Um mês e meio após a queda do avião da LAM na Namíbia, apenas 13 dos 33 passageiros que morreram no acidente foram identificados. A informação foi dada ao SOL pela Kenyon International Emergency Services, empresa contratada pela transportadora moçambicana e que gere situações de desastres e catástrofes naturais.
Segundo a Kenyon, “estas identificações foram conseguidas através de comparações de registos dentários e de impressões digitais”. A empresa – que já trabalhou em cenários como o tsunami de 2004, o furacão Katrina em 2005 e o terramoto do Haiti em 2010 – adiantou ainda que estes reconhecimentos positivos abrangem “quatro das seis nacionalidades” a bordo do voo da LAM, que fazia a ligação entre Maputo e Luanda e caiu no Norte da Namíbia a 29 de Novembro.
A Kenyon não quis, no entanto, adiantar todas as nacionalidades identificadas, dizendo apenas que incluem portugueses. Na semana do Natal, decorreram em Portugal as cerimónias fúnebres de um ex-atleta português e de um empresário luso-brasileiro.
Uma terceira vítima lusa foi identificada ainda no ano passado, mas o repatriamento dos seus restos mortais sofreu um atraso, segundo a Kenyon, “devido a uma alteração no voo da Air Namibia entre Windhoek e a Europa. A companhia aérea pediu posteriormente desculpa pelo atraso a todos os envolvidos”. Entre os passageiros havia moçambicanos, portugueses, um francês, um chinês, um luso-brasileiro e angolanos.
A representar a LAM no processo e dando apoio ao Instituto Nacional de Ciências Forenses da Namíbia – que conduz o processo de identificação dos corpos –, a Kenyon garantiu também que “a equipa forense multinacional reunida em Windhoek vai continuar o trabalho até que todos os restos mortais tenham sido identificados”.
Da mesma forma, a empresa explicou que os bens pessoais de passageiros e tripulação, recolhidos no local do acidente, estão “à guarda das autoridades namibianas porque fazem parte da investigação”. Mas a sua devolução está em vias de acontecer.
Processo complexo
A morosidade de todo o processo deve-se à complexidade que os investigadores enfrentam nas identificações. Como explicou na semana passada José Bravo, conselheiro da Embaixada de Angola na Namíbia e coordenador da Comissão de Investigação do Acidente, os peritos recolheram 603 restos humanos no local do sinistro, na Namíbia.
O responsável reuniu-se à porta fechada na sexta-feira da semana passada com familiares das vítimas angolanas, que não foram identificadas. E numa conferência de imprensa pediu “paciência” às famílias.
José Bravo explicou ainda que foram recolhidas amostras de ADN – entretanto enviadas para Portugal – dos familiares dos sinistrados. A partir destas amostras será elaborado o perfil genético de cada familiar, o que se espera possa acontecer até ao início da próxima semana. O passo seguinte será a comparação com o perfil genético de cada vítima.
Os cruzamentos de ADN são a técnica a que os investigadores recorrem quando não é possível fazer comparações de registos dentários e de impressões digitais. No entanto, em Angola, só agora se recorreu a este procedimento. Os familiares das vítimas portuguesas, por exemplo, deram amostras de ADN nos dias subsequentes ao desastre.
Sobre as causas do acidente, permanecem inconclusivas. A 21 de Dezembro, o Instituto de Aviação Civil de Moçambique revelou pormenores da investigação preliminar, que apontava para manobras intencionais do piloto para despenhar a aeronave. A LAM disse na altura aguardar o relatório final, que ainda não foi divulgado.
sol.pt/A24