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Quarta, 29 Agosto 2018 20:41

Lesados do “Build Angola” recorrem à PGR para reaver dinheiro ou casas

Os lesados do projeto habitacional "Build Angola", que resultou em burla, apresentaram hoje um processo civil em tribunal contra os promotores daquele empreendimento na tentativa de reaver os 230 milhões de dólares (196,5 milhões de euros) investidos.

Segundo o coordenador da "Comissão dos Lesados pela Build Angola", Hélio Silvestre, o processo deu entrada na Procuradoria Geral da República (PGR), em que 237 compradores, metade deles com o pagamento feito na totalidade, apresentaram outros tantos contratos de aquisição de residências e lojas, para que o órgão de justiça acuse os promotores de burla e que o tribunal os responsabilize civilmente.

A burla afeta 1.130 pessoas, 15 delas já falecidas, interessadas no litígio, que começou a ser forjado em 2007, envolvendo empreendedores brasileiros e angolanos.

A pretensão dos lesados é receber as casas ou recuperar o dinheiro investido para obtenção de moradias.

Hélio Silvestre indicou que a PGR, após a receção dos documentos, informou que já constituiu uma comissão para trabalhar num caso que renasceu após 10 anos adormecido e sem qualquer esperança.

Entre os acusados por burla, estão várias empresas e cidadãos brasileiros e angolanos, ressalvou Hélio Silvestre, que, porém, se escusou a nomear.

"Há muitos angolanos envolvidos nisso e nós mencionamos os nomes das pessoas e as empresas nos documentos entregues hoje à PGR. A Procuradoria vai pronunciar-se em devido tempo sobre isso", disse o lesado.

Embora o processo só agora tenha sido oficialmente formalizado junto da PGR, oito anos depois de várias tentativas sem respostas, o Hélio Silvestre disse ser desejo dos lesados que recebam as casas por eles compradas.

"Esta é a solução que esperamos que a PGR encontre", acentuou, acrescentando que, se esta possibilidade for posta de lado, estão abertos a negociações.

A entrega oficial do processo acontece um mês depois de a PGR ter tornado público um comunicado, em que anunciou que decidiu instaurar ações judiciais em defesa dos cidadãos que fizeram o pagamento total ou parcial de moradias nos projetos "Bem Morar", "Quintas do Rio Bengo", "Copacabana Palace", "Nossa Vila", "The One" e "Vila Gonga", sob responsabilidade da imobiliária brasileira "Build".

A intervenção da PGR deve-se ao facto de as moradias não terem sido edificadas ou, tendo ocorrido, não foram legalizadas a favor dos promitentes compradores.

Os imóveis, segundo o comunicado da PGR, foram publicitados e vendidos ainda em maqueta, no âmbito de vários projetos imobiliários, cujos promotores são cidadãos brasileiros, que se encontram em fuga.

Trata-se de António Paulo de Azevedo Sodré, Paulo Henriques Freitas Marinho, João Gualberto Conrado Júnior, Ricardo Boer Bemete, Rodrigo António Iazi e Manuel Sarina Júnior, que, em Angola, criaram a "Build Angola", que, na verdade, nunca existiu, segundo a PGR.

O documento explica que, em 2012, os cidadãos lesados apresentaram uma queixa-crime à PGR, que, por esta razão, instaurou 29 processos por ter notado indícios da prática de crime de associação de malfeitores, burla por defraudação e branqueamento de capitais.

No entanto, acrescentou a PGR, as infrações denunciadas foram amnistiadas pela Lei nº 11/2016 de 12 de agosto, levando ao arquivamento dos autos, sem prejuízo da eventual responsabilidade civil por perdas e danos.

A PGR, nos termos da Constituição angolana, decidiu, porém, instaurar ações civis em defesa dos interesses coletivos e difusos em causa, lê-se no documento.

O projeto da construtora brasileira foi profusamente publicitado em Angola, tendo o brasileiro Pelé, o "Rei do Futebol", dado rosto à campanha publicitária.

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