Fundo de Investimento baseado em Londres - está envolvida, desde Outubro do ano passado, na construção da primeira refinaria em Angola depois da Independência.

Liderada pela empreiteira norte-americana VFueel LLC, para a construção desta obra concorrem também o consórcio formado pela Mota-Engil e os libaneses da Lambert e a brasileira Odebrechet. “A Gmecorp tem dinheiro, tem bons parceiros e tem demonstrado seriedade”, disse ao Expresso o Ministro dos Petróleos, Diamantino Azevedo.

Com previsão de produção de 30 mil barris/dia em finais de 2021, a Gmecorp acaba de adicionar ao projeto um sistema de pepilene e de monoboia para acomodar a atracação de navios de grande dimensão que vão assegurar o abastecimento do mercado interno e a exportação da produção para os países da região.

“Com este sistema, que estará concluído em julho do próximo ano, foram adicionados ao investimento inicial mais de 30 milhões de dólares”, revelou fonte ligada à construção da refinaria, que em 2023 começará a produzir 60 mil barris/dia. EXPRESSO

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