Não são conhecidos os termos desta garantia assinada pelo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, mas sabe-se que tem um prazo de 18 meses (renovável) e que se for executada a consequência deverá ser a nacionalização do BESA pelo Estado de Angola e a diluição das participações dos restantes acionistas - BES (55,7%) Portmill (24%, general Kopelipa), Grupo Geni (18,99%, general Leopoldino do Nascimento) e Álvaro Sobrinho, ex-CEO do BESA, que ainda controla 1,3% do banco.
Ou seja, se nos próximos meses o crédito em risco não for recuperado - parte dele foi concedido sem quaisquer garantias - e se os atuais acionistas não taparem as perdas com uma injeção de capital que hoje parece de todo improvável, o BES (acionista minoritário da Controlinveste) pode deixar de contar com um braço financeiro em Angola ou pelo menos pode deixar de o controlar como até aqui.
Segundo o Expresso de ontem, parte substancial dos empréstimos feitos pelo BESA durante os dez anos de gestão de Álvaro Sobrinho, dono em Portugal do semanário Sol, caracterizaram-se por violar todas as regras de prudência bancária. Crédito concedido de forma discricionária e sem garantias, beneficiários de empréstimos desconhecidos, dossiês de crédito inexistentes, levantamentos em notas no valor de centenas de milhões e, finalmente, a cereja em cima do bolo: a aprovação de empréstimos pelo punho do CEO do banco, Álvaro Sobrinho, sem a intervenção de mais ninguém, a empresas ligadas a ele próprio.
Além de atingir em cheio Álvaro Sobrinho, embora as consequências sejam ainda vagas já que não houve até agora nenhuma acusação de fraude ou gestão danosa, apenas a constatação do buraco gigantesco e da violação das mais básicas regras bancárias (não havia sequer um conselho de crédito formal no BESA), a verdade é que a notícia de ontem acaba por ferir mais um nome da família Espírito Santo - Ricardo Abecassis, CEO do BESI no Brasil.
A notícia de que Ricardo Abecassis fez parte, até final de 2012, do Conselho de Administração do BESA, que deixou passar em claro problemas tão graves no banco com consequências financeiras e de reputação enormes, pode ser suficiente para também o afastar da guerra pela sucessão de Salgado - embora a gestão do banco angolano não tenha passado pelas mãos de Ricardo Abecassis. Isto é, com Salgado fora da corrida para suceder a ele próprio - a questão é saber se sai durante o verão ou se fica até ao fim do mandato, em 2015 -, com Ricardo Abecassis tocado agora pelo escândalo no BESA e com dois possíveis sucessores constituídos arguidos (Ricciardi e Pires, apesar de ambos poderem ser ilibados), a lista de alternativas óbvias para a liderança do banco vai-se apertando cada vez mais.
Bernardo Espírito Santo, administrador do BES, é um dos nomes que se mantêm sobre a mesa, até porque faz parte da nova geração. Dos vários nomes postos a circular, sobra ainda o de Joaquim Goes, também ele administrador do BES, mas que levanta, segundo fonte próxima do processo, "muitas dúvidas" a uma parte da família Espírito Santo. "Ele seria uma espécie de "solução Paulo Teixeira Pinto"... não acabou bem, pois não?"
Além destas interrogações, há ainda a esclarecer o papel do Banco de Portugal, que terá de "não rejeitar o nome" proposto pelos acionistas do banco mas que não tem mandato para impor quem será o próximo CEO do BES, embora tenha ficado claro que prefere alguém não ligado à família. Segundo fonte do Conselho Superior do GES, não há, por isso, "qualquer decisão tomada sobre ninguém. Não foi rejeitado ou aprovado qualquer nome".
A guerra mantém-se totalmente aberta, tendo feito uma outra vítima potencial: a KPMG, que auditou as contas do BESA ao longos destes anos, terá de esclarecer o seu papel no descalabro do banco.
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