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Sexta, 04 Julho 2025 20:07

João Lourenço participa na Cúpula dos BRICS nos dias 6 e 7 de Julho

A participação do Chefe de Estado angolano, João Lourenço, na Cúpula do BRICS, nos dias 6 e 7 de Julho de 2025, no Rio de Janeiro, mesmo na condição de convidado, representa um marco estratégico para a diplomacia angolana.

Perante um cenário internacional cada vez mais fragmentado, a presença de Angola neste fórum de nações emergentes pode abrir mais portas para cooperação económica, desenvolvimento tecnológico e protagonismo político no palco global.

Esta, aliás, não é a primeira vez que João Lourenço participa na cúpula, tendo-o já feito em 2018, na África do Sul, ocasião em que manifestou o desejo de Angola ser integrada no BRICS, e beneficiar de ajuda para a contínua tarefa de reconstrução nacional.

Na ocasião, prometeu que Angola irá fazer tudo para entrar na organização: "O vosso exemplo inspira-nos e motiva a trabalhar com a ambição de almejar o objectivo de um dia se poderem acrescentar outras letras à sigla BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul)".

Mais recentemente, em Maio, durante a visita de Estado efectuada ao Brasil, no quadro da cooperação bilateral, João Lourenço saudou a presidência pro tempore do país sul-americano no BRICS, e reforçou que os eixos prioritários por este escolhidos – cooperação do Sul Global e a reforma da governação global – são também linhas fundamentais da diplomacia angolana.

Por outro lado, desde que assumiu a liderança de Angola, em 2017, tem defendido uma diplomacia voltada ao crescimento económico, baseada na atracção de investimentos e na diversificação de parcerias internacionais.

Neste sentido, a inserção de Angola nos debates do BRICS é coerente com a sua política externa, que privilegia o multilateralismo, a integração africana e o desenvolvimento sustentável.

A presença do Presidente João Lourenço indica que Angola busca posicionar-se como parceiro estratégico, aproveitando o ambiente de abertura do grupo para o fortalecimento das relações com países em desenvolvimento.

Entretanto, a reunião dos BRICS ocorre num momento de expansão e redefinição do bloco, que, além dos membros fundadores (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) já incorporou novas nações e analisa formalmente o ingresso de outras dezenas

Cooperação Sul-Sul e novas alianças

O BRICS, consolidado como um dos principais blocos de cooperação entre países do Sul Global, tem se apresentado como uma alternativa concreta à ordem económica internacional dominada pelas potências ocidentais.

Com um PIB combinado que ultrapassa 25 trilhões de dólares e mais de 40% da população mundial, o bloco busca agora aumentar a sua influência, através da promoção de reformas na governação global e defesa de uma nova arquitectura financeira e comercial.

A participação de Angola nesse contexto pode render frutos em áreas-chave como infra-estrutura, energia, agricultura e inovação tecnológica.

O país poderá ainda beneficiar-se da experiência acumulada pelos membros do BRICS em desenvolvimento sustentável, gestão de recursos e industrialização.

Além disso, Angola poderá expandir as suas exportações e atrair investimento directo estrangeiro de potências como China, Índia e Brasil, parceiros históricos e estratégicos.

A recente aproximação comercial entre Brasil e China, por exemplo, com transacções realizadas em moedas locais, demonstra um novo paradigma de cooperação que pode inspirar acordos semelhantes, envolvendo Angola.

A geopolítica dos BRICS e o papel de Angola

A cúpula de 2025 ocorre num contexto internacional sensível.

A posse de Donald Trump nos Estados Unidos e o recrudescimento das tensões globais reacenderam a disputa por influência entre o Ocidente e os países emergentes.

O BRICS tem se consolidado como um contrapeso às potências tradicionais, mediante a implementação de reformas profundas em instituições como o FMI e o Banco Mundial.

Para Angola, estar presente nesse debate significa não apenas ganhar visibilidade, mas também ter voz em questões fundamentais para a África, como segurança alimentar, financiamento climático, paz regional e inovação tecnológica.

O país já desempenha papel relevante em fóruns multilaterais, como a ONU, e actua activamente na mediação de conflitos regionais.

Reforçar essa vocação diplomática por meio de um engajamento mais profundo com o BRICS pode aumentar o prestígio e a influência de Angola na arena internacional.

O protagonismo do Brasil e desafios

O Brasil assumiu a presidência rotativa do BRICS este ano (e vai até Dezembro) e as atenções estão viradas para o papel que o país na condução da agenda do bloco.

O governo brasileiro, liderado por Lula da Silva, aposta na consolidação do BRICS como um mecanismo de transformação social e económica, defendendo a cooperação Sul-Sul e a inclusão de temas como saúde global, segurança alimentar e sustentabilidade.

Entre os principais desafios estão a diversidade de interesses entre os membros, as tensões geopolíticas com os EUA e a complexidade da coordenação de projectos conjuntos.

A proposta de criar uma moeda comum para transacções internacionais, a ampliação do Novo Banco de Desenvolvimento e a incorporação de novos membros devem dominar os debates da cúpula.

Expansão e futuro do bloco

A reunião no Rio de Janeiro é também marcada pela continuidade do processo de expansão do grupo, pois, após a incorporação da Indonésia, o BRICS analisa formalmente o ingresso de mais de 20 países.

Essa expansão, no entanto, impõe desafios à coesão interna do grupo, especialmente diante das diferentes realidades económicas, políticas e diplomáticas de seus membros e candidatos.

A pluralidade do Sul Global, que vai de potências regionais como China e Índia a países em desenvolvimento como Angola, exige um novo modelo de cooperação mais horizontal e inclusivo.

A presença de Angola nesse processo pode representar o início de uma trajectória de engajamento mais profundo, contribuindo para a construção de uma nova ordem internacional mais justa e representativa.

Neste contexto, está claro que a participação do Presidente João Lourenço na Cúpula do BRICS de 2025 é mais do que um gesto diplomático. É sim um passo estratégico na afirmação de Angola como actor regional e global.

Diante dos desafios da globalização, da instabilidade política e das mudanças na economia mundial, o engajamento com o BRICS oferece a Angola a oportunidade de diversificar parcerias, atrair investimentos e fortalecer a sua voz nas grandes decisões internacionais.

A Cúpula do Rio de Janeiro poderá não apenas redefinir os rumos do bloco, mas também servir como ponto de inflexão para países como Angola, que buscam seu espaço num mundo cada vez mais multipolar.

O futuro permanece incerto, mas as portas estão abertas. Angola parece disposta a atravessá-las. ART/ADR

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