Sexta, 26 de Abril de 2024
Follow Us

Sábado, 11 Janeiro 2014 12:49

Morreu o ex-premier israelense Ariel Sharon

A notícia está a ser avançada pela rádio do Exército israelita, citando a família. Ex-primeiro-ministro de Israel, que estava em coma desde 2006, ganhou fama de linha-dura, mas projetou negociações de paz

Após oito anos de coma profundo em razão de um acidente vascular cerebral, o ex-primeiro-ministro israelense Ariel Sharon, 85 anos, morreu neste sábado. Sua condição de saúde se agravou na quarta-feira, depois de ter problemas renais e passar por uma cirurgia. Sharon agonizava desde 4 de janeiro de 2006, quando sofreu um derrame e, desde então, estava em coma profundo.

Um dia antes do acidente vascular, Sharon parecia um pouco cansado, mas bem-humorado em sua última entrevista, concedida a um jornal japonês. Reiterou posições antigas, como considerar Jerusalém "capital única e indivisível" de Israel, e disse que não promoveria novas retiradas unilaterais de territórios palestinos ocupados – referindo-se à remoção de 8,5 mil colonos judeus da Faixa de Gaza em seu governo, feito surpreendente para quem foi considerado o paladino da colonização dos territórios palestinos.

Nascido em 1928 no kibutz Kfar Malal, ao norte de Tel-Aviv, na então Palestina sob mandato britânico, filho de pais emigrados da Rússia soviética, Sharon ingressou na vida pública como militar. Em 1947, ano da partilha da Palestina entre judeus e árabes por decisão da ONU, o jovem Ariel Sharon (ou simplesmente Arik) integrou-se à Haganah, milícia judaica semiclandestina que se tornaria o embrião das futuras Forças de Defesa de Israel (FDI). Lutou em todas as guerras contra forças árabes desde 1948 e foi ferido em duas ocasiões.

Em 1950, liderou operações militares contra tropas do Egito na Faixa de Gaza. Em 1953, interrompeu estudos na Universidade Hebraica para criar as forças especiais conhecidas como Unidade 101 e, depois, as unidades de paraquedistas. Liderou operações de punição, das quais a mais violenta terminou em 1953 com a morte de quase 60 civis na localidade palestina de Kibia. Em 1969, à frente das forças especiais das FDI, debilitou a resistência em Gaza, território palestino ocupado por Israel na Guerra dos Seis Dias, dois anos antes. A consagração militar ocorreu na Guerra do Yom Kippur, em outubro de 1973, ao desobedecer ordens e atravessar o Canal de Suez para cercar o exército egípcio.

Naquela década, decidiu seguir carreira política e foi escolhido como braço direito do fundador histórico da direita nacionalista, Menachem Begin, que chegou ao poder em 1977.

Em 1982, como ministro da Defesa, ordenou uma ofensiva militar desastrosa: a invasão do Líbano, em 1982, para expulsar a Organização pela Libertação da Palestina (OLP), comandada por Yasser Arafat, que havia se instalado em Beirute. À época, foi responsabilizado pela chacina de cerca de 3 mil pessoas nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila – o que lhe custou o cargo. Apesar do apelido de "Açougueiro de Beirute", galgou posições ocupando cargos de primeiro escalão.

Na pasta de Habitação, promoveu grande expansão dos assentamentos judaicos e ganhou espaço até que, em 28 de setembro 2000, sua visita à Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém Oriental, terceiro local sagrado do Islã, provocou indignação palestina. No dia seguinte, explodiu a segunda Intifada, que derrubou o primeiro-ministro Ehud Barak, seu opositor. Com a promessa de esmagar a revolta palestina, foi eleito premier em fevereiro de 2001 e reeleito em janeiro de 2003. Como primeiro-ministro, foi o idealizador do projeto de fixar as fronteiras de Israel. Ele queria a separação dos palestinos, mas sob as condições de Israel.

Como nenhum outro dirigente, colocou sob suspeita o sonho do Grande Israel ao ordenar a retirada da Faixa de Gaza, em 2005, após 38 anos de ocupação. Até então, ninguém havia se atrevido a tocar na política de colonização para desmantelar assentamentos, mas Sharon concluiu que Israel tinha de renunciar a manter todos os territórios conquistados na guerra de 1967 se desejava continuar sendo um "Estado judeu e democrático".

No final de 2005, deixou o Likud e fundou o centrista Kadima. Antes de sofrer o derrame, as pesquisas indicavam que o novo Kadima conquistaria um quarto das cadeiras do parlamento e, Sharon, o terceiro mandato.

Sua vida pessoal foi marcada por tragédias. A primeira mulher, Margalith, morreu em um acidente de carro em 1962, e o único filho do casal, Gur, morreu em 1967 quando ele e um amigo brincavam com um rifle do pai.

Sha­ron, en­tão, ca­sou-se com a sua cu­nha­da Lily, ir­mã mais no­va de Mar­ga­lith, mãe de seus dois ou­tros fi­lhos, Om­ri e Gi­lead. Lily mor­reu em 2000.

SHARON, DE LINHA-DURA A MODERADO

Ao longo do mandato como primeiro-ministro, Ariel Sharon moderou sua posição radical na relação com os palestinos. Aceitou dialogar com antigos inimigos ao mesmo tempo em que defendeu um plano unilateral de retirada dos Territórios Palestinos. Sua postura foi aprovada pelos israelenses, mas gerou atritos tanto com a direita de Israel quanto com lideranças palestinas. Veja os principais acontecimentos de seu governo:

1 - O início

Em 28 de setembro de 2000, antes de se tornar primeiro-ministro, Ariel Sharon causou polêmica ao visitar a Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém. O local, onde fica a mesquita de Al-Aqsa, é considerado um dos mais sagrados para os muçulmanos. Furiosos, os palestinos enfrentaram a polícia, que reagiu com balas de borracha. Era o início da Intifada.

2 - O conflito

A Intifada, termo que pode ser traduzido como levante, foi a reação violenta dos palestinos contra a ocupação de Israel. As táticas para enfrentar soldados e civis israelenses variava desde o uso de pedras até atentados suicidas. Até 2005, quando um cessar-fogo interrompeu momentaneamente as hostilidades, quase 4 mil pessoas haviam morrido, a maioria palestinos.

3 - O cerco

De 2002 até pouco antes de sua morte, no fim de 2004, o líder palestino Yasser Arafat viveu confinado em seu quartel-general em Ramallah, na Cisjordânia. O cerco à cidade foi uma resposta de Sharon à "pouca disposição" de Arafat em conter os constantes atentados terroristas contra israelenses.

4 - O muro

Em junho de 2002, os israelenses começaram a construir uma "barreira de proteção" entre Israel e a Cisjordânia para evitar ataques palestinos. A obra foi criticada pela ONU e por entidades de direitos humanos. Com extensão prevista de 350 quilômetros, o muro é alto em alguns pontos e possui dispositivos eletrônicos capazes de detectar infiltrações, fossas antitanques e torres de observação.

5 - O plano

Sharon é o autor da ideia de retirada unilateral da Faixa de Gaza e de quatro colônias do norte da Cisjordânia, onde israelenses viviam desde 1967. Posto em prática, seu plano foi concluído em 12 de setembro de 2005, depois de protestos da direita israelense e de colonos insatisfeitos. Apesar de líderes palestinos não terem participado da decisão, a iniciativa foi interpretada como o primeiro caminho para a criação de um estado Palestino na região.

6 - O acordo

Em 8 de fevereiro de 2005, Sharon e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, selaram uma trégua histórica, pondo um fim à Intifada. Apesar de ter sido desrespeitada várias vezes pelos dois lados ao longo do ano, o acordo marcou a reabertura do diálogo entre israelenses e palestinos.

Zero Horas / A24

Rate this item
(0 votes)