Sexta, 26 de Abril de 2024
Follow Us

Domingo, 28 Janeiro 2018 13:27

Faltam médicos em Angola mas há 1.500 desempregados

Mais de 1.500 médicos, que terminaram a formação  nos últimos anos em instituições públicas e privadas do país e no estrangeiro, estão no desemprego, revelou ontem, em Luanda, o secretário de Estado da Saúde para Área Hospitalar.

Altino Matias, que falava ontem durante o 1º congresso do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola (SINMEA), referiu que o Executivo tem feito investimentos para inverter o quadro, com o recrutamento de alguns desses formados em Medicina para o sector, a julgar pela capacidade real da economia do país.

Estes esforços, disse o secretário de Estado, fazem parte de um pacote de acções, no âmbito da reestruturação do sector, em que se destacam também a questão das carreiras da saúde, com vista a sua actualização ao contexto técnico-científico e social.

Nesta altura, Angola tem seis mil e 400 médicos para uma população de cerca de 28 milhões de habitantes, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o país deve dispor de 28 mil destes profissionais a trabalhar.

Embora as autoridades tenham apostado na formação de quadros, a contrariedade surge do facto de as instituições que velam pelo enquadramento no sistema público dos tais médicos se mostrarem incapazes, lamenta o presidente do SINMEA, Adriano Manuel.

O médico pediatra salienta que o quadro deve ser alterado o mais urgente possível, uma vez que a OMS recomenda que, para cada mil habitantes, exista um médico.

“Nós temos actualmente apenas um médico para cerca de quatro mil e 400 habitantes”, disse Adriano Manuel para quem “isso exige grandes esforços dos profissionais para conseguir humanizar os serviços de saúde”.

No seu mandato de três anos, o presidente do SINMEA disse que o enquadramento de médicos desempregados no Sistema Normal de Saúde vai constar das prioridades, defendendo que os resultados dos investimentos do Estado devem ter repercussões na vida das comunidades.

Adriano Manuel reconhece que o Governo gastou avultadas somas no processo de formação de médicos, com a criação de várias unidades orgânicas, com destaque para as faculdades de Medicina de Benguela, Cabinda, Huambo e de Malanje, além das instituições pertencentes às Forças Armadas Angolanas (FAA).

O responsável do sindicato revelou que dos mil e 500 médicos fora do Sistema Nacional de Saúde mais de 800 foram formados pelas instituições académicas públicas, sendo que se juntam a esses os das universidades privadas e os bolseiros externos. “Só os provenientes de Cuba, por exemplo, são cerca de 200 médicos e todos desempregados. Temos de mudar esse cenário”, apelou.

Baixos salários

Outras situações que preocupam os médicos têm a ver com os baixos salários, péssimas condições de trabalho, falta de materiais gastáveis e de equipamentos nos hospitais. Mas, apesar disso, o responsável apelou os membros do sindicato para olharem para a realidade actual do país e darem o melhor de si.

Adriano Manuel considerou desagradável e desencorajadora a remuneração do médico afecto às unidades hospitalares públicas, daí que muitos profissionais optem em fazer medicina no privado, por causa das condições salariais. Por isso, o sindicato vai trabalhar com o Ministério de Saúde, para que, junto dos órgãos de decisão, revejam essa situação e façam um orçamento que se adeqúe à realidade da saúde angolana.

Quanto aos médicos que se dedicam à “turbo medicina”, ou seja, labutam nas instituições estatais e privadas, em simultâneo, Adriano Manuel disse que a situação é compreensível, em função dos salários que se auferem no exercício da profissão.

“Confesso-vos que, se não estivesse também a trabalhar numa clínica, teria sérias dificuldades de manter a minha vida e a da minha família como a que tenho hoje, porque ganha-se muito mal no Estado”, desabafou o médico do Hospital Pediátrico David Bernardino, em Luanda.

Apesar disso, o médico sindicalista apela para que os profissionais de saúde pensem antes no homem paciente, na medida em que ,defende, neste “metier”  o dinheiro é algo que deve vir depois. Questionado sobre o tecto mínimo do salário de um médico, Adriano Manuel avançou que os que terminam a formação e enquadrados no Sistema Nacional podem auferir entre 160 a 180 mil kwanzas, valores que considera irrisórios para o trabalho que os médicos desenvolvem em prol da saúde das pessoas, principalmente na prevenção e tratamento de doenças.

Trabalho conjunto

O SINMEA, constituído ontem, deve trabalhar em estreita colaboração com a Ordem dos Médicos de Angola, por não serem instituições adversárias, embora diferentes quanto à natureza jurídica e à forma de abrangência, alertou o secretário de Estado.

Altino Matias explicou que a Ordem é  a associação  profissional que regula a  deontologia dos médicos, emite a cédula e promove a qualificação dos membros através da concessão de títulos de diferenciação activa no ensino pós-graduado, entre outras tarefas.

O sindicato é uma associação na qual os médicos são livres de se filiarem ou não. Está vocacionado à defesa dos direitos e interesses dos profissionais filiados, negociação colectiva de harmonia com a lei. JA

Rate this item
(0 votes)