Quinta, 09 de Mai de 2024
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Sábado, 27 Abril 2024 12:36

‘Elefante na sala’ do MPLA

Na segunda semana deste mês, uma interpelação a Filipe Nyusi, numa reunião partidária, agitou o espaço mediático e político, em Moçambique com repercussões em Angola.

Óscar Monteiro, um proeminente militante e dirigente da FRELIMO, declarou com firmeza que havia um “elefante na sala”. A expressão, como se sabe, traduz uma situação incómoda que todos conhecem e reconhecem mas que ninguém ousa enfrentar.

Óscar Monteiro decidiu fazer-se de excepção e deu o ‘peito às balas’. Recorreu ao espírito dos seus ancestrais goeses para acusar os dirigentes da FRELIMO de terem enfiado a cabeça na areia, ao jeito das avestruzes. Com as presidenciais marcadas para Outubro deste ano, Monteiro disse na cara de Nyusi que já não restava tempo para que a sucessão na FRELIMO se mantivesse um tabu.

Conhecido pela sua relação de graves conflitos com a língua portuguesa, Nyusi simulou por segundos ter ouvido tudo em chinês, antes de confirmar que tinha percebido tudo. Não foi para menos. O ponto de ordem de Monteiro acendeu o rastilho que levou ao tapete as aspirações do inquilino do ‘Palácio da Ponta Vermelha’ de um terceiro mandato. Mais do que de fôlego, as aspirações reprimidas na FRELIMO insuflaram-se de liberdade e a afirmação de novas candidaturas tornou-se um facto. É o que a generalidade da sociedade moçambicana esperava. As palavras de Óscar Monteiro foram, aliás, de tal forma impactantes que o próprio pediu previamente a Nyusi que ambos mantivessem a consideração mútua de sempre.

Comparando-se com o contexto da FRELIMO, o MPLA até pode fingir que ainda falta tempo para o debate interno que a sociedade angolana espera. As eleições gerais estão fixadas para 2027 e, pelo meio, em 2026, o MPLA ainda deve realizar o seu congresso ordinário para definir a liderança que vai à luta contra a oposição útil.

Excluindo essa diferença temporal em termos de calendários eleitorais, o MPLA vive o mesmo drama que a FRELIMO suportou até há relativamente pouco tempo. Por cá, também há um enorme 'elefante na sala' que muitos dirigentes do MPLA observam com um silêncio asfixiante. Pelo menos até ao momento. Não é incompreensível de todo.

João Lourenço juntou o Comité Central e o Bureau Político do MPLA, no último fim-de-semana, e o tema sobre a futura liderança do partido permaneceu engavetado. De fora, também ficou a hipótese de convocação de um congresso extraordinário, como discutido e antecipado na praça pública. Não se sabe se João Lourenço decidiu ignorar, adiar ou abandonar completamente a possibilidade, depois das revelações trazidas a público de que os estatutos não podem ser alterados num congresso extraordinário. O que se sabe, com certo grau de certeza, é que há dirigentes do MPLA dispostos a retirar o 'elefante da sala'. Se o farão antes ou apenas em 2026, só o futuro o dirá.

Até porque, para já, o tempo aparentemente joga a favor de João Lourenço. Dito de outra forma, o presidente do MPLA ainda dispõe de largos recursos para instrumentalizar o Presidente da República. Incluindo a colocação da Procuradoria-Geral da República e dos Tribunais ao seu serviço, com o propósito de condicionar qualquer um que tente confrontá-lo de forma intempestiva. Mas, claro, é tudo uma questão de tempo. Sobre se o dia de recolher o 'elefante da sala' chegará ou não, há mais certezas do que dúvidas. Valor Económico

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