No estrangeiro vivemos e nos comportarmos como se estivéssemos na “selva”, onde os mais fortes conseguem sobreviver e seguir em frente, e o angolano infelizmente não pode contar com as suas próprias embaixadas e consulados, porque esses são os primeiros a distanciarem-se de ti caso precises deles nos momentos de dificuldades e de necessidades.
A diplomacia angolana só tende a decair como já vem acontecendo quase a meio século. Se os comportamentos incorrectos não forem deixados de lado jamais iremos evoluir diplomaticamente.
Ainda temos diplomatas que perguntam ao próprio cidadão: de que Província de Angola tu és? Quem é tua família? Vieste em nome de quem? O que vieste fazer aqui na Embaixada? Tens algum amigo no governo? No fim dessas perguntas inúteis e irracionais, dizem que não podem te ajudar, e que o Estado está em crise econômico-financeira. Mas são esses mesmos diplomatas que depois de alguns dias ou semanas organizam actividades na qual gastam mais de 10 mil dólares, 15 ou 20 mil dólares. É isso mesmo: dinheiro pra festas têm sempre mais dinheiro para socorrer um cidadão nunca têm.
Um outro factor é o tribalismo. O tribalismo é um dos grandes males que impede o crescimento da nossa nação, este acto é muito presente nas nossas instituições diplomáticas: o separatismo, o protecionismo e o tratamento diferenciado que se dá a cada um, é visível e explícito, e quando chegam os recrutamentos locais, primeiramente restringem a comunicação, ou seja poucos apercebem-se da situação, e de antemão já decidem quem deve entrar. Porque não é possível um que tem doutoramento ou mestrado em matérias político-diplomáticas ser deixado de lado, para empregarem ou darem lugar à pessoas que para além de terem pouco estudo carecem de competências e de capacidades intelectuais.
Esse tipo de comportamento e prática é muito frequente nas embaixadas e nos consulados angolanos, sobre isso tenho recebido inúmeras reclamações de angolanos residentes no Mundo inteiro, e nota-se que o comportamento dos nossos diplomatas é semelhante um do outro. Algo não está bem, mudanças devem ser feitas, a incompetência não deve ser tolerada, se um embaixador, cônsul ou representantes diplomáticos não conseguem fazer correctamente o seu trabalho que sejam exonerados, não é preciso esperar que termine o seu mandato de 4 anos, devem ser substituídos por conveniência de serviço ou por má gestão, assim funciona uma administração do Estado.
Diplomacia não é pra pessoas que passam o tempo todo pensando em viagens “turísticas”, a valendo-se dos passaportes diplomáticos ou das regalias de viagens na classe executiva, muito pelo contrário, diplomacia é pra pessoas dotadas de capacidades projectuais, criativas e intelectuais, é pra pessoas estrategas que põem em prática os interesses nacionais.
Diplomacia é pra pessoas pragmáticas, dinâmicas e activas, é pra pessoas que entendem da matéria, é pra pessoas altamente qualificadas. Mas no concreto o quê que realmente acontece nos concursos do MIREX? Muitos entram por recomendações, por influências, por afinidades, nepotismo, amiguíssimo, trocas de favores, etc. O mesmo aconteceu nesse último concurso (março-Maio de 2019), muitos intelectuais (mestres e doutores) formados em matérias político-diplomáticas simplesmente não foram admitidos.
Os critérios de avaliações dos concursos tanto no MIREX quanto nas nossas embaixadas e consulados precisam ser mais transparentes, é fundamental que se use o critério meritocrático, em vez do critério do amiguíssimo, do tráfico de influências, do tribalismo e do nepotismo. São esses males que deram origem à diplomatas incompetentes, essa é a mais pura verdade na diplomacia angolana, diplomatas que pra falarem apenas por 7 minutos precisam a todo o custo de ler, pra não falarmos dos discursos retóricos públicos, poucos conseguem fazê-lo.
Portanto o Executivo precisa ver esta situação, o MIREX precisa de remodelações profundas; as missões diplomáticas angolanas precisam de novos comandantes para levarem à bom porto a nossa diplomacia.
Muitos angolanos estão no exterior por conta própria, e grande parte desses angolanos são estudantes e dependem de si próprios para seguirem em frente com suas formações universitárias, portanto tendo em conta o que as outras embaixadas fazem em prol dos seus cidadãos em todos os âmbitos, as nossas embaixadas deviam fazer o mesmo, começando com projectos de arrecadação de fundos e projectos de bolsas de estudos a favor dos angolanos.
Esses projectos são fatíveis, inclusive já participei desses tipos de projectos junto a embaixadas e organizações pertencentes à cidadãos da Europa Central e Europa do Leste, fui chamado e convidado a título de consultor e especialista em “projectação europeia”, dei o meu contributo para a realização de tais projectos. As nossas instituições diplomáticas deviam ter a mesma visão, deviam seguir o mesmo exemplo.
A nossa diplomacia precisa acordar, os diplomatas incompetentes que temos precisam ser afastados; as comunidades angolanas na diáspora devem ser ajudadas, é seu direito e é o dever daqueles que os representam atender as suas necessidades.
O tribalismo é uma doença, o nepotismo e o amiguismo é próprio dos incoerentes, dos mal formados, dos incapazes e daqueles falsos líderes que têm medo de trabalhar com pessoas competentes por causa da sua posição de “poder”, mas os líderes visionários preferem valorizar a meritocracia ou seja preferem os qualificados e os dinâmicos do seu lado, porque no fim seria uma vitória sua e de toda a sua administração.
O.B.S: Quando os concursos no MIREX e nas nossas embaixadas e consulados forem justos e transparentes: ou será um autêntico milagre ou será sinal de que, ainda existe uma luz no fundo do túnel.
Por Leonardo Quarenta
Doutorando em Direito Constitucional e Internacional
Mestrado em Relações Internacionais e Diplomacia