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Quinta, 11 Julho 2019 08:50

SIC demarca-se de retrato falado do falso assassino de Chinho

O Serviço de Investigação Criminal (SIC) em Luanda negou ontem a autoria do retrato falado que está a ser associado a um dos indivíduos que supostamente assassinaram o ex-futebolista João dos Santos de Almeida, popularmente conhecido como “Chinho”, de 36 anos.

A referida imagem, que está a circular nas redes sociais desde a manhã de ontem, foi associada à fotografia do cidadão Ladislau Bernardo, alegadamente por pessoas de má-fé e com propósito inconfesso.

Fernando de Carvalho, director de Comunicação do SIC/ Luanda, declarou ontem, no jornal da TV ZIMBO (órgão do Grupo Média Nova do qual OPAÍS faz parte), que o aludido retrato falado “não corresponde à imagem da pessoa que está ligada à morte do jogador Chinho, nem tão-pouco corresponde à outra imagem de qualquer caso que o SIC esteja a investigar”. Afirmou que não têm nenhuma imagem associada aos malfeitores que assassinaram o atleta, que contribuiu significativamente para que os angolanos disfrutassem de momentos de plena felicidade durante os jogos de futebol em que participara.

Garantiu que a sua instituição está a trabalhar arduamente para decifrar a proveniência desse retrato falado. Antes disso, Ladislau Bernardo e uma irmã compareceram no programa Fala Angola, considerado como o de maior audiência no país, com o intuito de negar o seu envolvimento nesse crime que chocou a sociedade angolana. Os restos mortais do ex-futebolista, brutalmente assassinado a tiro na Segunda- feira, por dois meliantes que seguiam a bordo de uma motorizada, vão ser sepultados hoje no Cemitério de Santa Ana.

“Até já, depois falamos”. As últimas palavras conhecidas de Chinho

O ex-futebolista João dos Santos de Almeida, conhecido nas lides desportivas como "Chinho", de 36 anos, foi assassinado, segunda-feira última, à luz do dia, com dois tiros na parte esquerda da coluna.

O incidente deu-se a sensivelmente 200 metros de uma esquadra móvel da Polícia Nacional, vulgarmente chamada "roulotte, que se encontrava completamente desguarnecida no momento, apurou o Jornal de Angola, no dia do incidente. Moradores da zona disseram ser normal a esquadra ficar abandonada.

No dia seguinte, ao voltar ao terreno para recolher mais informações, a equipa de reportagem desse jornal encontrou, surpreendentemente, dois agentes na referida esquadra, que aparentavam ter entre 45 a 50 anos. Disseram ter trabalhado na véspera do assassinato do jogador, tendo largado às 8h00 do dia do incidente, sem a renda chegar. Questionados se é normal abandonar o posto sem quem os substitua, a dupla de agentes usou o silêncio como resposta.

Testemunhas no local contaram que Chinho foi baleado por volta das 9h00, na rua que dá acesso às bombas de combustível da Pumangol, no bairro Sapu II, distrito Urbano da Cidade Universitária, em Luanda. Após os disparos, o jogador ainda conseguiu dirigir a viatura até uma distância de aproximadamente 100 metros, tendo a mesma ficado imobilizada até ser removida.

Os resultados da autópsia, fornecidos pela família do jogador, avançam que ele foi alvejado no braço esquerdo, tendo as balas atravessado e perfurado o coração e o pulmão. "Os projécteis ficaram encravados no seu corpo", salientou um membro da família.

Santos Pedro, uma das testemunhas no local, contou que "Chinho" estava a ser seguido, sem dar conta, por dois jovens que se faziam transportar numa motorizada. Depois de o ultrapassarem, ficaram à espera dele a uma distância de aproximadamente 30 metros. Quando ele ia se aproximando, prosseguiu a nossa fonte, um dos jovens, já com uma pistola na mão, colocou-se na direcção do carro, pedindo-lhe para parar. Segundo o relato, o jogador não atendeu ao pedido e acelerou o carro. Foi então que o jovem efectuou os dois disparos mortais contra o jogador.

"Antes de subir na mota, onde já estava o comparsa, ele ainda fez mais um tiro no ar, para afugentar algumas pessoas que já tentavam se aproximar do local", realçou. Angelina Job, outra testemunha, disse que depois da viatura em que seguia o jogador ficar imobilizada, várias pessoas que assistiram à cena tentaram socorrê-lo, mas fo-ram desaconselhadas por outras, alegando que o deviam deixar mesmo aí até que o Serviço de Investigação Criminal (SIC) chegasse.

"Quando nos aproximamos da viatura, ele ainda estava em vida", contou a cidadã, tendo acrescentado que viu o jogador a soltar os últimos suspiros. A mulher acrescentou que após a confirmação da morte, aproximadamente por volta das 10h00, o corpo só foi removido às 14h30.

"Até já ..."

Chinho perdeu a vida no dia de aniversário da filha. Antes, esteve, por volta das 8h00, na esplanada que geria naquela zona. No local, segundo um dos funcionários, não ficou por muito tempo, tendo permanecido apenas para deixar algumas orientações.

"À semelhança de outros dias, ele estava bem disposto, tendo inclusive, como era de hábito, contado algumas anedotas, que nos provocaram muitas gargalhadas", recordou um dos funcionários. Disse que Chinho estava muito feliz com a viatura que comprara há três semanas. "Alegre, ainda mostrou-nos algumas funcionalidades do carro", aclarou.

O mesmo trabalhador ressaltou que, antes de abandonar o espaço, que dista dois quilómetros do sítio onde foi baleado, o ex-futebolista, que tinha o pedido de noivado marcado para o dia 27 deste mês, fez o salário da funcionária de limpeza, pagou uma dívida e ofereceu dinheiro ao segurança do estabelecimento, para apanhar o táxi.

"Até já, depois falamos", foram as últimas palavras por ele proferidas, ao deixar o espaço.

O funcionário conta que não passaram 20 minutos, quando recebeu a ligação de um tio a avisar que o chefe tinha sido assassinado na rua da Pumangol. "Só acreditei depois de o ver. Ele não merecia tamanha barbaridade. Era uma boa pessoa", lamentou, aos prantos.

Adilson Jime, dono do espaço que o Chinho geria, contou que um dia antes do incidente falou demoradamente com ele por telefone. Ressaltou que o malogra-do não passava a ideia de alguém que estivesse triste com alguma situação, mas achou estranho o facto de o jogador lhe ter feito chegar o relatório das actividades por mensagem, um dia antes de ser assassinado.

"Normalmente, ele não mandava o relatório por mensagem", acentuou.

Família perdeu a “coqueluche”

Azevedo Francisco, tio materno do Chinho, e embaixador de Angola na Zâmbia, disse que a família não tem dúvida de que o jogador foi assassinado, tendo, por isso, apelado a quem de direito que esclareça o crime e que puna exemplarmente o autor. Com a voz embargada de emoção, o embaixador disse que a família perdeu a sua coqueluche.

"Perdemos um jovem promissor, que ainda tinha muito a dar para o país", frisou.

Maria Rosa de Almeida, mãe do Chinho, que sofre de hipertensão, tendo feito já um AVC, disse ter falado com o filho pessoalmente na quinta-feira passada, numa das visitas que efectuou à sua casa, para lhe deixar ficar uns valores que necessitava. Completamente desolada, explicou que conversou demoradamente com o filho, que em momento algum mostrou estar a viver algum problema.

No domingo, Chinho voltou a ligar para a mãe, apenas para saber se estava a passar bem o dia. De seguida, proferiu as seguintes palavras: “minha mãe, eu amo-te muito”.

Wiliam de Almeida, 19 anos, primeiro filho do jogador, ficou a saber da morte do pai da pior maneira: numa legenda que passava no rodapé do programa "Giro Desportivo", da TV Zimbo. OPAIS/JA

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