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Sexta, 23 Dezembro 2016 09:56

Preço do dólar no mercado de rua de Luanda estável há dois meses

O preço para comprar um dólar nas ruas de Luanda desceu ligeiramente na última semana e já leva dois meses praticamente sem flutuações, mantendo-se à volta dos 490 kwanzas (2,83 euros).

A estabilidade no preço do mercado de rua acontece enquanto o acesso a dólares ou euros nos bancos angolanos permanece quase impossível ou com limitações.

Na habitual ronda semanal pelas ruas da capital angolana, a agência Lusa constatou hoje um agravamento da falta de moeda nacional o que, segundo as 'kinguilas' de Luanda, como são conhecidas as mulheres que se dedicam à compra e venda de divisas, um negócio ilegal, justifica a ligeira descida dos preços.

Algumas explicam mesmo que "não se faz negócio" por falta de kwanzas no mercado. Isto acontece apesar do período festivo e das habituais viagens para o estrangeiro, com a correspondente aumento de procura de divisas.

Face à falta de dólares, nacionais e estrangeiros voltam-se para o mercado de rua para comprar divisas, embora a taxas especulativas, que até já estiveram próximas dos 600 kwanzas por cada dólar em agosto e julho, depois de máximos de 630 kwanzas em junho.

A venda de cada dólar estava hoje fixa nos 480 kwanzas no bairro do São Paulo e nos 490 kwanzas no bairro dos Mártires de Kifangondo, enquanto as 'kinguilas' do Maculusso transacionavam a 490 kwanzas e na Mutamba pediam 480 kwanzas pela mesma nota.

Apesar deste período de alguma estabilidade (à volta dos 490 kwanzas), que se regista desde a primeira quinzena de outubro, o mercado paralelo continua a transacionar dólares e euros ainda muito acima do câmbio oficial, de 166 kwanzas.

A inflação também se ressente desta conjuntura e os preços a 12 meses ultrapassaram, segundo o Instituto Nacional de Estatística angolano, os 41% de aumento, até novembro.

O Banco Nacional de Angola (BNA) garantiu no início de dezembro que não prevê qualquer nova desvalorização do kwanza, face à "tendência de estabilidade" dos preços, contrariando uma recente sugestão do FMI.

"Tendo em conta a tendência de estabilidade do nível geral dos preços e consequentemente a desaceleração da taxa de inflação mensal, o BNA reafirma o seu engajamento na preservação do valor da moeda nacional, razão pela qual, não haverá desvalorização do kwanza", lê-se num documento do banco central angolano.

Angola vive desde finais de 2014 uma profunda crise financeira e económica decorrente da quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo, tendo desvalorizado o kwanza, face ao dólar, em 23,4% em 2015 e mais 18,4% ainda no primeiro semestre deste ano.

A taxa de câmbio oficial cifra-se atualmente em cerca de 166 kwanzas (93 cêntimos de euro) por cada dólar, quando antes do início da crise das receitas do petróleo, ainda em 2014, era de 100 kwanzas.

"O BNA continuará a disponibilizar as divisas de forma regular ao câmbio de 165,8 Kwanzas por um dólar dos Estados Unidos da América, não havendo necessidade dos operadores do mercado alterarem os preços dos bens e serviços", garante o banco central.

O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Angola, Ricardo Velloso, defendeu a 16 de novembro, em Luanda, após duas semanas de reuniões, anuais, com as autoridades angolanas, a necessidade de uma "flexibilidade na política cambial" angolana.

Para o economista brasileiro, em função da conjuntura angolana atual - crise provocada pela quebra nas receitas do petróleo e escassez de divisas -, são necessárias novas desvalorizações do kwanza.

"Não recomendámos um número específico e depende um pouco das políticas que dão apoio a essa política cambial mais flexível", apontou o chefe da missão do Fundo para Angola.

LUSA

 

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