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Quinta, 11 Agosto 2016 13:19

Parabéns General Wala

Perante a onda de protestos da sociedade civil angolana, as Forças Armadas Angolanas (FAA) dizem agora que cão investigar e esclarecer o que se passou no Zango (Luanda) onde o jovem Rufino António, de 14 anos, foi assassinado a tiro pelos militares comandados pelo general Simão Carlitos Wala, comandante da região militar de Luanda.

O assassinato deste jovem que apenas quis saber a razão pela qual demoliram a “casa” dos seus pais, a que se junta a morte de um bebé de 14 meses que foi decapitado por uma máquina durante as demolições no Zango, pôs ao rubro a sociedade civil angolana que, ao contrário da oposição política parlamentar, exige explicações e punições severas para os responsáveis.

O Estado-Maior General da FAA – exorbitando as suas funções – vem dizer que as demolições se justificaram porque os “cidadãos ocupavam indevidamente o perímetro de segurança do novo aeroporto internacional de Luanda, em construção”. Tanto quanto se crê ser regra básica de uma democracia, mesmo em fase embrionária, não cabe aos militares explicar as razões, mas sim ao Governo.

“O Estado-Maior General alerta a população para evitar afrontar os militares, com armas de fogo, como ocorreu nesse trágico acidente, onde foram capturadas duas armas”, refere o mesmo comunicado.

Certamente que nesta altura os luvualus do regime procuram, por ordem do tenente-general Simão Carlitos Wala”, provar a existência dessas ameaçadoras “duas armas”. Mas, a existirem, estavam na posse do vítima, o puto Rufino António? Eram suficientes para amedrontar o enorme dispositivo militar que estava na zona? Ou, mais uma vez, os militares do general Wala mostraram que são fortes com os fracos e fraquinhos com os fortes?

De acordo com diversas fontes, nomeadamente da ONG SOS Habitat, as demolições afectaram mais de 2.500 famílias no Zango II e mais de 620 “casas” no Zango III, áreas nos arredores de Luanda.

Daniel Bekele, director da Human Rights Watch para África, afirma que “as autoridades precisam investigar imediatamente porque razão os soldados abriram fogo, processar os responsáveis por qualquer irregularidade e tomar medidas para evitar derramamento de sangue no futuro”, acrescentando “as autoridades angolanas devem demonstrar que estão a falar a sério sobre a redução do uso de força excessiva ao investigar aprofundadamente a morte de Rufino António e levar os responsáveis à Justiça”.

Agora, e como habitualmente num regime em que se mata primeiro e se pergunta depois, o Estado-Maior General das FAA garante que “estão em curso medidas que evitem a ocorrência de situações semelhantes no futuro”.

“Sendo que as Forças Armadas Angolanas têm como principal missão a defesa da Nação, onde a população é um dos elementos fundamentais, que merece todo o nosso respeito, protecção e dedicação, lamentamos profundamente o sucedido”, afirma o Estado-Maior das FAA.

Até mesmo um comunicado oficial se constata alguma inversão dos principais fundamentos das FAA. Ao contrário do que afirma o Estado-Maior das FAA, liderado pelo General Geraldo Sachipengo Nunda, a população não é, não pode ser, “um dos elementos fundamentais”. Tem de ser O “elemento fundamental”.

Os cidadãos do Zango, tal como todos os angolanos que amam o seu país, exigem a exoneração do tenente-general Simão Carlitos Wala. Dizem que a exoneração é “urgente para evitar que se matem mais cidadãos em tempo de paz”. Não adianta. Isso só seria possível se Angola fosse o que não é: uma democracia e um Estado de Direito. Esta é que é a razão.

Com mais este caso, o MPLA, ou seja, o regime angolano, continua a provocar deliberada e conscientemente os angolanos de segunda categoria. Vale tudo. Aliás, no país existem apenas angolanos de primeira, os do MPLA, e os outros, uma subespécie que teima em resistir. E se resistem muito… tiro neles.

Só falta dizer que os angolanos que sofrem de subnutrição, malária, febre-amarela, cólera, tuberculose, etc. terão de pedir desculpa ao MPLA, antes de falecerem, e as crianças que forem fuziladas, sob a orientação do General Wala, cumprindo “ordens superiores”, terão de pedir desculpa a José Eduardo dos Santos por serem incapazes de resistir à força das balas.

Rufino António mostrou a todos nós, mostrou ao mundo, que querer saber as razões pelas quais as autoridades de sua majestade o rei, José Eduardo dois Santos, deitam abaixo as “casas” dos angolanos é um crime contra a segurança do Estado e uma tentativa de golpe de Estado. Crimes puníveis com a pena de morte.

Recorde-se que o provedor de Justiça de Angola, Paulo Tchipilica, foi impedido de visitar as vítimas das demolições do bairro Walele, no Zango. Impedido por quem? Pelo sipaio de sua majestade o rei de Angola, general Carlitos Simão Wala. E depois gozam com a nossa chipala e passam-nos atestado de matumbez quando nos querem convencer que o nosso país é uma democracia e um Estado de Direito.

Folha8

 

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