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Quarta, 11 Julho 2018 21:23

Angolanidade: nação e nacionalismo dos nossos heróis

ANGOLANIDADE: Expressão cuja ascendência teve de Mário Pinto de Andrade seu ponto de partida, mas que nos parece emergia da inspiração sapiente de Viriato da Cruz, para exprimir a identidade angolana, o amor profundo à pátria angolana em seus poemas e prosas nos tempos das trincheiras anti – coloniais feitas com esferográfica, lápis e borrachas no CEI.

Por João Henrique Hungulo

A identidade angolana contagiou a manifestação cultural e intelectual do passado, porém, nunca tinha sido usada a expressão “angolanidade”, até que Mário Pinto de Andrade à trouxe à ribalta. Há autores que atribuem à Viriato da Cruz sua ascendência ideológica, pela ironia do destino, o nacionalista Viriato da Cruz não nos faz memórias de tal expressão em pauta física de seus escritos, talvez a tenha utilizada pela palavra falada, nunca a tenha escrita, porém, é de Mário Pinto de Andrade, a marca primitiva da sua escrita, era Mário Pinto de Andrade, o primeiro à utilizar tal célebre expressão, embora o manifesto “Vamos descobrir Angola”, de certa forma, de maneira abstracta, traz o sentimento profundo da angolanidade sentida na pele e na carne, mesmo que não se soubesse ecoar à vocábulo. Foi na voz de Mário Pinto de Andrade onde saltou tal expressão pela primeira vez para a natureza. Carlos Serrano, antropólogo angolano, professor de Antropologia na Universidade de São Paulo, disse ser Viriato da Cruz o ideólogo da angolanidade, mas em nada fala sobre a origem da expressão “angolanidade”. O Jornal de Angola num dos seus artigos de opinião intitulado “Expressão telúrica da angolanidade”, vem à ribalta atribuir à Viriato da Cruz o papel de pioneiro da “angolanidade”, porém, em nada fala, no que concerne o uso da mesma pela primeira vez, tanto o professor Serrano como o Jornal de Angola, não se referem à palavra “angolanidade”, mas sim, a luta à favor do patriotismo e da defesa dos interesses culturais puros de Angola, como presente no manifesto onde Viriato da Cruz é pioneiro: Vamos descobrir Angola”,  sem sobra de dúvidas, Viriato da Cruz é uma das vozes mais salientes no processo diacrónico de fundação da Literatura Moderna Angolana.

      Pela ironia do destino, faz – se verdade, ao se atribuir ao nacionalista Mário Pinto de Andrade, a origem da expressão “angolanidade”. Pesquisadores e cientistas sociais têm apresentado em suas teses a expressão angolanidade de ser usada pela primeira vez por Mário Pinto de Andrade, eis um trecho originário do discurso de Mário Pinto de Andrade em tempos de trincheiras, onde traz em pauta a expressão “angolanidade” pela primeira vez: 

“A angolanidade requer enraizamento cultural e totalizante das comunidades humanas, abraça e ultrapassa dialecticamente os particularíssimos das regiões e das etnias, em direcção à nação. Ela opõe-se a todas as variantes de oportunismo (com as suas evidentes implicações políticas) que procuram estabelecer uma correspondência automática entre a dose de melanina e a dita autenticidade angolana. Ela é, pelo contrário, linguagem da historicidade dum povo – Mário Pinto de Andrade.

A NAÇÃO DOS NOSSOS HERÓIS

     Nação é alma, consciência, sentimento, humanismo, cidadania e apotegma de valores. Nação é o povo na intuição da fraternidade, da justiça e da liberdade; nação é direito, integridade e dignidade cívica na comunhão do destino, na solidez compacta dos valores, no património dos tempos onde jaz a grandeza das tradições; na memória perpétua e colectiva da identidade, na corrente das ideias que fazem perene a energia dos heróis como Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, António Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos e Lúcio Lara. Nação é o povo e a sua a alma da sua cultura, a sua tribo, a sua origem, o seu folclore, a sua identidade e as suas línguas. Nação é o espírito que chama o povo à manter – se uno na adversidade e estóico na amargura dos reveses. Nação é a marcha para a universalidade, o caminho moral do homem em direcção às apoteoses do triunfo e a bem-sucedida convivência de todas as parcelas sociais. Nação é sacrifício de grandes heróis que sobrelevaram – se ao impossível e romperam as algemas do passado com espírito de abnegação e sangue nas causas que confinam com o heroísmo do género humano. Nação é também a expressão da imortalidade de heróis como Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, António Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos, Lúcio Lara,  Hugo Azancot de Meneze, Eduardo Azevedo dos Santos, Américo Boa-vida e tantos outros, que salvaram o povo calcinado de dores, mas resgatado de esperanças. Nação é o culto do solo, o génio da língua, a inspiração da alma, a música do patriotismo, a fé da religião, a força da ideologia, a vocação da liberdade e do direito; todos esses valores que as gerações memorizam e consagram, movidas na esperança, e no propósito do pensamento de fazê-los eternos e indestrutíveis como as forças supremas da natureza, sobre as quais não tem o homem jurisdição para cominar-lhes a pena capital e extingui-las.

      Nação é a pátria que gera os bravos, os justos, os artesãos do progresso e da civilização, tecendo o fio da igualdade para estendê-lo a todas as esferas sociais; nação é a pátria mesma que se diz não à soberba, não ao racismo, não ao ódio, não ao privilegio, não ao preconceito, não à discriminação, não à vingança, não à perseguição, não ao tribalismo, não ao regionalismo, não ao separatismo, não à marginalização social, não à segregação regional. Nação é alma do nacionalismo de Viriato da Cruz, Neto, Pinto de Andrade, Tchiweka, Zé Do, que encarnaram no seu âmago o espírito de defender até ao ultimo recurso o País e o seu povo. Nação é o espírito de sacrifício de nacionalistas que preferem pagar com a vida a liberdade da terra e dos homens.

      Nação é o sumário que psicologicamente liberta o ser humano dos cativeiros espirituais e das sujeições materiais por onde se lhe corrompe a índole; é do mesmo passo o compromisso pela causa dos oprimidos; o pavilhão dos combatentes patriotas soerguendo o braço e a voz das resistências constitucionais para colocar o Estado ao serviço dos magnânimos interesses sociais que fazem a dignidade do homem elevar-se às alturas da fruição de todos os direitos fundamentais possíveis no País. Nação é a história e o idioma que forja o elo de união das gerações passadas, coevas e por-vindouras, projecta assim a imortalidade da pátria e dos seus lídimos heróis à eternidade do direito natural na consciência dos homens.

Nação é a pátria e os seus valores, os seus símbolos, a sua bandeira, o seu hino nacional, a sua insígnia, o orgulho imortal de seu grandes heróis e guerreiros implacáveis que a defendem até aos limites do impossível e do sacrifício, que se colocam na fronte do perigo dando o seu próprio corpo ao ferro e ao confronto como a carne para a ser queimada pelo grito das armas, nação é o amor à pátria de seus cidadãos, na unidade e na fraternidade como um povo indivisível consagrado na existência da irmandade e solidariedade de todos.

O NACIONALISMO DOS NOSSOS HERÓIS

      Nacionalismo: palavra que reserva no seu âmago a dualidade de origem, de dois termos:

  • Gen: nascer, fazer gerar);
  • Natus: filho.

      Os termos citados acima deram lugar ao surgimento das palavras natio, nationis, nativus, mais tarde vem desses mesmos termos a palavra nacionalismo. No latim, natio definia um grupo de homens, vinculados a uma origem comum, já assinalada pela consciência de sua unidade e o desejo de uma vida solidária. Esse sentido epistemológico da linguagem que dá corpo à sua genealogia migrou – se à língua francesa revelando – se na expressão francesa nation, que o Grand Robert, fundado na autoridade de Wartburg, acredita que data do século XII.

      Esse sentido denotativo da palavra nação veio do tempo à mercê do passado e alugou – se à outros contornos linguísticos, servindo para significar a designação que se dá à grupos de pessoas unidas por um vínculo, que tanto podia ser racial como cultural. Montesquieu fez o seu estilo, e forçou o uso da palavra numa outra parada filológica para designar um grupo de homens sujeitos à influência de diversos factores como o clima, a região, as leis, as sentenças de governo, os exemplos do passado, os costumes, os hábitos, reunidos num espírito geral que não se distancia muito da noção do carácter nacional.

      Esse surpreendente olhar de Montesquieu mereceu a revisão de L’esprit des lois, que, lhe fez acrescer mais sal para pôr o gosto ao paladar do ouvido, implicando que em cada nação, um desses factores actua de maneira mais poderosa, os outros lhe facilitam o caminho. As escritas que recorreram – se ao pensamento de Montesquieu revelam que natureza e o clima dominam quase exclusivamente os povos selvagens. Mas os chineses sofrem mais a influência das maneiras e, de qualquer forma o que se impõe como norma suprema é zelar pela conservação e afirmação desse espírito geral, que inspira e distingue as nações.

      Nessa acepção, o vocábulo se aproxima do significado de povo, embora com um grau mais elevado de integração, que uniu – se e identificou – se com os grupos, desde que evoluíram do clã à tribo, e desta à nação”. 

      Qualquer nação, enquanto corpo social, leva décadas a sarar e se recuperar de um conflito com a multiplicidade e a dimensão que o nosso teve, neste prisma, aqueles heróis, que se colocaram de carne e ossos à dispor do enxofre de balas e canhões para salvar o País da hedionda ferida do passado que o perseguiu há décadas, devem sempre merecer o louvor precioso com o mais alto siso da gratidão, pelo patriotismo, nacionalismo e humanismo que os identificou em grandes heróis e patriotas de casta angolana.

BEM – HAJA AOS NOSSOS HERÓIS

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