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Domingo, 16 Fevereiro 2020 01:20

Empresas de Isabel dos Santos sem investimento podem quebrar

Efacec é a principal preocupação em Portugal. Em Angola, supermercados e cervejas já sofrem feitos do arresto. Risco para trabalhadores aumenta.

Se a venda do Eurobic, ao que tudo indica aos espanhóis do Abanca, não fica afetada pelo arresto das contas bancárias de Isabel dos Santos em Portugal, concretizado nesta semana, outras das suas empresas aqui e em Angola poderão estar em risco. Isso mesmo confirmam ao Dinheiro Vivo fontes conhecedoras do processo. A empresária já anunciou que está vendedora das suas posições, “mas há dívida que tem o seu aval e Isabel dos Santos pode não aceitar ficar sem as participações se não puder livrar-se da dívida nem receber dinheiro da venda dessas fatias.”

É o caso, por exemplo, da Efacec, que foi adquirida e recuperada da pré-falência recorrendo a crédito e que hoje emprega 2600 pessoas, tendo quase duplicado lucros em 2018, para os 14,1 milhões de euros, com as vendas a somar 433,2 milhões. É uma empresa “muito importante, essencial para o futuro da indústria portuguesa, para os desafios da transição energética; o conhecimento que está ali acumulado tem de ser preservado”, alertou ainda há dias o próprio ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, afirmando estar a seguir o assunto com atenção. Também Paulo Macedo, presidente da Caixa Geral de Depósitos – um dos bancos que financiaram a compra, em 2015, e que tem uma exposição considerável à Efacec -, admitiu que “pode haver risco”, salvaguardando porém que a elétrica é “uma empresa muito relevante”.

“A posição do grupo Isabel dos Santos da Efacec foi adquirida com muita dívida. A Efacec é uma empresa portuguesa de produtos de qualidade, tecnologia e know-kow. Eu imagino que, neste momento, não exista a capacidade para servir essa dívida. Não falo da sustentabilidade da empresa, mas os veículos criados para fazer a aquisição da participação podem ficar muito fragilizados”, afirmou nesta semana o economista Pedro Hipólito, em entrevista à Deutsche Welle. Razão que dá um incentivo adicional às autoridades portuguesas para acompanharem de perto a criação de soluções que garantam que as empresas em que Isabel dos Santos tem participações em Portugal serão salvas.

Situação pior em Luanda

Há no entanto um risco acrescido em Angola, onde não só as contas mas também as participações da empresária foram arrestadas no final do ano passado. Se de início os riscos para os trabalhadores das empresas angolanas foram descartados, uma vez que o congelamento das participações não impedia a gestão corrente das empresas, com o passar do tempo os negócios mais recentes – e por isso menos consolidados – podem sofrer duramente com a impossibilidade de reforçar investimentos que os mantenham ou ajudem a crescer.

“No curto prazo a situação está normalizada e controlada, o que me preocupa é o médio prazo”, explicou esta semana à Lusa o administrador da Sodiba, Luís Correia. E nesse prazo o gestor do negócio das cervejas, uma parceria entre uma sociedade de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo e a portuguesa dona da Sagres, assume um risco bem real. “A Sodiba precisa de investimento contínuo e permanente. Sem a capacidade de os acionistas apoiarem, o risco de colapso será uma realidade a curto prazo”, afirmou o presidente da Sodiba, apontando março como o último mês em que a cervejeira terá recursos para funcionar, se a situação atual se mantiver. O responsável tinha já aprovado pelos acionistas um plano de negócios que passava pela injeção de perto de 3 milhões de euros para reforçar um negócio (sobretudo investimento em matérias-primas e vasilhame) que, em 2018 (último ano completo), vendeu 30 milhões de litros de cerveja em Angola, triplicando o valor de um ano antes. Dinheiro que não vai entrar tão cedo – nem é certo como poderá vir a chegar, uma vez que não é previsível a libertação dos bens da empresária e Luanda ainda não deu qualquer sinal de pretender tomar para si a gestão.

Também os supermercados de Isabel dos Santos, que estão entre os maiores empregadores de Angola, podem revelar-se um problema para Luanda. Tendo em conta que o país importa cerca de 90% daquilo que consome, o abastecimento de stocks nos Candando é maioritariamente garantido fora de Angola. E em qualquer empresa o grosso do investimento faz-se recorrendo a crédito. Quem vende não aceita kwanzas mas o negócio que se gera no país – as vendas de produtos – faz-se em moeda angolana. Sem dólares ou euros para comprar fora nem garantias para associar a novo crédito e com as obrigações de cumprir pagamentos, as dificuldades na gestão já se fazem sentir, garante quem está em Luanda. Dinheiro Vivo

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