Segundo o advogado de defesa Walter Tondela, Sedrik de Carvalho iniciou hoje uma greve de fome, juntando-se a mais quatro arguidos, que decidiram enveredar por aquele protesto contra a morosidade do julgamento, que se arrasta desde 16 de novembro.
Sedrik de Carvalho manifestou a intenção de se suicidar numa carta endereçada à sociedade angolana, aos Serviços Prisionais, Tribunal provincial de Luanda, órgãos de informação e à família.
"Ficámos muito tempo a falar. Ele está magro, um bocado pálido, está com muitas dores de cabeça e disse que vai manter a sua posição e que amanhã (terça-feira) só depois de falar com a filha é que vai ver se pode continuar com a tal greve ou se vai parar", disse Walter Tondela.
Com Sedrik de Carvalho, jornalista, estão em greve de fome Luaty Beirão, Domingos da Cruz, Evaristo Bingo Bingo, Mbanza Hanza e Nelson Dibango.
Walter Tondela disse que durante o encontro persuadiu Sedrik de Carvalho a desistir da sua intenção, pelo "futuro da filha", mas salientou que o seu cliente "está muito agastado com a situação".
"Alguém que nunca esteve preso e se sente totalmente injustiçado, é uma situação que não é fácil de ultrapassar", frisou.
O causídico disse que Sedrik de Carvalho está a ser acompanhado por um psicólogo externo, e igualmente pelo chefe de reeducação dos Serviços Prisionais, com qual está a evitar contacto.
Na carta hoje tornada pública, Sedrik de Carvalho escreve que está perante um "julgamento da ditadura contra a democracia".
“Pela permanente tentativa de nos levarem a contrair desequilíbrios mentais, com práticas de torturas milimetricamente orientadas e executadas rigorosamente pelos mesmos que têm a missão legal e humana de cuidar e atestar a nossa sanidade mental; (…) Pela palhaçada que se verifica em pleno julgamento da Ditadura contra a Democracia, onde magistrados escondem o rosto mas não a estupidez, onde aprovam e aplaudem as agressões físicas que acontecem no tribunal, ou ainda onde se reconhece que não leram, durante os cinco meses, os livros que para a ditadura é proibido”.
Sedrick apela a todos, mas fala de todos também. No que toca aos abusos e violações dos Direitos Humanos, o activista afirma que todos eles acontecem “perante o olhar e sorriso cúmplice de magistrados judiciais e do Ministério Público, advogados e religiosos, políticos e jornalistas, população e povos”.
O activista, jornalista de profissão, “filho, esposo, pai e irmão”, e aquele que garantia a sustentabilidade económica da sua família, considera o “julgamento da Ditadura contra a Democracia” uma palhaçada, e mostra-se solidário com várias forças de segurança, por as considerar aprisionadas por um “regime que apenas pensa corruptamente e vive do terrorismo social e político”.
“Pelas Liberdades e pela Paz verdadeiras em Angola, África e Mundo”, Sedrick informa que se negará a sair da cela onde se encontra, que recusará qualquer visita – pedindo desculpas à sua família -, que continuará em Greve de Fome e, mesmo reforçando a sua inocência, pede que Januário Domingos o condene, uma vez não acreditar “em decisão contrária em Ditadura”.
O activista diz-se em “paralisação completa”, colocando o suicídio enquanto uma opção.
Walter Tondela voltou a criticar a morosidade do julgamento, frisando não entender por que num dia praticamente apenas uma pessoa é ouvida.
"O processo não apresenta tanta complexidade assim e, aliás, ficou muito tempo - 90 dias a ser instruído - mas depois parece que estamos numa fase de instrução", disse o advogado.
Em causa está um grupo de 17 ativistas - duas em liberdade provisória - acusado da coautoria de atos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
Na semana passada, os 15 ativistas em detenção anunciaram, em carta enviada ao Presidente da República, que iriam iniciar uma greve de fome coletiva, caso a audição dos réus em julgamento não terminasse naquela semana.
A sessão de hoje do julgamento começou com réu Domingos Caholo, que na sexta-feira ficou por concluir, tendo no período da tarde iniciado a audição da ativista Rosa Conde, que responde ao processo em liberdade.
Lusa