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Sábado, 02 Agosto 2014 15:25

EUA-África: uma relação ameaçada devido à forte presença da China

Nos próximos dias 5 e 6 de Agosto, em Washington, ocorre a Cimeira EUA-África, para a qual estão convidados todos os chefes de Estado do continente. Ao longo dos últimos meses os norte-americanos enviaram vários sinais e recados, realçando a relevância da presença de Angola na pessoa do presidente José Eduardo dos Santos.

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, visitou recentemente Luanda para marcar o fortalecimento das relações bilaterais e a abordagem da paz e da segurança na região dos Grandes Lagos. Contudo, fontes oficiosas afirmam que a visita visou sobretudo persuadir o presidente a participar pessoalmente na cimeira.

O esforço norte-americano, fora do campo político, foi também visível, depois, na visita ao país da presidente e directora-geral da Overseas Private Investment Corporation (OPIC), instituição financeira de desenvolvimento, do governo dos EUA, que mobiliza capital privado para ajudar a resolver desafios de desenvolvimento ligados à política externa.

A visita a Luanda, posteriormente, do presidente do Ex-Im Bank dos EUA, Fred Ochberg, também não foi coincidência. Veio chamar a atenção do executivo de que os EUA procuram parcerias que podem ser analisadas no campo político e económico, em termos de vantagens e desvantagens.

Diante das incertezas sobre a presença de José Eduardo dos Santos na cimeira, os norte-americanos têm dado sinais indirectos sobre a relevância da presença do estadista angolano no evento.

Coincidência ou não, nesta semana, em vésperas da cimeira, o comandante do Africom (Comando dos Estados Unidos em África), general David Rodriguez, disse, citado na imprensa internacional, que Angola pode ser decisiva na resolução de conflitos e no combate ao terrorismo no continente.

O responsável militar admitiu que o país pode desempenhar uma missão de liderança no combate ao terrorismo na região e na resolução de vários conflitos em África, por causa das suas capacidades para mediar conflitos armados no continente.

São estes os pontos fulcrais da agenda da cimeira - a paz, a segurança e o terrorismo, e muito se tem falado sobre as razões de os EUA terem Angola como forte parceiro, no plano estritamente político, quando os temas sobre a mesa são os mencionados. Noutras questões, como a cooperação ao mais alto nível, entre Santos e Obama, o país é "retirado" da agenda norte-americana.

Fonte oficiosa adiantou ao "Expansão" que Eduardo dos Santos e George Chicoty, ministro das Relações Exteriores, só irão à cimeira caso haja alterações de última hora na pré-decisão assumida.

Entretanto, uma equipa composta de diferentes ministros foi seleccionada para se deslocar a Washington. A fonte não especifica os pelouros indicados, mas admite-se que se trate de sectores estruturantes, embora o executivo não espere grandes novidades com repercussão muito favorável para Angola.

Os EUA manifestam forte interesse na intensificação da sua relação política com África, uma geoestratégia que visa ocupar posições que, a muito longo prazo, garantem estabilidade dos seus interesses fora de seu território.

Se por um lado existe o discurso politicamente correcto de estabelecer parcerias, por outro já se vai notando um paradoxo na relação económica - da qual África não consegue retirar proveito, apesar da "abertura" do parceiro norte-americano.

Talvez por isso os africanos tenham procurado impor, nas últimas semanas, uma agenda que visa uma discussão alargada, pois querem ser ouvidos e não sentir-se relegados para a condição de meros participantes.

O QUE ESTÁ EM JOGO? Segundo o director-executivo da Câmara de Comércio EUA-Angola (USACC, na sigla inglesa), Pedro Godinho, falando ao "Expansão", o petróleo tem efectivamente um peso considerável nas relações comerciais entre os EUA e África. Num passado recente, segundo dados do Departamento de Comércio dos EUA, cerca 50% do volume de negócios dos EUA em África era fruto de trocas comerciais com três dos 54 países do continente, com realce para Nigéria e Angola.

Godinho explica que os EUA alteraram a sua estratégia de actuação em África, o que fica a dever-se a vários factores, entre os quais se destacam a consciência dos países africanos da sua vulnerabilidade económica aos choques externos.

O director-executivo da USACC não descarta um factor que preocupa os norte--americanos, que é a forte expansão da China em África, uma vez que "a expansão das áreas de influência política e económica da China em África forçou também esta mudança de paradigma dos EUA em relação à forma de fazer negócios com os países do 'continente berço'".

Trata-se de um factor, na análise do gestor, que indicia que os EUA já estão a adequar a sua estratégia de actuação para África em função das necessidades dos seus parceiros.

Assegura mesmo que a vinda a Angola de Elizabeth Litlefield e Fred Ochberg, depois da visita de John Kerry, permitiu perceber, nas declarações aos meios de comunicação social e nas conversações mantidas com a USACC, que o interesse norte-americano é sério.

Nessas conversações, ficou a saber-se que os presidentes da OPIC e do Ex-Im Bank dos EUA foram orientados pelo presidente Barack Obama para que as agências de desenvolvimento dos EUA e as estruturas federais tudo fizessem para aumentar a cooperação e o volume de negócios entre as instituições de Estado e empresas dos EUA e dos países africanos.

António Luvualu de Carvalho, analista em relações internacionais, disse ao "Expansão" que o fraco volume de exportações africanas não petrolíferas para os EUA, no quadro do AGOA, se deve às dificuldades que os países têm em modernizar as suas indústrias à dimensão das necessidades americanas.

Expansão

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