Ao nível da oposição, o processo de sucessão é visto com crescente desconfiança. Entre dirigentes da CASA-CE, é comum a ideia de que a personalidade de M Vicente é apenas uma “fachada” usada por JES, cujo apego ao poder tem vindo a crescer, até ao ponto em que o actual presidente está disposto a “morrer na cadeira”.
A postura da oposição perante este processo passa por uma maior abertura a acordos partidários contra o MPLA, tendo em vista as eleições gerais de 2017. A UNITA mostra-se predisposta a concertação, moderada com outras forças políticas.
A rivalidade pessoal entre alguns dirigentes de ambos os partidos apresenta-se como o maior obstáculo a este processo de conveniência entre oposições, dado que em muitos casos se tratam de actuais dirigentes da UNITA e dissidentes do mesmo.
Dentro do MPLA, o processo de sucessão não é ainda visto como fachada a favor de M Vicente. A manter em aberto a questão estão sectores do partido que se assumem contra a figura do vice-presidente, mas também os militares. Segundo o referido memo, estes pretendem intervir no processo.
Ao veteranos do MPLA têm dificultado ou mesmo obstruído nos últimos anos propostas de JES como a cooptação de seu filho, José Filomeno dos Santos “Zenu” para o CC ou aceitação do nome de Manuel Vicente para cargo de Vice-Presidente. JES não tem ousado removê-los, optando por uma “coexistência tolerada”.
Entre os chamados “Caluandas” da direcção do MPLA, predominam veteranos do partido – um estatuto gerador de influências no próprio partido, mas alargadas à sociedade luandense por via de afinidades com famílias tradicionais e figuras referenciais das mesmas.
A solução de continuidade, mesmo nas escolhas de ministros e secretários de Estado do novo governo, é vista como habitual para o modus operandi de JES. É inclusivamente questionada a intervenção que o vice-presidente terá de facto tido na definição da composição do executivo, não sendo praticamente visível a sua influência nas escolhas.
Além de reservar para si a última palavra nos mais variados assuntos do Estado, JES tem vindo a fazer ajustamento à sua equipa ministerial, mais recentemente com o ministro da Defesa, João Lourenço, que estava afastado há anos por se ter assumido publicamente como sucessor de JES, assumiu a pasta da Defesa, e o anterior titular, Cândido Van-Dúnem, transitou para a pasta dos Antigos Combatentes e Veteranos.
JES deixa transparecer em circunstâncias a isso apropriadas da sua vida política e privada notória preocupação com a diminuta coesão interna que MPLA e o regime exibem (AM 854); a convocação de um congresso extraordinário do partido, Dez.2014, é considerada “ilustrativa” de tais preocupações.
Ultimamente, em particular desde a sua eleição, 2012, JES tem vindo a promover iniciativas de apaziguamento e/ou reaproximação a adversários internos. O espírito de concórdia e boa vontade que aparentemente pretende transmitir, poderia vir a ser prejudicado por efeito do surgimento de novas tensões e desentendimentos no partido.
A luta pela sucessão decorre num momento em que, ao nível de governo e do MPLA, cresce a percepção de que o escrutínio público, sobretudo a nível interno, está a crescer em relação à situação social.
A par das desigualdades extremas na distribuição de riqueza, pelas quais é responsabilizado o regime e directamente JES, verificam-se fenómenos de contestação através de movimentos de jovens, duramente reprimidos, que consideram esgotado o modelo institucional e a via eleitoral.
África Monitor