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Domingo, 12 Abril 2020 23:53

A implementação das reformas de Deng Xiaoping em Angola foram um fracasso

Goleman, diz que, “Temos dois cérebros, duas mentes – e dois tipos de inteligência: racional e emocional. Nosso desempenho intelectual na vida é determinado pelas duas – não é apenas o QI, mas a inteligência emocional é o factor decisivo”.

Desde logo, se nossa preocupação está voltada em questões emocionais, tudo fica vertido para o emocional, porém, se nossas preocupações estão voltadas em questões da razão tudo fica voltado a razão.

Um exemplo claro é o que se situou em Angola, o objectivo fundamental do Presidente João Lourenço era de transformar Angola numa das melhores economias de África (imitando o modelo Deng Xiaoping) — esse aspecto trata de ser uma vontade racional — porém, ao longo da trajectória, esse sonho foi substituído pelas lutas internas no seio do MPLA, a quando da luta contra corrupção, sem ter por definir o que era prioritário fazer, e as diversas maneiras de poder contornar os obstáculos e chegar aos seus verdadeiros objectivos — esse aspecto trata de ser uma vontade emocional — desde logo, o emocional (guerras no MPLA), sobrepôs – se contra razão (transpor as barreiras da crise económica e possuir dias jubiloso em termos económicos).

Dentro do presente aspecto, verifica – se que, o Excelentíssimo Sr.º Presidente da República colocou como prioridade dos seus feitos, aspectos de índole emocional, e, deixou às costas aspectos de natureza racional — ou seja, valorizou mais as guerras internas no âmago do MPLA, que os seus próprios objectivos e metas à serem cumpridas, não definiu bem as suas prioridades de acção, e, as suas metas.

Nem sequer, os seus planos, não teve plano B ou C, teve apenas um único plano, tendo falhado o plano A, não teve outra opção. Desde então, foi forçado a fazer o que estava errado. Foi colocado à tomar por norte um novo destino que não o terá ajudado à contornar os obstáculos futuros, e alcançar o previsto — pelo facto dos aspectos de índole racional serem sepultados no esquecimento continuado ao longo do seu consulado de perto de três anos.

Todos os seus objectivos ficaram retidos por aspectos emocionais como guerras internas, lutas pela afirmação do poder interno no MPLA, fortalecimento do poder no País, luta em prol da afirmação internacional da sua figura, e, busca incansável pela credibilidade internacional e aceitação externa. Ao passo que, a sua vontade, primeira, que concernia a utilização do modelo de Deng Xiaoping como forma de transformar Angola numa das melhores economias de África ficou esquecida por variadas vontades que foram surgindo e substituindo a vontade à prioria ao longo do seu consulado. A vontade à prioria, ficou apenas escrito em papel, e, nunca mais chegou à acontecer.

Temos à conceituar razão como sendo aquilo que Leibniz distinguiu da faculdade de pensar. Para o autor, razão corresponde a verdade conhecida cuja ligação com uma outra verdade menos conhecida, permite dar o nosso assentimento à essa última. Todavia, por excelência, e, em particular, chamamos razão quando se trata, não só da causa do nosso juízo, como da própria verdade, isto é, a razão à priori; a causa nas coisas corresponde a razão nas verdades. Eis o facto pela qual, a própria causa é frequentemente chamada razão, e, em particular, a causa final.

Com toda essa pressão futurista atada ao destino do Homem mais importante de Angola, parece que, agora, ficou reservada a última oportunidade de reverter o destino e impor uma marcha salutar. João Lourenço, tem agora, a última oportunidade para reverter o cenário em torno de si, totalmente desfavorável, e convencer o eleitorado com vista a vencer as próximas eleições. Os projectos e programas do Homem mais forte de Angola, caíram em descalabro total, as reformas nada resultaram no plano social, nunca foram realizadas como preconizadas. João Lourenço pretendia entrar na história com a missão de um reformador, através de uma forte luta em prol da economia angolana que anda de rastos feita uma economia coxa. Nas suas ideias, eram visíveis a vontade de pertencer ao clube que fez de Deng Xiaoping um exemplo à seguir no mundo.

Mas o exemplo, três anos mais tarde, tornou – se num claro pesadelo. Nada terá dado certo até então. Não porque o modelo de Deng Xiaoping seja péssimo, mas porque, o Executivo angolano não foi honesto consigo mesmo, não soube ser escravo de suas próprias palavras, não cumpriu o prometido, não seguiu o planificado, não soube seguir à risco o que Deng Xiaoping definiu como prioridade, não aceitou resistir às tentações e fazer o que Deng fez na China até atingir a melhor economia. De recordar que, o Executivo angolano, tinha de se deslocar à China com fins de obter assessores em economia e outros programas de reformas à fins, para os subsidiar em ideias, opiniões, projectos e acções de reformas, que visam materializar os planos de Deng em Angola. Porém, o Executivo angolano terá seguido o exemplo da fileira israelita de Moisés que, foragido do Egipto à terra prometida, sem conhecer o solo por onde pisava, seguia para Canaã. Tentando desafiar aquilo que era impossível. 

De recordar que, foi Deng Xiaoping, o factor decisivo para as reformas económicas que colocaram a China no topo universal da economia, ao nível global. Mas, não nos esqueçamos que Lourenço não seguiu o quadro das reformas impostas por Deng Xiaoping com toda disciplina que Deng Xiaoping fez para que atingisse as suas metas e objectivos previstos. Ao longo da caminhada de Lourenço, foram surgindo percalços enormes que colocaram – se no lugar daquilo que era previsto. O plano de Deng Xiaoping ficou colocado na gaveta, deixando – o calado de uma vez por todas. No âmbito, em que, o Presidente da República queria fazer do País uma nova China, surgiram à sua sorte, ideias inúmeras que desviaram – lhe das atenções centrais, são tantas e tantas, que passamos à enumerar algumas:

  1. a) A remodelação da sala dos ministros;
  2. b) A reabilitação da Cidade Alta e compra de novo material da presidência;
  3. c) Remodelação da Muxima com gasto exorbitante de dinheiro;
  4. d) Construção de um centro de formação da Endiama num período de contenção de finanças;
  5. e) Construção de um centro cultural, num tempo em que tal parece desnecessário;
  6. f) Tentativa de construção do bairro dos ministérios;
  7. g) Compra de bens pessoais de luxo;
  8. h) Tentativa da construção do ginásio dos deputados;
  9. i) Compra de material de guerra, numa época em que, não se registam ameaças endógenas ou exógenas de instabilidade geopolítica da região que banha Angola e arredores;
  10. j) Investimento exorbitante em termos do sector de informação do Estado, quer endógeno, quanto exógeno;
  11. k) Compra de aviões para a TAAG, uma empresa que por sinal foi colocada à venda;
  12. l) Compra de acções da Oi de sua participação na operadora Unitel para a Sonangol, uma empresa que por sinal foi posta à venda. O negócio foi realizado por meio de uma subsidiária indirecta Africatel, que alienou todas as acções de emissão da holding portuguesa PT Ventures à petroleira por US$ 1 bilhão;
  13. m) Gasto exorbitante de dinheiro para compra de livros sem qualidades para o ensino secundário na África do Sul, num valor de 37 milhões/ ano;
  14. n) Gastos luxuosos em viagens;

Desde então, o plano de transformar Angola numa nova China, ficou simplesmente preso no segredo dos deuses. Sabe – se que aquilo que era desnecessário passou à causar uma ruptura intensa com o necessário, e o necessário, nunca mais se passou à cumprir. De Deng à projectos supérfluos que nada ajudam nos termos da evolução nacional, nem sequer resolvem nas palavras de Neto, o mais importante, que consta em “Resolver os problemas do povo”.

Tirando o PIM, que não sentimos os efeitos práticos na vida do povo. Nada conhecemos mais em termos de projectos sociais que andam escondidos nas acções práticas do Governo angolano. Nenhum dos projectos teve alcance à curto prazo, todos os projectos aprovados e postos em prática tiveram alcance à longo ou médio prazo, coisa para colher dentro de 10 ou 15 anos apenas, ao passo que, a governação do actual Executivo tem apenas como durabilidade 5 anos consecutivos. Lá se foram 3, todos eles volvidos à prisão pelo passado que ofuscou todos interesses. Os projectos sociais, que visam ajudar o povo à enfrentar as catástrofes sociais que a cada dia que se passa cauterizam a sua vida, ficaram completamente sepultados no esquecimento. Desde então, a vida do povo ficou cravada no mármore do esquecimento, tudo passou do mal ao pior. Tudo agravou – se, porque o Executivo reteu – se bastante no passado que, esqueceu –se do povo, e, o povo, não vive do passado, os que vivem do passado são os historiadores, o povo vive do presente, e, projecta o futuro para vivê – lo, amanhã.

Um conjunto de projectos necessários para alguém que afirmava seguir a ordem natural de Deng Xiaoping, para pôr em prática, as metas chinesas e fazer de Angola, numa das nações mais evoluídas economicamente em África, ficou esquecido no tempo, ao longo do seu consulado. É preciso frisar que, qualquer reforma, impõe um conjunto de obstáculos para quem não as vê como planos à serem tomados à peito face as reformas. Mas, não devem ser os obstáculos o alvo do reformador, devem ser os objectivos, os programas e projectos de acções à serem implementadas o alvo do reformador. João Lourenço afirmava que, desejava revitalizar a economia angolana, porém, deixou atrás das orelhas um grande problema por resolver: a luta contra corrupção.

A corrupção foi realizada por um núcleo único do País (o MPLA), núcleo esse onde ele fez e faz parte. Deveria definir normas, métodos, projectos e acções. A priori, ensaiar estratégias para combater a corrupção, antes de as implementar, sem necessidade de destruir imagens alheias, ou da sua própria organização. A missão de qualquer verdadeiro líder, não é destruir, é salvar a organização, expondo os erros de qualquer organização, não se está a salvar, está – se a destruir a organização no seu todo. Como se pode querer expor todos os erros de alguém, para depois salvá – lo?! Isso não existe em lado nenhum do universo. Isso significa, unicamente, suicídio da organização. A roupa suja, não se pode lavar nas ruas. Lava – se em casa!

Não há necessidade de salvar a organização expondo as suas culpas em hasta pública com uma linguagem pejorativa e um tom violento. No meu entender, seria necessário definir uma estratégia interna, com o Partido (MPLA) sobre uma forma amigável e viável de fazer face à corrupção, sem no entanto, enterrar o Partido e os seus no abismo eterno. Se foram os membros do CC ou do BP que fizeram a dita corrupção, ou estiveram no centro de tal realidade, urge a necessidade de ajudar – lhes a definir normas de combater a corrupção conjunta, onde cada um dê um gesto de ajuda sobre planos efectivos e infalíveis. Ensaiar, nades de implementá – las. Porém, voltado sempre ao presente e ao futuro, realizando um perdão global aos crimes económicos do passado, e, passar a impor uma nova ordem social sobre o presente e o futuro. 

De recordar que, Deng Xiaoping, líder chinês, esqueceu - se das guerras que adviriam das revoltas face à implementação das reformas. E, definiu variadas normas para contornar obstáculos. Deng Xiaoping, dentre as reformas impostas, destacou – se pelas seguintes: modernizações nos sectores da agricultura, indústria, comércio, ciência, tecnologia e na área militar. Durante seu governo, a China passou por uma grande abertura diplomática. Em 1979, Xiaoping foi o primeiro líder chinês a visitar os Estados Unidos. Buscando atrair investimentos estrangeiros. Deng criou diversas Zonas Económicas Especiais, onde empresas estrangeiras podiam se instalar, desde que tivessem parceria com empresas chinesas.

A diferença entre as reformas soviética (glasnost e perestroika) e chinesa deve-se ao facto de que Mikhail Gorbachev foi o único responsável pelas reformas da União Soviética, ao passo que Deng Xiaoping simplesmente oficializou diversas práticas criadas por autoridades municipais e/ou provinciais que estavam fora das directivas de Pequim. Deng também era aberto a sugestões; as quatro modernizações, por exemplo, foram ideia de Zhou Enlai. Abria – se para as variadas ideias de pensadores que o ajudaram a instalar um estado de mudanças concretas na China.

Em suma, as reformas económicas de Xiaoping foram feitas de baixo para cima: primeiro as mudanças foram testadas nos municípios e nas províncias; só depois a reforma foi implantada, gradualmente, em todo o país. Mas, João Lourenço, preocupou – se bastante com a luta contra corrupção do passado, esqueceu – se por completo do presente, do futuro, e, o seu próprio plano.

Vergou – se à uma justiça meramente selectiva e desnecessária, escolhia os réus à serem julgados, uns foram actuados, ao passo que os outros não. Houve variadas injustiças, ao passo que, todos (que terão exercitado algum acto administrativo no seio do regime do MPLA, no passado), sem excepção envolveram – se, em casos de corrupção. João Lourenço, não cumpriu o prometido, não seguiu de forma disciplinada e séria o programa de Deng Xiaoping, interessou – se demasiado pela luta contra corrupção do tempo do seu antecessor, e, esqueceu – se do presente. Ficou perdido no passado.

 Esqueceu – se que, há presente e há futuro. Deixou que, muitos dos seus aliados, apoderassem – se do que era de todos, enquanto isso, passaram à jogar as culpas da corrupção (que fazem no presente) ao passado que foi – se e jamais volta. Mas, os crimes, não são herdados. 

O problema das reformas falhadas, não está no presente que corrói o presente, está na memória do passado que fez – se no único presente à atender. O passado com todas as suas forças ataca todas as formas de progresso do presente, porque o presente passou à obcecar – se pelo passado, como se este, se mantém vivo, apenas recebendo oxigénio do passado. No consulado de JLO não se difere passado do presente, tudo que se faz de errado, tem culpa atada ao passado.

Todos são anjos caídos nos céus, postos à dirigir humanos. Não erram, os que erraram eram os humanos, do passado, e, é deles que deve ligar – se qualquer erro à ser cometido, hoje: “Eis aqui, a grande falha da implementação das reformas lourencistas, culpar o passado, e fazer do passado na única forma de vida, de juízo do presente e do futuro”.

João Lourenço ficou demasiado retido no passado, esquecendo – se por completo de todo seu plano de governação: “revitalizar a economia angolana à índole de Deng Xiaoping”.

Neste modelo de economia lourencista, as perseguições internas, as lutas de poder, a luxúria, os gastos exorbitantes, devem ser colocados para longe, a prioridade é cumprir os objectivos traçados e as metas à serem almejadas. Não se pode fazer do passado muleta para desenvolver o presente e alcançar o futuro. Mas, do presente, força motriz do futuro. João Lourenço deve cicatrizar as feridas do passados com o remédio da reconciliação, desmilitarizar os seus olhos completamente voltados ao passado, com um plano global de amnistia aos crimes económicos do passado. Criar raízes do presente para alcançar o futuro, ensaiar planos e estratégias de manobras para o alcance do futuro.

Deve despir – se das guerras grupais, porque esta, desviá – lo – ão do alvo à ser alcançado. O seu objectivo não deve ser a caça – as – bruxas, as lutas internas no MPLA. O seu objectivo deve ser a materialização do modelo de Deng Xiaoping. Tal, só, poderá ser efectivo, caso coloque de longe as distracções de natureza emocional, e, priorize o racional em benefício dos seus objectivos fulcrais. Deve utilizar os problemas à serem apalpados no caminho como muleta para subir os degraus dos seus desafios, e, tentar à todos títulos alcançar as metas preconizadas. Não substituir nunca metas por ódio, ou por opção à guerras pessoais.

Utilizar pessoas pensadoras no plano do empreendedorismo, transformar problemas em grandes desafios e não em grandes motivos de guerras internas e de ira nefasta. Aliar – se aos fortes e pedi – los que o ajudem a transpor barreiras difíceis, esquecer o passado, como uma memória da história que lhe dá raízes, como diz o adágio popular “Siga os bons e serás um deles, siga os maus e serás pior que eles”. Deve se lembrar que, Guerras conduzem à desgastas dos Governos. Ninguém evoluiu, ninguém progrediu, ninguém cresceu ligando – se eternamente à guerras. Sem nenhuma possibilidade de acções sobre desenvolvimento das nações, as guerras não podem ser tomadas como opções.

Bem – haja!

João Hungulo: Mestre em filosofia política & Pesquisador

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