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Quarta, 06 Novembro 2013 23:02

Portugal vê Angola como "extensão do território" e exerce "interferência constante"diz analista angolano

O analista político angolano Belarmino Van-Dúnem O analista político angolano Belarmino Van-Dúnem

Portugal vê Angola como "uma extensão do território", sobre a qual exerce uma "interferência constante", o que explica "a tensão" entre os dois países", observa o analista político angolano Belarmino Van-Dúnem.

Portugal vê Angola como "uma extensão do território", sobre a qual exerce uma "interferência constante", o que explica "a tensão" entre os dois países", observa o analista político angolano Belarmino Van-Dúnem.

Em declarações à Lusa, a propósito do clima entre Portugal e Angola, Belarmino Van-Dúnem, colunista do Jornal de Angola, responsabiliza o "paradigma" político e institucional seguido por Portugal, nomeadamente pelo que o chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, designou de "cúpula" no discurso perante o Parlamento, a 15 de outubro, quando anunciou a suspensão da parceria estratégica.

"Embora oficialmente haja um discurso de aproximação, de reconhecimento da necessidade de mudança desse paradigma das relações entre os dois países, não há um trabalho interno, de comunicação, de informação por parte de Portugal, no sentido de mudar", observa Van-Dúnem, que se mostra hoje mais contundente na análise do que imediatamente a seguir ao discurso do Presidente angolano.

"Creio que da parte portuguesa há que trabalhar mais", sustenta o analista. "As relações entre os Estados têm que ser com base no respeito pela soberania", vinca, repudiando as "pressões sobre o que se passa em Angola de pessoas com peso político, com responsabilidades sociais e institucionais em Portugal".

Criticando os que "passam o tempo a preocupar-se com o que se passa em Angola, a emitir pareceres e opiniões sobre o que se passa em Angola, como se fosse uma extensão do território português", o analista diz que Portugal tem com Angola uma relação mais "sociológica" que institucional, "o que faz com que uma parte dos portugueses se sinta no direito de interferir nos assuntos internos de Angola", o que "é inaceitável".

Ora, "Angola é um país soberano, independente, não é uma extensão do território português", recorda. "Imagine que os angolanos passassem também a interferir no sistema de justiça português, sobre a forma como se está a gerir a crise, sobre a forma como os políticos se relacionam, sobre a forma como a última eleição do Presidente da República, Cavaco Silva, foi feita (...), com certeza que nenhum português ficaria satisfeito", compara.

"Os taxistas [portugueses] pensam que é Angola que está a enterrar as relações, a população em geral pensa que é Angola que fechou as portas, (...) passa-se uma mensagem, nos meios de comunicação de que os angolanos querem interferir na política portuguesa, quando é o contrário", observa Van-Dúnem, que vem a Portugal regularmente, no âmbito do doutoramento que está a terminar.

Já Angola, distingue, tem revelado "uma grande abertura" para receber portugueses. "Neste momento, a presença de cidadãos portugueses em Angola é visível a olho nu, não há um canto onde a gente vá, em dia de trabalho ou ao fim de semana, onde não encontre um português", aponta.

Porém, "quando as relações institucionais vão mal", os cidadãos e os negócios sofrem "por arrasto", porque as "facilidades" terminam -- e essa é uma das prorrogativas da parceria estratégica agora suspensa, recorda. Sem ela, os portugueses passarão a ser considerados apenas "como outros quaisquer cidadãos".

O atual clima "pode ser ultrapassado", mas algo "tem de mudar", considera Van-Dúnem. "É necessário, urgentemente, quer da parte portuguesa quer da parte angolana, encontrar uma via diplomática, uma via pacífica, para que essas relações se possam reatar, porque quem paga, no fundo, são os respetivos povos", frisa, antecipando: "As pessoas mudam e as instituições ficam e, tarde ou cedo, com certeza que esta situação será ultrapassada."

LUSA

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