Falando sobre o percurso de Angola durante os 50 anos de independência, que serão celebrados em 11 de novembro de 2025, o líder fundador do Partido de Renovação Social (PRS, oposição), em novembro de 1990, lamentou a atual degradação social e económica do país, pedindo melhorias.
“Melhorias que nós esperávamos, mas não estamos a ver até agora”, disse, considerando que a independência deveria ser celebrada com maior dignidade. A independência “deveria ser celebrada com maior dignidade do povo (…), mas nada mudou.
No passado dizíamos que o tempo era pouco, vamos esperar, hoje já temos 50 anos [de independência] e a situação continua na mesma”, considerou o político, de 66 anos. “O povo continua a lamentar o problema de abastecimento de água, preços altos.
Vamos levar algum tempo, mas os que nasceram há 50 anos já têm netos e a situação continua na mesma”, afirmou Eduardo Kuangana à Lusa.
O político, que foi durante muitos anos deputado à Assembleia Nacional (parlamento) pelo PRS e que deixou a vida política ativa em 2017, enalteceu os ideais que contribuíram para a luta de libertação de Angola, observando, no entanto, que existem “questões mínimas” que ainda não foram resolvidas em meio século de independência.
Insistiu que a fome, a carência de água, eletricidade e saneamento constituem “questões mínimas” que o Governo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975) “ainda não resolveu”.
“Vamos ver o que vai acontecer nos próximos 50 anos, o que vemos [hoje] é que não há melhorias”, lamentou. Eduardo Kuangana foi um dos galardoados no dia 04 de abril de 2025 (Dia da Paz e Reconciliação Nacional em Angola) com a medalha “paz e desenvolvimento”, no âmbito das celebrações dos 50 anos de independência de Angola.
O nacionalista aplaudiu o gesto do chefe de Estado angolano, considerando que a condecoração é reconhecimento do seu trabalho, defendendo, no entanto, que as condecorações deveriam estar associadas à melhoria das condições de vida das populações.
“É bem-vinda [a medalha], mas o problema é mudar aquilo que vem por trás disso, agora só condecorar e não há melhorias [na vida] das pessoas, isto não nos interessa”, advogou.
“Quando não há melhorias, [é] como se que os que lutaram [pela independência] não tivessem feito nada”, disse. O histórico do PRS, partido angolano com fortes ramificações no leste do país, voltou a enaltecer o papel e os ideais dos movimentos de libertação (MPLA, FNLA e UNITA) para a independência de Angola, referindo que a sua ação deveria ter reflexos na condição de vida das populações, que continua a queixar-se dos mesmos problemas.
“(Pelos) ideais sim, valeu a pena a independência, para não estarmos até hoje colonizados (…) mas a vida da população continua na mesma”, lamentou. No quadro das celebrações dos 23 anos de paz e reconciliação, assinalados em 04 de abril, Eduardo Kuangana considerou mesmo que falta em Angola uma “reconciliação real e sem queixas”.
“As pessoas continuam sempre a ver os altos e os baixos, continuam a queixar-se, então o que queríamos era ter uma reconciliação real, não haver queixas. Se há queixas é porque há coisas que não andam bem, sim, falta uma reconciliação real”, concluiu.