José Silva, 54 anos de idade, dos quais 22 na província de Malanje, que investe nos ramos do comércio alimentar, prestação de serviço, construção civil, mobiliário e das energias renováveis aponta a desvalorização do kwanza como a razão para a queda substancial no volume de importações que faz de Portugal.
“Eu cheguei a importar 18 contentores de 40 pés por ano, e neste momento só importamos dois/três por que o câmbio está muito alto, o produto começa a ficar caro”, lamentou.
A introdução do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) aumentou também os encargos com as importações. “A entrada do IVA também fez subir o produto, às vezes as pessoas não entendem porque o IVA não dá para toda a gente, há pessoas que o IVA não interessa nada, e quem sofre com isso é sempre o consumidor final”, disse.
E está tudo caro, mesmo em Portugal as coisas também estão caras, por isso, quando chega aqui temos que enveredar pelo paralelo, às vezes comprar mercadoria em Luanda e tentar vender aqui com uma margem pequena para aguentar sempre as despesas do dia-dia”, acrescentou.
Afirma que o quadro de negócio mudou comparativamente aos últimos nove anos. “Neste momento não está fácil, já foi mais fácil, houve aquela época entre 2004 e 2005 até 2013 e 14, que isto estava dar bem”, disse.
A partir daí começou a baixar um bocado, mas também é como tudo, quem comeu os ossos, tem que comer a carne. Mas está um bocado mais complicado e vamos aguentando”, acrescentou. O empresário diz ainda que a sua companhia continua com os vencimentos em dia, "continuamos a ter o mesmo pessoal que tínhamos praticamente”. “De resto continuamos a investir e vamos ver de onde é que isso vai dar”, afirmou.
Kwanza em queda reverte avanços da economia angolana
Angola tem de pagar nesta ano quase dez mil milhões de dólares de dívidas e a súbita queda nos mercados cambiais da moeda nacional, o kwanza, vai tornar difícil alcançar esse objectivo, aumentar a inflação e a proporção da dívida em relação ao produto interno bruto, disseram economistas.
A queda do preço do petróleo tornou insustentável o apoio do Banco Nacional de Angola (BNA) ao kwanza que, com efeito, tornou-se na moeda africana mais fraca este ano, depois de uma redução do seu valor de 21% no mês passado.
Analistas disseram à agencia Reuters que os baixos preços do petróleo e um aumento no pagamento de dívidas levaram o banco central a não poder continuar a apoiar o kwanza nos mercados cambiais
Na segunda-feira, 12, o kwanza estava a ser comercializado a 637. 30 por dólar americano, uma queda dos 506 kwanzas por dólar, registados em Maio.
A moeda angolana tinha estado a ser comercializada entre 502 e 506 kwanzas desde Novembro do ano passado.
O petróleo constitui mais de 90% das exportações do país e as exportações do petróleo angolano no primeiro trimestre deste ano caíram cerca de 30% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O preço do petróleo Brent estava a ser comercializado a 82.10 dólares o barril em média no primeiro trimestre deste ano, comparado com 97.90 dólares no mesmo período do ano passado
Gerrit van Rooyen, economista da Oxford Economics, disse à Reuters que entre Novembro e Abril o kwanza foi supreendentemente estável o que, segundo ele, sugere que o banco central de Angola usou reservas cambiais para estabilizar o valor da moeda nacional.
Mas, acrescentou van Rooyen , essa intervenção tornou-se insustentável devido à queda constante do preço do petróleo, a ser comercializado agora abaixo do preço previsto no orçamento de Estado preparado pelo Ministério das Finanças, no valor de 75 dólares o barril.
Hoje, o preço do Brent nos mercados internacionais ronda os 73 dólares o barril.
Consequências
A queda do valor do kwanza deverá aumentar a inflação, que caiu de 27,7% em Janeiro de 2022 para 10,6% em Abril, e vai fazer subir também o custo do pagamento das dívidas.
Sarah Baynton-Glen, do banco Standard Charter, disse à Reuters que a valorização do kwanza tinha estabilizado a proporção da dívida em relação ao PIB desde 2020 mas a desvalorização da moeda vai reverter a redução da proporção dívida/PIB que tinha caído de 130%, no final de 202,0 para 63% no final de 2022.
Refira-se que 80 por cento da divida angolana é em moeda estrangeira e o país tem que pagar este ano 9.900 milhões de dólares.
Um porta voz do BNA recusou-se a comentar esta situação, disse a Reuters. VOA