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Sexta, 17 Novembro 2017 23:40

Revolução na "galinha dos ovos de ouro" rompe com império dos Santos

Isabel dos Santos foi afastada da Sonangol. Purga também chegou aos irmãos Paulino dos Santos e ‘Tchizé’. Carlos Saturnino fica com o destino da "galinha dos ovos" nas mãos, com o objetivo de construir mais refinarias.

Por Pedro Bastos Reis

Uma das grandes dúvidas após a eleição de João Lourenço, que sucedeu ao legado de quase 40 anos de José Eduardo dos Santos como presidente de Angola, era perceber até que ponto o novo líder seria capaz de romper com a estrutura existente.

Não se sabe o que João Lourenço fará a seguir, mas o que é certo é que o dia 16 de novembro ficará na história angolana. Isabel dos Santos foi exonerada da Sonangol. A petrolífera estatal passa a ser liderada por Carlos Saturnino, que chegou a ser afastado da empresa pela filha mais velho de Eduardo dos Santos.

Mas o afastamento dos filhos de José Eduardo dos Santos, fortemente enraizados no sistema angolano, não se ficou por aqui. Welwitshea ‘Tchizé’ e José Paulino dos Santos foram afastados da gestão do canal 2 da Televisão Pública de Angola (TPA).

Se estas duas saídas foram sobretudo simbólicas, o caso de Isabel dos Santos causou muito mais impacto. “A memória é curta mas quando nós chegámos cá esta empresa estava numa situação difícil”, disse a empresária, utilizando as redes sociais para reagir.

Isabel dos Santos aproveitou ainda para reagir a um relatório do governo que criticava o estado da Sonangol. A empresária garante que deixa a petrolífera sem dívidas. Como legado, diz, fica ainda uma linha de financiamento no valor de dois mil milhões de dólares.

Carlos Saturnino fica com a “galinha dos ovos de ouro”

Esta sexta-feira, começa um novo capítulo em Angola e os próximos meses serão decisivos para perceber o rumo traçado por João Lourenço. O presidente criou uma comissão de trabalho, que tem um mês para apresentar um plano de melhoria no setor.

João Lourenço já deixou um desafio à nova administração da Sonangol, bem como aos responsáveis do ministério dos recursos minerais e dos petróleos: a construção de uma ou mais refinarias, para que o país deixe de importar combustíveis. O investimento poderá passar ou pelo setor público ou pelo privado. Atualmente, Angola produz 1,7 milhões de barris de petróleo por dia, o segundo maior produtor de África, a seguir à Nigéria.

"O nosso país tem grandes potencialidades para a produção não só do petróleo, mas também do gás e aproveitaria esta oportunidade para exortar aos empossados e juntamente às petrolíferas trabalhassem no sentido de garantir, não só o presente, mas um bom futuro para a indústria angolana”, afirmou o presidente angolano, citado pelo Jornal de Angola.

"Deixo em vossas mãos a responsabilidade de encontrar uma solução para que o país tenha uma refinaria, não importando que o investimento seja público ou privado”, acrescentou.

Carlos Saturnino é o homem que se segue na petrolífera estatal e tem de “cuidar bem” da “galinha dos ovos de ouro”, como referiu João Lourenço.

Nesse sentido, Saturnino, que esteve ontem ao lado do novo secreário de estados dos petróleos, Paulino Fernando de Carvalho Jerónimo, fez um aviso aos colaboradores da Sonangol e deixou algumas pistas relativamente ao rumo que pretende seguir.

“A actuação do grupo Sonangol tem como base a humildade, muita dedicação, disciplina, seriedade, flexibilidade para entender todos os intervenientes da indústria petrolífera, capacidade, conhecimento, firmeza na defesa dos interesses do país e da Sonangol, além de rigor na análise e ponderação na tomada de decisão", sublinhou Saturnino.

O novo presidente do conselho de administração prometeu diálogo na petrolífera, de forma a “criar as bases para redesenhar, não só o grupo Sonangol, mas também o negócio mesmo no país”.  NM

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