Já Albano Ribeiro, do Sindicato da Construção de Portugal, fala em «números muito mais expressivos».«Só a fileira da construção juntava mais de 100 mil portugueses em Angola. Aquele país era o maior estaleiro de obras portuguesas. Com a chegada da crise, mais de 20 mil desses regressaram a Portugal. Ainda por lá andam uns bons milhares, mas não temos um número exato», disse ao SOL o presidente do sindicato.
Adiantou ainda que daquele total, «uns 50 mil acabaram por dispersar-se por um conjunto de países – Moçambique, Senegal, Argélia, Bolívia, Peru e Canadá – em função das novas geografias de negócios das construtoras nacionais».
A questão do número dos portugueses em Angola mereceu, desde sempre, alguns cuidados. No auge da presença de portugueses neste país africano (designadamente entre 2008 e 2014), as autoridades consulares alertaram sempre para a disparidade dos números. Em causa estava a diferença entre o número dos que estavam registados na rede consular ali existente e todos aqueles cuja presença não era oficialmente conhecida, embora estivessem, obviamente, em situação legal.
Albano Ribeiro voltou, todavia a manifestar a preocupação do sindicato pelos «danos materiais que a crise angolana causou e está a causar a muitos trabalhadores que continuam à espera de receber os salários, em muitos casos com dívidas de 30, 40 ou mesmo 50 mil euros».
O presidente do sindicato lembrou ao SOL o recente encontro com o embaixador de Angola em Lisboa, Marcos Barrica, para tratar, «exatamente do problema dos pagamentos dos salários aos trabalhadores portugueses».
Lembrou que o diplomata assegurou que o Estado angolano iria fazer tudo para que no semestre em curso «possa haver, através das verbas do FMI, uma atenção especial a este problema».
«Quanto mais depressa chegar o dinheiro, mais depressa o problema pode ser resolvido», disse Albano Ribeiro, citando Marcos Barrica.
O sindicalista acentuou que o diplomata angolano assumiu que as autoridades de Luanda «estão preocupadas com a falta de divisas e que vão dar uma grande atenção ao setor da construção, porque há obras paradas e o setor é muito importante para Angola».
«Há pessoas com cinco, seis e mais meses de salários em atraso. Há situações dramáticas», concluiu Albano Ribeiro.
O Governo português já reconheceu também que só em salários de expatriados nacionais, estão retidos em Angola cerca de 160 milhões de euros, devido à falta de divisas para efetuar transferências.
O próprio Executivo angolano reconheceu, recentemente, que a crise cambial no país levou à saída de trabalhadores expatriados e, com isso, a uma redução de produção industrial no primeiro semestre de 2016.
De acordo com as autoridades angolanas, comparativamente a 2015, estima-se para este ano um desempenho negativo na ordem dos 4% no setor transformador.
No relatório que fundamentou a proposta de revisão do orçamento para o corrente ano lê-se que os dados do primeiro semestre apontam para «uma elevada ociosidade da capacidade produtiva», provocada «pela redução da força de trabalho expatriada».
A situação, prossegue o documento, resultou «da dificuldade de as empresas obterem divisas para suportar o pagamento de salários».
Jornal I