Print this page
Terça, 16 Julho 2024 17:55

Novo irritante: Portugal e Angola ‘lutam’ pelos bens de Isabel dos Santos

Portugal e Angola têm em mãos um novo “irritante” judicial nas relações bilaterais: de acordo com o ‘Jornal de Negócios’, os bens de Isabel dos Santos arrestados em Portugal continuam sem chegar a Luanda para compensar o que se considera serem os prejuízos causados pela empresária ao Estado.

A situação dos bens de Isabel dos Santos arrestados em Portugal e a circunstância de Angola continuar sem receber o património ou o dinheiro destinados a compensar o que considera serem os prejuízos causados ao Estado pela empresária, está a assumir-se com um novo “irritante” judicial nas relações bilaterais.

O caso ainda não atingiu notoriedade política, mas tem vindo a incomodar Angola. Sobretudo a de Eduarda Rodrigues, a diretora do Serviço Nacional de Recuperação de Ativos (SENRA) da Procuradoria-Geral da República (PGR). A procuradora tem estado em Portugal, em contacto com as autoridades judiciais, e mostra-se desapontada com os resultados até agora obtidos, segundo fontes ouvidas pelo Negócios. O desconforto, de acordo com os mesmos interlocutores, é crescente.

Angola acreditava que a devolução dos bens de Isabel dos Santos arrestados em Portugal desde 2020 seria célere, mas tem-se verificado a existência de um conjunto de entropias de natureza legal que estão a travar a transferência. A irritação é tanto maior na medida em que o caso Isabel dos Santos constitui uma das bandeiras da governação de João Lourenço e a recuperação desses bens possui uma inegável componente política.

A expressão “irritante” ganhou relevo nas relações entre Portugal e Angola quando o Presidente deste país, João Lourenço, a usou para classificar o facto de a justiça portuguesa não ter acedido ao pedido de transferir para Luanda o processo que envolvia o ex-vice-Presidente da República, Manuel Vicente. João Lourenço fez a proclamação em janeiro de 2018 e em maio do mesmo ano o “irritante” desapareceu com a transferência do mesmo.

Participações empresariais e património imobiliário

Os bens arrestados pela justiça portuguesa dividem-se em duas categorias, participações empresariais e contas bancárias.

De fora terá ficado o património imobiliário. Isabel dos Santos tem dois apartamentos num edifício localizado na Avenida António Augusto de Aguiar, em Lisboa, um 8.º e um 9.º andar, que no total terão uma área de 730 metros quadrados. O Ministério Público considera ainda que Isabel dos Santos é proprietária de uma mansão na Quinta do Lago, Algarve, avaliada em mais de três milhões de euros.

No plano empresarial, Isabel dos Santos possuía 26% da Nos, 42,5% do Eurobic, através das sociedades Santoro Financial Holding SGPS, S.A., e Finisantoro Holding Limited (sociedade de direito maltesa) e 71,73% da Efacec.

No caso da Efacec, o Governo nacionalizou em 2020 a participação de Isabel dos Santos. Na altura, o Executivo adiantou que se tratava de operação temporária e que a mesma seria paga quando fosse definido o titular efetivo desta participação. Entretanto, a Efacec foi vendida em novembro de 2023 ao fundo alemão Mutaris, o qual acordou injetar 15 milhões de euros na empresa. Todavia, as contas com o Estado angolano, que reclama ser o efetivo proprietário posição de Isabel dos Santos, as contas continuam por fazer.

No caso do Eurobic, os espanhóis da Abanca fecharam na passada semana a compra de 100% do banco por cerca de 300 milhões de euros, o que significa que a participação de Isabel dos Santos vale 127,5 milhões de euros.

Já no que se refere à Nos a posição acionista está arrestada e dos dividendos referentes a 26% do capital estarão à guarda do tribunal. A operada de telecomunicações tem uma capitalização bolsista de 1,82 mil milhões de euros, sendo que 2020, por altura do arresto, a participação da empresária angolana estava avaliada em 590 milhões de euros. No caso da Nos, as razões invocadas para a demora na entrega da mesma à justiça angolana têm a ver com a circunstância de envolver jurisdições de outros países, neste caso dos Países Baixos, onde Isabel dos Santos tem registadas muitas das suas empresas.

Isabel dos Santos diz que Portugal obedece a Angola

O arresto das ações, património e contas bancárias de Isabel dos Santos foi ordenada pelo juiz Carlos Alexandre em março de 2020, dando cumprimento a uma carta rogatória de Angola que havia chegado à Procuradoria-Geral da República portuguesa a 28 de janeiro desse mesmo ano.

Isabel dos Santos, numa entrevista à Rádio Essencial, concedida em janeiro deste ano, queixou-se do segredo de justiça, de não ter “acesso a nada” e não saber de que é acusada “porque a PGR de Angola não deixa” e dá “ordens diretas às autoridades portuguesas”.

Isabel dos Santos vive em permanência no Dubai desde 2020. A opção surgiu após o Tribunal Provincial de Luanda ter decretado, a 30 de dezembro de 2019, o arresto preventivo das suas contas bancárias e embora seja alvo de um mandato de captura internacional, as autoridades angolanas têm falhado na sua detenção. Jornal de Negócios

Rate this item
(0 votes)

Latest from Angola 24 Horas

Relacionados

Template Design © Joomla Templates | GavickPro. All rights reserved.