Depois do manifesto político distribuído em papel, Higino Carneiro surge agora em vídeo para defender "a força do passado e do presente" personalizados nas figuras de Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos e João Lourenço, para continuar o caminho de um partido "mais plural e inclusivo", "que deve romper com a cultura do silêncio, da bajulação e do "sim, Chefe"" e que promova a crítica e auto-crítica como "actos de coragem política e de respeito pelo povo".
O general na reforma defende o "ressurgimento da militância activa" e o "regresso dos que se afastaram", convidando todos os angolanos para "resgatar a mística ganhadora" do partido.
"A autoridade do militante não deve ser negligenciada. O militante deve ser um agente activo na eleição dos seus representantes nos órgãos intermédios e superiores do nosso partido", declara o antigo ministro das Obras Públicas e da Administração do Território e ex-governador de Luanda e Benguela, que defende que os Comités de Acção do Partido (CAP) deixem de ser apenas estruturas de mobilização para comícios, passando a ser núcleos de intervenção política activa junto das comunidades.
Na apresentação em vídeo, vários são os "recados" internos deixados por Higino Carneiro às "imposições administrativas" ou às "janelas para promover elementos descomprometidos com o MPLA".
Higino Carneiro diz que não se candidata à presidência do MPLA movido por ambição pessoal ou conflito interno e que a sua decisão "não se baseia numa agenda de ambição, perseguições ou ressentimentos".
"A minha futura candidatura é uma convocação à unidade, ao reencontro e à fé nos princípios que nos trouxeram aqui", declara.
"Um novo tempo exige uma nova atitude", defende Higino Carneiro, para voltar a dizer que quer "somar", não dividir".
A pré-candidatura de Higino Carneiro é apresentada um mês depois de o presidente do MPLA, João Lourenço, ter dito na Televisão Pública de Angola (TPA) que o militante do seu partido que se apresenta como "super-militante, super-general", predestinado a ser Presidente da República, é algo que o MPLA "considera muito grave".
"Quando alguém se apresenta como predestinado, a mensagem que está a passar aos outros putativos candidatos é que "não vale a pena vocês concorrerem, estão a perder o vosso tempo, porque o destino já me predestinou. Já defini o meu futuro e o futuro da Angola. O presidente de Angola vou ser eu. Então, vocês estão a perder dinheiro, estão a perder tempo, nem sei se vale a pena fazer eleições. Esta é a mensagem que está a passar no fundo. O Estado nem sequer devia organizar eleições, está a perder tempo. Vai organizar eleições mais porquê, se o destino já definiu que o Ernesto é que vai ser o futuro presidente. Então, só temos de arranjar a cadeira, confortável, para o Ernesto sentar?", perguntou ao jornalista da TPA.
Depois, para deixar bem claro que não dá a sua "benção" a este ou a qualquer outro candidato que comece a corrida sem ele disparar o tiro de largada, João Lourenço atirou: "É óbvio que não há. É óbvio que não há! E todo aquele que tentar passar a ideia de que tem a minha bênção para poder começar a corrida agora, agora ou mais tarde, eu vou desmentir-lhe publicamente, como estou a fazer agora".
"Aqueles que andam a dizer que não há democracia interna no MPLA deviam entender que apresentar-se como predestinado é que é matar a democracia interna no MPLA", afirmou. NJ