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Sexta, 03 Outubro 2025 20:38

Cidadãos estrangeiros podem ser angolanos por 100 mil kwanzas no Icolo e Bengo

Funcionários da Loja de Registos do Zango-01 estão a ser acusados pelos utentes de estarem a envolver-se em práticas de corrupção e formação de quadrilha, na emissão de documentos, uma situação que é do domínio dos responsáveis locais que nada fazem para travar tal comportamento. Dizem, por exemplo, que a corrupção está em alta que por mais de 100 mil Kwanzas, um cidadão estrangeiro pode obter o Bilhete de Identidade angolano.

Há vários meses, os utentes recorrem ao Jornal Na Mira do Crime, pedindo socorro e denunciando a corrupção severa que existe naquela repartição. A nossa equipa de reportagem trabalhou sob disfarce na Loja de Registos do Zango-01 para constatar os factos. Falou com os utentes que estavam na parte de fora da repartição à espera pelo atendimento.

Sem rodeios, alegam que a quadrilha tem como líder uma responsável sénior da Loja, que terá colocado uma das suas filhas nos serviços de limpeza para acompanhar de perto o esquema de fora para dentro.

O esquema, além da trabalhadora sénior que o comanda há vários anos, inclui um grupo de trabalhadores corruptos da limpeza e funcionários da identificação e um segurança que trabalha no registo civil e braço direito da chefe do grupo, todos devidamente identificados por este jornal, para além dos mixeiros que ficam de plantão na rua e na porta da identificação, a chamar pelos clientes.

O cenário compõe-se a partir das 09 horas da manhã, quando a Chefe da repartição chega. Ela reúne todos os seus trabalhadores numa sala que foi feita para ser o refeitório da loja. Aí, Natália distribui as tarefas do dia, dando a cada um documentos assinados por ela com um valor estipulado.

O utente que quiser tratar o BI deve chegar à repartição às 4 ou às 5 horas da manhã e lhe é dado um número de ordem de chegada, mas quem chega às 9 ou às 10 horas não é atendido.

Os preços cobrados para tratar qualquer documento na identificação, por pessoa, variam entre 10 e 60 mil kwanzas. Se um cidadão estrangeiro solicitar um Bilhete de Identidade, lhe é cobrado um valor superior a 100 mil kwanzas.

Às 14 horas, a chefe da quadrilha chama todo o seu elenco para distribuir o dinheiro adquirido de forma ilegal. Os “mixeiros” que são chamadores de clientes são tidos e achados na hora da distribuição do “rendimento”.

Além de actos de corrupção, a Loja de Registos do Zango-01 enfrenta sérios problemas de falta de sistema e de energia eléctrica.

Amélia Manuel, uma das denunciantes, conta que lhe foram cobrados 15 mil kwanzas para a renovação do seu BI. “Meu bilhete caducou há dois meses, tento tirar segunda via, mas não consigo. Paguei o RUP ao preço de 400 kwanzas no banco para tratar a segunda via. Quando eu estava na fila, um jovem não identificado chamou-me e disse que tinha convênio com os trabalhadores de dentro e que podiam facilitar”, revelou, sublinhando que não tinha a quantia exigida.

Estranho é que, a partir daquela altura, sempre que se dirige ao posto de emissão do BI dizem-lhe que não há sistema.

Senhor Francisco, utente, diz que o grupo de trabalhadores da identificação estão taxados como criminosos que actuam legalmente e aos olhos das autoridades.

“A repartição de identificação do Zango-01 é antiga, tanto quanto o esquema, aos olhos de todos, até mesmo da Polícia. A Chefe Natália não trabalha, tem ido apenas dividir as tarefas do dia dos seus trabalhadores e pegar o dinheiro, fiscalizado pela sua filha Marta que trabalha na limpeza”, acusou.

“O meu apelo é que eles todos sejam detidos o mais rápido possível. Somos pobres, eles só estão a nos prejudicar. Queremos todos os trabalhadores corruptos fora dos cargos que ostentam”, exigiu.

A reportagem deste Jornal procurar entrar em contacto com Natália Licilio, responsável da Loja de Registo, mas não se encontrava no seu local de trabalho, por razões desconhecidas.

Justiça do Icolo e Bengo promete mudar o quadro

Contactamos a Delegada Provincial da Justiça do Icolo Bengo, Adalgiza Serafina. Ela disse não ter conhecimento do que tem acontecido na identificação, justificando que “estou neste cargo há três meses, sou nova. Estou a tomar conhecimento das coisas aos poucos. Não sei nada sobre este facto. Se supostamente existe uma corrupção, deve ser algo antigo”, afirmou, pedindo ao Jornal Na Mira do Crime para que lhe dê tempo para trabalhar e investigar também.

“Não publiquem a matéria sem antes eu dar uma resposta. Tenho de trabalhar nesta missão. Daqui a algum tempo, se vocês notarem que nada mudou e a corrupção continua, aí sim podem publicar a matéria", recomendou.

No entanto, para não dar espaço aos corruptos e a quadrilha, o Jornal publica o conteúdo e apela mais trabalho a responsável da Justiça no Icolo e Bengo, e garante que nas próximas semanas ou meses, estaremos na mesma Loja de Registo para saber a quantas anda o processo. NM

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