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Quarta, 17 Setembro 2025 14:55

Angola regista agravamento da pobreza com buracos socais e institucionais profundos – Igreja Católica

Os bispos católicos angolanos manifestaram-se hoje preocupados com o agravamento da pobreza em Angola, considerando que os tumultos registados em julho passado "revelaram buracos sociais, familiares e institucionais muito profundos" que devem despertar o país para "urgente transformação".

"Não podemos fechar os olhos à realidade do nosso país, marcada ao mesmo tempo por avanços significativos e recuos assustadores. No meio de tantas coisas boas e dignas de aplausos que temos vindo a fazer, assistimos, todavia, com preocupação, à persistência e ao agravamento da pobreza das famílias angolanas, um flagelo que atinge a dignidade de muitos dos nossos concidadãos", afirmou hoje o presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), José Manuel Imbamba.

Para o arcebispo angolano, a pobreza em Angola, "infelizmente, não é apenas material", mas "é também, e sobretudo, social, política, cívica, cultural e espiritual, minando a confiança nas instituições e no futuro".

Em declarações na abertura da II Assembleia Plenária da CEAST, que decorre de hoje até segunda-feira, dia 22, no Santuário da Muxima, Diocese de Viana, José Manuel Imbamba referiu que a sociedade angolana, maioritariamente jovem, é marcada por um "acentuado estado de ansiedade, medo, incerteza e frustração".

Assinalou que a situação deriva da falta de emprego, de iguais oportunidades e das assimetrias abismais que ser registam em Angola.

"A instabilidade social e a falta de perspetivas para os jovens têm gerado um sentimento de desesperança e irreverência", salientou o religioso, para quem os tumultos registados em Angola, em finais de julho passado, "revelaram buracos sociais, familiares e institucionais muito profundos".

"[Esses tumultos] devem nos despertar e empenhar urgentemente na transformação interior, para que o diálogo entre os governantes e governados seja mais frequente, justo e frutuoso, evitando o uso exagerado e desproporcional da força", apelou.

José Manuel Imbamba recordou que o país celebra em novembro próximo os 50 anos de independência, um momento que considerou propício para uma mudança urgente e necessária de atitudes e de mentalidade.

"Não basta mudar e renovar as estruturas, é preciso mudar, sobretudo, o coração e a mente das pessoas (...). Daí, o exame de consciência nacional que se impõe enquanto famílias, governantes, legisladores, magistrados, políticos, jornalistas, funcionários, intelectuais, religiosos e cidadãos", notou.

Segundo o presidente da CEAST, Angola, com toda a exuberância do mosaico cultura que os seus filhos e filhas ostentam, "merece este compromisso corresponsável" que implica a incorporação contínua, corajosa e dedicada de atitudes transformadoras, motivadoras e enriquecedoras.

No seu olhar sobre a realidade sociopolítica e económica do país, o também arcebispo de Saurimo apelou à instauração, em Angola, de uma nova cultura social e política, baseada na ética, na solidariedade efetiva e na responsabilidade partilhada.

Observou, contudo, que, para isso, são necessárias "reformas profundas no aparelho do Estado, que deve estar exclusivamente ao serviço da cidadania e da prossecução do bem comum para a felicidade e dignificação de todos".

"É nosso dever apelar e educar para a cultura da paz, da justiça, da reconciliação e da tolerância. As soluções não virão de fora, mas de um compromisso sério de todos nós, enquanto angolanos", concluiu.

O Congresso Nacional da Reconciliação pelo Jubileu dos 50 anos de Independência de Angola, agendado para outubro próximo, e o processo de criação de novas dioceses constam da agenda de trabalhos desta assembleia dos bispos angolanos.

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