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Quarta, 01 Janeiro 2014 15:09

IURD: Negligência dos responsáveis da vigília ‘Dia do Fim’ ceifou 16 vidas

A não observância das regras de segurança por parte da Igreja Universal no Reino de Deus (IURD), que ignorou as recomendações da Polícia Nacional, ao colocar cerca de 150 mil fiéis no interior do Estádio da Cidadela, no dia 31 de Dezembro de 2012, causou luto e dor. Dentro de três dias assinala-se um ano desde a ocorrência. No calor da tragédia aquela organização religiosa prometeu ajudar as famílias enlutadas, tudo não passou de uma fachada.

Doença, miséria, desemprego, falência, separação, brigas na família e feitiçaria foram os problemas que a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) garantiu resolver com a realização da vigília que acabou em tragédia no fim do ano passado.

As cidadãs angolanas Olinda Elisa Leandro e Rebeca Gomes, de 36 e 38 anos respectivamente, duas das 16 pessoas que faleceram por asfixia e esmagamento segundo o inquérito da Polícia Nacional (PN), eram fiéis desta denominação religiosa, que na altura fez uma intensa publicitação da actividade que visava "dar um fim a todos os problemas".

Engano. Elisete dos Santos, filha mais velha de Lourenço Pedro Miguel e Olinda Elisa contou ao Agora o sufoco por que passou. A jovem que perdeu a mãe em 2012 contava com 20 anos, foi uma entre os 144 feridos facto que torna marcante aquele fatídico dia.

"Não sei como tudo começou. De repente ouvi gritos. Alguém caiu a multidão passou por cima dele, havia muita histeria e as pessoas gritavam socorro. Recordo-me ainda que havia apenas duas portas abertas, não havia água", disse Elisete.

Depois da agitação a rapariga perdeu os sentidos. Porém, quando voltou a si já não encontrou a mãe, ou seja, a ela que tinha ido em companhia da sua progenitora adorar a Deus, via o mundo inteiro naquele dia desabar sobre a sua cabeça ao assistir o seu trágico falecimento.

O relatório final do inquérito da PN apontou que a expectativa da igreja foi infeliz, "apesar de ter sido avisada que o estádio só comportava 30 mil pessoas, visto que o segundo anel está interditado há mais de cinco anos, a Universal fez planos para receber 152.600", entenda-se houve uma superlotação por propaganda enganosa.

O mesmo documento refere que "a projecção feita pela IURD, quanto ao número de pessoas para aquele recinto não foi realista e pecou por excesso", porquanto estavam previstas 70 mil pessoas e acorreram cerca de 150 mil.

Mais, "o evento começaria as 20 horas, entretanto, o local do evento já estava lotado às 18, e a Universal, pese embora ter ordenado o encerramento dos portões manteve-se aberto o portão da área vip.

Esta medida inconsequente, segundo um antigo fiel da IURD ouvido por este semanário, permitiu que os fiéis que queriam assistir o culto entrassem pelo único acesso disponível.

"As pessoas foram se apertando, pois o túnel de entrada ao estádio tinha uma inclinação muito acentuada e a iluminação era precária, para não dizer também que a distribuição de água benta em sacos plásticos transparentes foi um autêntico disparate", afiançou o antigo crente que preferiu não ser identificado.

Para além do jejum que alguns fiéis decidiram fazer, fora os outros cidadãos doentes que estavam à espera de um milagre e por isso chegaram muitas horas antes do arranque da actividade provenientes de Luanda e de outras províncias do país, de modo que a direcção da IURD disponibilizou autocarros para facilitar a transportação dos seus fiéis para o local da tragédia. O segundo anel do Estádio da Cidadela há mais de cinco anos que está interditado, por não ter condições para acolher acima de 30 mil pessoas.

FALTA DE RESPEITO À VIDA HUMANA

"Ainda decorria o culto quando as pessoas foram desmaiando sem que qualquer autoridade da nossa igreja parasse a pregação, contou a fonte que vimos citando, revoltada com o posicionamento dos altos responsáveis da Igreja Universal do Reino de Deus. O bispo Felner Batalha continuou a pregar mesmo sendo informado que estavam a morrer pessoas, esta foi a pior imagem com que fiquei naquele dia, há pessoas que não respeitam a vida humana e vêm aqui buscar dinheiro, pense comigo caro jornalista qual seria o bolo da recolha do dízimo a mais de 100 mil pessoas?

PPROMESSA FURADAS

No calor do tragédia de 31 de Dezembro de 2012 a IURD, na pessoa do bispo Felner Batalha, deslocou-se às residências onde viveram os casais Olinda Leandro e Lourenço Pedro Miguel e Rebeca Gomes e Francisco de Brito até o abrupto desenlace. Atente que Olinda deixou seis filhos e Rebeca cinco.

Na ocasião, o prelado prometeu aos maridos das malogras, "uma viatura Hiace para nos ajudar das despesas de casa e emprego para as minhas duas filhas mais velhas, porque estou desempregado e possivelmente um emprego também para mim", revelou ao Agora, Lourenço Pedro Miguel.

De lá para cá "não recebemos qualquer notícia sobre o cumprimento das promessas. Eles receberam os documentos das minhas filhas Elisete 21 anos e Nazaré, 17, mas até agora não dizem nada. A situação aqui está mal, porque tenho que sustentar a escola, a alimentação de casa, sem a minha parceira que era a pessoa que mais apoiava a casa tudo complicou", lamentou.

Nos contactos que fizemos junto da IURD com o pastor David, por telefone, a fim de obter o contraditório sobre as informações cedidas por alguns dos familiares das vítimas de 31 Dezembro de 2012 não fomos bem sucedido. David, que responde como responsável da comunicação da IURD foi evasivo, para além de que solicitou-nos que nos deslocássemos à catedral sita na rua comandante Gika, no bairro Alvalade não se dignou a receber a nossa equipa de reportagem, quando anteriormente dissera que nos colocaria em contacto com o bispo Felner Batalha.

PROCESSO-CRIME N.º 17/13 EM FASE FINAL

Beato Paulo, Procurador-Geral Adjunto da República e coordenador da Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal (DNIAP), órgão revelou ao Agora que "o processo n.º 17/13 está em instrução numa fase muito avançada, quer dizer que brevemente a instrução estará concluída".

Relativamente aos condicionalismos sobre o não cumprimento dos acordos/promessas que fez às famílias enlutadas, Beato Paulo diz não ter conhecimento desta matéria, mas domina que "o papel da DNIAP é investigar e instruir o processo, depois disso valorar os factos e depois remeter ao tribunal". "Quem deve decidir se os cidadãos devem receber um caro é o tribunal. Aqui apenas investigamos. A finalidade da instrução preparatória não é só para imputar responsabilidades.

Outras vozes ouvidas por este semanário, apresentam as suas reservas quanto a este caso, na medida em que se deu há quase um ano, contudo, são desconhecidas as causas reais do infausto acontecimento.

AGORA

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