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Terça, 13 Junho 2023 19:54

Empresário explica como queda do Kwanza afecta o seu negócio

A desvalorização da moeda nacional angolana, o kwanza, está a ter um efeito negativo para os comerciantes angolanos envolvidos na importação de produtos do estrangeiro.

José Silva, 54 anos de idade, dos quais 22 na província de Malanje, que investe nos ramos do comércio alimentar, prestação de serviço, construção civil, mobiliário e das energias renováveis aponta a desvalorização do kwanza como a razão para a queda substancial no volume de importações que faz de Portugal.

“Eu cheguei a importar 18 contentores de 40 pés por ano, e neste momento só importamos dois/três por que o câmbio está muito alto, o produto começa a ficar caro”, lamentou.

A introdução do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) aumentou também os encargos com as importações. “A entrada do IVA também fez subir o produto, às vezes as pessoas não entendem porque o IVA não dá para toda a gente, há pessoas que o IVA não interessa nada, e quem sofre com isso é sempre o consumidor final”, disse.

E está tudo caro, mesmo em Portugal as coisas também estão caras, por isso, quando chega aqui temos que enveredar pelo paralelo, às vezes comprar mercadoria em Luanda e tentar vender aqui com uma margem pequena para aguentar sempre as despesas do dia-dia”, acrescentou.

Afirma que o quadro de negócio mudou comparativamente aos últimos nove anos. “Neste momento não está fácil, já foi mais fácil, houve aquela época entre 2004 e 2005 até 2013 e 14, que isto estava dar bem”, disse.

A partir daí começou a baixar um bocado, mas também é como tudo, quem comeu os ossos, tem que comer a carne. Mas está um bocado mais complicado e vamos aguentando”, acrescentou. O empresário diz ainda que a sua companhia continua com os vencimentos em dia, "continuamos a ter o mesmo pessoal que tínhamos praticamente”. “De resto continuamos a investir e vamos ver de onde é que isso vai dar”, afirmou.

Kwanza em queda reverte avanços da economia angolana

Angola tem de pagar nesta ano quase dez mil milhões de dólares de dívidas e a súbita queda nos mercados cambiais da moeda nacional, o kwanza, vai tornar difícil alcançar esse objectivo, aumentar a inflação e a proporção da dívida em relação ao produto interno bruto, disseram economistas.

A queda do preço do petróleo tornou insustentável o apoio do Banco Nacional de Angola (BNA) ao kwanza que, com efeito, tornou-se na moeda africana mais fraca este ano, depois de uma redução do seu valor de 21% no mês passado.

Analistas disseram à agencia Reuters que os baixos preços do petróleo e um aumento no pagamento de dívidas levaram o banco central a não poder continuar a apoiar o kwanza nos mercados cambiais

Na segunda-feira, 12, o kwanza estava a ser comercializado a 637. 30 por dólar americano, uma queda dos 506 kwanzas por dólar, registados em Maio.

A moeda angolana tinha estado a ser comercializada entre 502 e 506 kwanzas desde Novembro do ano passado.

O petróleo constitui mais de 90% das exportações do país e as exportações do petróleo angolano no primeiro trimestre deste ano caíram cerca de 30% em relação ao mesmo período do ano anterior.

O preço do petróleo Brent estava a ser comercializado a 82.10 dólares o barril em média no primeiro trimestre deste ano, comparado com 97.90 dólares no mesmo período do ano passado

Gerrit van Rooyen, economista da Oxford Economics, disse à Reuters que entre Novembro e Abril o kwanza foi supreendentemente estável o que, segundo ele, sugere que o banco central de Angola usou reservas cambiais para estabilizar o valor da moeda nacional.

Mas, acrescentou van Rooyen , essa intervenção tornou-se insustentável devido à queda constante do preço do petróleo, a ser comercializado agora abaixo do preço previsto no orçamento de Estado preparado pelo Ministério das Finanças, no valor de 75 dólares o barril.

Hoje, o preço do Brent nos mercados internacionais ronda os 73 dólares o barril.

Consequências

A queda do valor do kwanza deverá aumentar a inflação, que caiu de 27,7% em Janeiro de 2022 para 10,6% em Abril, e vai fazer subir também o custo do pagamento das dívidas.

Sarah Baynton-Glen, do banco Standard Charter, disse à Reuters que a valorização do kwanza tinha estabilizado a proporção da dívida em relação ao PIB desde 2020 mas a desvalorização da moeda vai reverter a redução da proporção dívida/PIB que tinha caído de 130%, no final de 202,0 para 63% no final de 2022.

Refira-se que 80 por cento da divida angolana é em moeda estrangeira e o país tem que pagar este ano 9.900 milhões de dólares.

Um porta voz do BNA recusou-se a comentar esta situação, disse a Reuters. VOA

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