Print this page
Quinta, 26 Novembro 2015 11:30

Descida do preço do pretróleo traduz-se em alimentos mais caros em Angola

A descida dos preços do petróleo desde meados do ano passado fez com que Angola passasse a receber menos receitas, a maioria em dólares, o que originou um desequilíbrio financeiro com ramificações na economia real. As receitas do petróleo, em 2013, quando o petróleo ainda estava em alta, valeram mais de dois terços das receitas totais dos cofres angolanos, pelo que a ligação do dólar à economia do segundo maior produtor de petróleo africano é profunda, a que acresce o facto de a maioria dos bens e serviços consumidos no país ser importado, e pago maioritariamente na moeda norte-americana.

"Qualquer empresa em Angola, mesmo que produza no mercado nacional, tem de importar matérias-primas; até as bebidas, um dos setores em que a produção nacional está mais desenvolvida, tem de importar a maior parte dos 'inputs'", explicou à Lusa a analista do banco BPI que segue a economia angolana.

Luísa Felino referiu que "como a importação das matérias-primas para a elaboração do produto final é feita através de operações no sistema bancário, o intermediário faz a conversão cambial, e daí a necessidade de as empresas terem dólares para pagar as importações".

O problema da falta de dólares em Angola não se fica, no entanto, pelo sistema financeiro - chega muito rapidamente à economia real através da ligação entre o financiamento das empresas e do Estado e o consumo privado e público.

A redução da entrada de receitas em dólares por causa da descida do preço do petróleo, que em meados deste ano custava menos de metade do que durante o pico no verão de 2014, implica uma enorme quebra nos cofres do Estado, que contava com essas verbas para realizar investimento público, nomeadamente em infraestruturas que são vitais para o desenvolvimento de Angola, garantindo também muitos empregos que agora estão em risco.

Não tendo essas receitas, o Governo foi obrigado a rever o Orçamento, cortando a fundo na despesa logo no final do ano passado, num movimento de contração que se vai prolongar para o próximo ano.

Na generalidade, o executivo tem sido elogiado pelos analistas internacionais e pelas instituições económicas pela rapidez com que reagiu à crise, apesar dos riscos do endividamento e do custo do serviço da dívida, mas há poucas alternativas para garantir a entrada de dólares quando o petróleo, o principal financiador do desenvolvimento do país, vale metade do que valia há um ano e pouco.

"Só quando o preço do petróleo voltar a subir é que a situação se reverterá visivelmente", considerou Luísa Felino, sublinhando que "no curto prazo, as autoridades vão ter de gerir a situação, retraindo a procura, o que já sucedeu do ponto de vista do setor público, com o ajustamento no orçamento, mas também no setor privado, nas famílias e nas empresas, que vão gastar menos, mas este é um processo mais longo".

O Banco Nacional de Angola (BNA) tem tido um papel preponderante ao deixar a moeda desvalorizar, e age também como regulador sobre a utilização de dólares pelo sistema bancário.

"Todo o processo é centralizado pelo BNA, que disponibiliza aos bancos as divisas através dos leilões, mas como o BNA tem menos dólares a entrar porque o petróleo está mais barato, também liberta menos dólares para os bancos", disse a analista do BPI, que lembrou que "como a procura por dólares é maior do que a oferta, existe uma lista de espera para os bancos pedirem a quantidade de reservas que querem".

O número mais visível da crise cambial é talvez a desvalorização do kwanza face ao dólar, que já perdeu mais de 30% do valor desde o início do ano, mas onde se nota mais a situação é na falta de dólares em circulação e na escassez de alguns produtos nos supermercados, a par do aumento dos preços e das dificuldades em fazer pagamentos atempados ao exterior, o que implicou que muitos fornecedores já exijam o pagamento contra a entrega das mercadorias.

"Há a perceção de que existe escassez, e mesmo para as importações diretas de produtos de consumo final, existe essa perceção nos supermercados, as pessoas começam a sentir que certos produtos já não estão a ser disponibilizados", apontou Luísa Felino, sublinhando que que "a inflação [que prevê chegue aos 14% ainda este ano] resulta da desvalorização cambial e deste problema".

A situação promete agravar-se na próxima segunda-feira, quando um banco sul-africano que disponibiliza reservas a alguns bancos angolanos deixar de fornecer dólares, de acordo com a agência Bloomberg, que cita fontes conhecedoras do processo.

Atualmente, o Banco Nacional de Angola já recomenda aos bancos que limitem os levantamentos dos clientes a mil dólares (940 dólares) por semana, mas o BIC (o maior em número de balcões) e o BAI (o maior em ativos) têm limites mais generosos, apesar das dificuldades que também eles enfrentam.

Lusa

Rate this item
(0 votes)
Angola 24 Horas

Latest from Angola 24 Horas

Template Design © Joomla Templates | GavickPro. All rights reserved.