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Segunda, 30 Outubro 2017 12:39

Ordem para acabar com a "Zunga" agita ruas de Luanda e a pergunta impõe-se: "Vamos viver de quê?"

A "guerra" está declarada entre zungueiras e fiscais, na sequência da ordem dada pelo governador provincial, Adriano Mendes de Carvalho, para acabarem com a venda ambulante ilegal ao longo das ruas e avenidas da capital do país.

A corrida pelas ruas, fugindo à detenção, mesmo que tenham de, para isso abandonar a mercadoria nos passeios ou nas estradas, tornou-se uma rotina diária de milhares de mulheres zungueiras que procuram retirar o seu sustento e o das suas famílias da venda ambulante em Luanda.

Apesar de proibição de venderem nas ruas da capital, as zungueiras dizem que não têm alternativa devido à falta de espaço e ao comportamento menos digno dos agentes de fiscalização dos mercados construídos pelo governo da província de Luanda, onde estão autorizadas a vender.

Antónia de Carvalho Neto, 37 anos de idade, é uma das primeiras vítimas da medida do governador Adriano Mendes de Carvalho.

"Já fui presa várias vezes por vender na rua, já estou habituada a fugir dos fiscais. A ordem do governador não terá efeitos", desafia Antónia de Carvalho, confessando que "os fiscais são os que promovem a zunga", chegando mesmo a ter sociedades no negócio.

"Nós pagamos aos ficais para vendermos nas ruas de Luanda. Quando aparecem os seus chefes fingem que nos correm", denunciou.

Mesmo reprimidas pela fiscalização, é nas ruas de Luanda que as vendedoras ambulantes, chamadas zungueiras, encontram forma de sustentar as suas famílias.

"Já fui presa várias vezes por vender na rua, já estou habituada a fugir dos fiscais. A ordem do governador não terá efeitos", desafia Antónia de Carvalho, confessando que "os fiscais são os que promovem a zunga", chegando mesmo a ter sociedades no negócio.

Duvido que a ordem dada pelo novo governador será cumprida, num país onde cada dia que passa as empresas estão a fechar", disse ao Novo Jornal Online o jovem Bernardo Capita, que vende esferográficas na Avenida Deolinda Rodrigues para sustentar os estudos.

Segundo este jovem estudante da Universidade Católica de Angola, as causas do surgimento deste tipo de actividade informal encontram-se nas "dificuldades claras para subsistir e são o reflexo do país, sobretudo das condições socioeconómicas".

"No período de manhã estou na zunga, que me ajuda pagar as propinas na universidade. No período da tarde vou às aulas", disse o jovem, que já deixou curriculum em várias empresas mas nunca foi chamado.

Para este jovem zungueiro e estudante universitário, a grande concentração populacional nos centros urbanos e a luta pela sobrevivência e sustento contribuíram para a massificação deste tipo de actividade nas principais capitais das principais províncias do país e não só.

Carlota Maria, de 25 anos, que encontrou na rua, vendendo sabão, o sustento para dar de comer aos dois filhos, viu hoje a sua mercadoria "recebida" pelos fiscais.

"Não tenho marido e sustento dois filhos vendendo na zunga. Nos mercados não há lugares para a gente vender. Como é que vamos viver?", questionou.

Arminda Cameia de 45 anos de idade, que zunga há 10 anos, não acredita que a ordem dada pelo governador de Luanda terá resultados.

"Quase todos os novos governadores anunciaram sempre acabar com a zunga e nunca conseguiram. Não há mercados vamos vender aonde?", interroga também.

A zunga é fruto das dificuldades evidentes e tem razões conhecidas

Na opinião do sociólogo António Mbaty, no actual contexto de Luanda, "a amplitude e as dimensões tomadas pelas actividades comerciais de rua têm como origem efeitos e factores provocados pela situação de conflito armado que o país atravessou e a crise social e económica".

"Não será uma tarefa fácil as autoridades governamentais de Luanda acabarem com a zunga. O Governo central, ao longo destes anos todos, não criou condições nas províncias. Isso fez com que muita gente se deslocasse para Luanda, onde, claramente, se tornou muito difícil viver", descreveu.

Segundo adiantou ao Novo Jornal Online António Mbaty, o comércio de rua alberga de igual modo homens e mulheres de diferentes idades, provenientes das diferentes regiões do país que, não obstante estarem distantes das suas zonas de origem, procuram manter um vínculo afectivo com a sua terra.

"As zungueiras encontram-se espalhadas por quase todos os bairros de Luanda. No exercício da sua actividade, procuram estabelecer-se nos lugares mais movimentados ou nos locais onde seja possível estacionar o carro com facilidade", acrescentou.

No exercício diário da sua actividade, as zungueiras caminham à volta dos mercados e estradas, ou ainda vendem de porta em porta, em instituições públicas, com seus produtos em cestos, banheiras ou simplesmente nas mãos.

O economista, Armando Kadiata, interroga-se sobre se há ou não legitimidade por parte dos fiscais receberem os produtos dos zungueiros. "Não sei com que legitimidade é que confiscam os produtos aos jovens e o dinheiro que eles arrecadam".

O economista condena a perseguição que sofrem os vendedores ambulantes e aconselha os fiscais a organizarem-se.

"Ao invés de os fiscais andarem atrás das zungueiras ou das kinguilas com cacetes e tirarem-lhes as coisas porque não são aproveitados para ordenarem o comércio de rua", pergunta.

O jovem Jeremias da Costa, por exemplo, viu, hoje, os seus cartões da UNITEL apreendidos pela fiscalização na Avenida Pedro de Castro "Loy".

O economista, Armando Kadiata, interroga-se sobre se há ou não legitimidade por parte dos fiscais receberem os produtos dos zungueiros. "Não sei com que legitimidade é que confiscam os produtos aos jovens e o dinheiro que eles arrecadam".

"Assim que receberam começaram imediatamente a recarregarem os seus telefones", acusou, salientando que vai recorrer as autoridades competentes para informar a ocorrência, sendo este um claro exemplo do que afirma o economista Armando Kadiata.

Recorde-se que os administradores municipais e distritais de Luanda foram orientados sexta-feira passada pelo governador provincial, Adriano Mendes de Carvalho, a terminarem com urgência, com as vendas ambulantes ilegais, ao longo das ruas, avenidas e pedonais.

A ordem foi dada durante uma reunião que analisou o Plano Provincial de Contingência de Calamidades e Desastres.

De acordo com o governador, é inadmissível o que se tem verificado nos últimos tempos relativamente às vendas ao longo das estradas e pedonais, sob o olhar impávido dos administradores municipais e comunais.

"Senhores administradores, é importante começarmos a corrigir estas práticas e quem não estiver a cumprir o seu papel é melhor por o seu cargo à disposição", advertiu.

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