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Terça, 15 Março 2022 20:29

No mundo estratégico-militar: dando mais armas à Kiev o ocidente estará a contribuir para o prolongamento da guerra (V)

Em base às regras das doutrinas militares e das políticas de segurança o objectivo principal de todo e qualquer governo é proteger o Estado, não importa como, não importa os meios, não importa os instrumentos ou as estratégias que devem ser empregadas politicamente ou no campo de batalha, o mais importante é garantir a integridade e a manuntenção das instituições e os interesses chaves do Estado de modo a garantir a sobrevivência do País e a establidade da sua soberania Nacional.

Nesse conflito na Ucrânia somente a diplomacia pode dar um fim imediato à este problema, mas em vez disso as partes (Kiev-Kremlin) até o momento não querem fazer concessões e as tentativas de negociações até agora foram um fracasso, e como se não bastasse os EUA, a União Europeia e os países membros da OTAN estão financiando à Ucrânia com centenas de milhares de dólares e com armamentos diversos, tudo isso fará com que a guerra se prolongue por mais tempo, mais civis irão morrer, além dos milhares de refugiados e a Ucrânia ficará cada vez mais destruído pela guerra.

A diplomacia é um dos elementos mais importantes da Geopolítica, quando a diplomacia não funciona aí nascem as crises, as tensões e os conflitos, por isso é hora dos dois líderes (Putin e Zelenskiy) sentarem às mesas das negociações e chegarem realmente à um acordo. Na verdade essa guerra nunca deveria ter iniciado caso o Presidente Zelenskiy assim como o seu antecessor Petro Poroshenko soubessem negociar com o Kremlin e se respeitassem de igual modo os princípios estabelecidos e definidos pelo acordo de Minsk de 2014, porque mesmo depois de quase 8 anos de negociações não se chegou à nenhum acordo, pelo contrário, as tensões se foram intensificando e o acordo de Minsk foi praticamnte ignorado e “rasgado”.

Não existem amizades em política, apenas existem os interesses, todas as alianças estratégicas ou militares, alianças econômicas ou comerciais movem-se entorno de um interesse: interesse singular ou interesse comum, interesse à vantagem desse ou daquele Estado, e a Ucrânia sendo um Território de extrema importância para o ocidente naquela região da Europa do Leste, e também sendo uma zona de alto risco para a Rússia tendo em conta a proximadade da Ucrânia com suas fronteiras territoriais.

A finalidade da NATO caso a Ucrânia entrasse na sua Organização era de colocar bases militares ali e a Rússia por questões de Segurança não quer que isso aconteça, portanto diplomaticamente como se pode resolver essa situação?

Antes de darmos uma resposta à essa questão, devemos relembrar as propostas russas de segurança apresentadas aos EUA (OTAN) em Novembro/Dezembro de 2021:

1 - A não aderência da Ucrânia à OTAN, assim também como a não aderência da Geórgia e da Suécia à Organização, nem hoje, nem amanhã, nem nunca;

2 - Retirada completa dos mísses balísticos e dos mísses estratégicos instalados nas bases militares da NATO junto das suas fronteiras com a Polónia, Roménia, Hungria, Bulgária, Letônia, Estónia, Lituânia e os mísses instalados na Alemanha;

3 - A não ampliação/extenção da NATO na região do Leste europeu;

4 - A não aceitação de novos membros à Organização da OTAN;

5 - Desmilitarização e a dezinificação da Ucrânia.

Essas foram as exigências iniciais russas de segurança, com o andamento do conflito na Ucrânia os russos adicionaram na proposta mais dois pontos essenciais: o reconhecimento da Crimeia como parte do Território russo e também o reconhecimento das regiões separatistas de Donetsk e Lugansk como Estados independentes.

 As propostas acima descritas foram categoricamente negadas pelos EUA e pela NATO, e a Ucrânia nem sequer manifestou-se sobre essas mesmas propostas, apenas segiu a posição americana. E tanto se fala sobre o respeito à autonomia e à soberania ucraniana, sendo assim, neste caso, devia ser a Ucrânia a ter a palavra inicial e final sobre as propostas russas de segurança no que concerne a sua adesão à NATO, mas nota-se aqui um certo comando do ocidente sobre o governo de Kiev, e quando deu-se o início da operação militar especial russa, dias depois o Presidente Zelenskiy num tom de angústia, nervosismo e desespero disse claramente que o ocidente não cumpriu com o que tinha realmente prometido à Ucrânia, isso deu-nos a entender de que a Ucrânia não estava agindo de forma autónoma e independente sobre a situação em causa.

Respondendo a questão acima apresentada, este conflito chegaria ao fim caso se fizesse concessões dos interesses existentes entre as partes envolvidas, de um lado a Ucrânia devia sim renunciar o seu desejo de entrar na OTAN visto que esta é a principal preocupação russa, do outro lado a Rússia não devia impedir que a Ucrânia entrasse na União Europeia, até porque apesar que a maior parte dos países da União Europeia são também membros da NATO, União Europeia e NATO são duas coisas diferentes, basta notar que a Suécia e a Finlândia são membros da UE mas não são membros da NATO porque esses Países optaram pela neutralidade que é algo legítimo, assim como a Suíça também é um País neutro, a Ucrânia bem poderia seguir esta mesma direcção, não entrando na NATO, optando pela neutralidade mas aderindo à União Europeia, isso permitiria aos poucos o País de se desenvolver com as ajudas financeuras da UE.

 A União Europeia é uma Organização econômica e política, a NATO é uma Organização militar que se ocupa de matérias e questões ligadas à defesa, questões de resoluções de conflitos, mediação e gestão de crises, manuntenção de Paz, e também se ocupam de questões político-diplomáticas a nível internacional.

A parte russa é clara no que realmente quer: a não adesão da Ucrânia à OTAN, e a parte ocidental em vez de tentar ajudar a resolver este conflito avaliando com maior seriedade e eficácia as propostas russas de segurança, o ocidente resolveu apoiar cada vez mais à Ucrânia com armamentos e dinheiro. Dias atrás o Congresso dos EUA aprovou um pacote de ajuda financeira à Ucrânia no valor de 14 bilhões de dólares, além do apoio adicicional de 200 milhões de dólares em armamentos a favor do governo de Kiev, lembrando que antes disso já houve uma ajuda à Ucrânia de 350 milhões de dólares em armamentos e ajuda militar.

A Alemanha também tinha enviado à Ucrânia 1.000 armas antitanques e 500 mísseis terra-ar, além de ter apoiado com 150 milhões de euros ao governo ucraniano. A Austrália, a França e a Holanda também estão ajudando à Ucrânia com armamentos. Na verdade os países membros da União Europeia directa ou indirectamente estão ajudando a Ucrânia com armas, estão dando ajuda financeira e ajudas humanitárias.

A Polónia quis também apoiar a Ucrânia cedendo seus caças de guerra como os MIG-29 e os caças SU-27 para reforçar o esército ucraniano. Todo esse apoio e tentativas de ajudas por parte dos EUA e dos países europeus em armar cada vez mais a Ucrânia prolongará ainda mais a guerra, e o ocidente está contribuíndo claramente para este feito, mas o Kremlin deixou bem claro que atacará todo suprimento e carragamento de armamentos que tentarem entrar na Ucrânia através dos países vizinhos.

A Rússia independentemente das sanções econômico-financeiras e sanções comerciais jamais irá recuar na sua operação militar na Ucrânia, para a Rússia impedir a entrada da Ucrânia na NATO não é algo que pode ser negociado, pra eles isso é uma questão de Segurança Nacional (hoje e posterior), então é necessário que os EUA junto com a OTAN e a UE ajudem a dar um fim nesse conflito, mas vê-se implicitamente que que o ocidente está ajudando na deteriorização da situação ao abastecerem com armamentos às forças ucranianas.

A Ucrânia foi usada como um peão nesse jogo geopolítico entre as potências mundiais e todas essas sanções impostas à Rússia, economicamente quem sai a ganhar com tudo isso é o próprio EUA, desse jeito América terá mais aliados/países comprando os seus bens e matérias primas. Só para dar um exemplo: em menos de uma semana de guerra na Ucrânia América encaixou quase 3 bilhões de dólares em contratos de venda de armamentos e caças de guerra à outros Estados, e o seu gás natural liquefeito já começaram a ser exportados em grandes quantidades em outros países com um preço superior em relação ao preço do gás natural russo: geopolítica e geoeconomia.

Recentemente as tropas russas atacaram bases militares e aerodrónomos de Dinipro, de Lutsk e também de Lviv (cidades a oeste da Ucrânia próximos com a Polónia e Roménia). Só de lembrar que todo o Mar Negro e o Mar de Azov estão sob controle total das forças russas. Particularmente a cidade de Dinipro é uma zona muito importante do ponto de vista militar, porque a partir daí as forças russas podem avançar rapidamente do Sul para o Norte, por outra Dinipro e Lutsk são cidades que permitiriam a Ucrânia de receber suprimentos logísticos e militares, armamentos e outros materiais de guerra vindo do ocidente, por isso as tropas russas estão atacando essas áreas para impedir que esses armamentos e suprimentos militares cheguem às tropas ucranianas.

O Presidente Zelenskiy tem insistido pedindo à OTAN que feche o espaço aério da Ucrânia, na verdade esse tipo de pedido nenhum político sério e em sã consciência teria coragem de pedir, isso daria sim início à III guerra mundial, porque se a OTAN fechasse o espaço aéreo ucraniano todos os voos russos que voassem sobre o espaço aério da Ucrânia seriam abatidos pelos sistemas de defesas antimísses da OTAN, e a Rússia sendo uma super potência militar responderia atacando neste caso países membros da NATO então seria início de uma nova guerra mundial, e os EUA percebendo isso recusaram de imediato o pedido do Presidente Zelenskiy.

O cerco sobre a capital Kiev por parte das forças russas é cada vez mais evidente, o próximo movimento do esército russo nos próximos dias sobre a Capital ucraniana pode ser fatal, as tropas ucranianas até agora continuam resistindo fortemente mas não continuarão resistindo por muito mais tempo, não impedirão para sempre o avanço russo, sendo assim, um acordo entre os dois governos seria sim uma das saídas mais sensatas para se pôr fim à esse conflito que já dura mais de duas semanas.

Em Política a negligência quando se torna deliberada ou desenfreada pode dar lugar à situações complexas, e sendo que a geopolítica tem regras próprias, em fase complexas ou em nome dos interesses nacionais decisões difíceis e delicadas podem e devem ser tomadas por um Governo independentemente das consequências ou das circunstâncias.

Em Política não existe isso de autonomia total por parte de um Estado porque existem certas acções que um Estado pode tomar que pode afectar directa ou indirectamente um outro Estado, e é aqui onde de regra geral nascem todo o tipo de conflitos: por situações económicas, situações sociais, situações político-diplomáticas, situações de tráfico de influência internacional, situações de poder ou de egemonia mundial, situações étnico-culturais, e situações de Segurança Nacional.

Um acordo à vantagem recíproca nesse preciso momento seria o melhor passo a ser dado por Kiev, isso ajudaria sim a pôr fim à esta guerra, uma guerra que poderia ser evitada e que nunca deveria ter iniciado caso houvesse bom senso entre as partes.

Quando a Diplomacia não funciona é impossível ter paz, nessa hora tudo é decidido pela geopolítica por intermédio da força!

As vezes é mais fácil negociar com militares.

Eu e a Diplomacia, a Diplomacia e Eu

Elite Intelectual Diplomática

Competências Internacionais

Políticas de Segurança

No Mundo Estratégico-militar

Por Leonardo Quarenta – Tecnocrata diplomático

PhD em Direito Constitucional e Internacional

Mestrado em Diplomacia, Mediação e Gestão de Crises

Alta Formação em Conselheiro civil e militar

Alta Formação em Políticas de Segurança

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