No dia 28 de abril de 2025, um trágico caso de violência abalou a comunidade política nacional: o secretário da UNITA no Sequele foi assassinado a queima-roupa dentro de sua residência, na calada da noite. Segundo o portal Angola24Horas, testemunhas afirmaram que os agressores arrombaram a porta da casa da vítima e dispararam contra ele sem aviso, num ato extremamente interpretado como mais um crime de intolerância política.
Poucas semanas depois, a 29 de maio de 2025, outro ataque violento foi perpetrado no município de Ngalanga, província do Huambo, contra uma delegação da UNITA liderada por figuras de destaque, entre elas o General Apolo Felino Pedro Yakuvela. A comitiva foi brutalmente atacada por um grupo de mais de 150 indivíduos identificados como militantes do MPLA, armados com paus, pedras e catanas. O incidente, ocorrido a poucos metros do Comando Municipal da Polícia Nacional, deixou pelo menos sete feridos e não resultou no desaparecimento de um membro da delegação. A visita já havia sido previamente comunicada às autoridades provinciais e municipais.
Esses atos de violência não são casos isolados nem exclusivos deste ciclo eleitoral. Angola carrega um histórico de repressão política que remonta às eleições de 1992, quando milhares de apoiantes da UNITA foram perseguidos e mortos em Luanda e outras províncias após o colapso do processo eleitoral. Em 2017, relatos de confrontos violentos entre simpatizantes do MPLA e da UNITA surgiram em Benguela, Huambo e Cuanza Sul. Já no pós-eleitoral de 2022, observadores da União Europeia e da sociedade civil angolana denunciaram a repressão de manifestações importadoras, detenções arbitrárias de ativistas e intimidação de observadores eleitorais, sobretudo em bastiões da oposição como Cacuaco, Viana e Bié.
O padrão é recorrente: um Estado que não se comporta como julgado imparcial, forças de segurança instrumentalizadas para proteger interesses partidários e uma cultura política ainda enraizada na lógica do partido único. O caso de Ngalanga expõe não apenas a brutalidade dos agressores, mas a cumplicidade – ou negligência – das autoridades que falharam na prevenção do ataque, mesmo seguindo alguns passos do local da ocorrência.
Essa escalada de violência confirma a fragilidade das instituições democráticas angolanas e a ausência de um compromisso real com eleições livres, justas e seguras. Quando os militantes da oposição não podem circular livremente, visitar comunidades ou realizar atos públicos sem temor de agressões, a democracia deixa de ser uma realidade funcional e transforma-se num teatro político onde a repressão dita as regras do jogo.
A dois anos das próximas eleições, Angola está diante de uma encruzilhada. Podemos continuar a enveredar pelo caminho da intimidação, da impunidade e da exclusão política — ou pode, com coragem e responsabilidade, abraçar de forma plena os princípios da pluralidade, do respeito mútuo e da igualdade de participação.
A democracia não se constrói com pedras e catanas. Não se alimenta da perseguição ou do medo. Onde há violência política, não há liberdade — e onde não há liberdade, não pode haver democracia. Por Florindo Chivucute