Uma operação de diplomacia e charme levou esta semana o Presidente angolano a Bruxelas num esforço para convencer empresários do país a investir em Angola, a quem prometeu condições iguais para todos no processo de privatizações que o Governo pretende lançar brevemente e que vai incluir empresas públicas do setor petrolífero. Mas se convenceu os presentes, João Lourenço não convenceu Isabel dos Santos, que voltou a atacar o chefe do Governo de Angola.
Na capital europeia, João Lourenço anunciou, perante uma plateia repleta de empresários e investidores belgas, que está a preparar um plano de privatização total ou parcial de algumas grandes e médias empresas públicas, incluindo do setor petrolífero e telecomunicações. Assegurou que todo o processo de privatização será transparente e que todos os candidatos terão oportunidades e condições de acesso iguais.
“Visitem Angola. Vão conhecer o novo destino do investimento em África. Garantimos que ficarão encantados e atraídos pelas oportunidades que vão encontrar”, disse o Presidente angolano citado pelo Jornal de Angola (acesso livre). “Angola é um país estável, acolhedor e com necessidade de investimentos em todos os setores da economia”, frisou ainda.
Segundo o jornal, “alguns empresários reagiram positivamente ao apelo do Presidente de Angola”. Mas o “charme” de João Lourenço esteve longe de cativar Isabel dos Santos, que utilizou nesta terça-feira as redes sociais para criticar a falta de atractividade externa de Angola, pela dificuldade em repatriar dividendos, precisamente quando o chefe de Estado, João Lourenço, está na Europa a captar investidores estrangeiros.
Numa mensagem colocada nas redes sociais, a filha do ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, exonerada em Novembro, por João Lourenço, do cargo de presidente do conselho de administração da petrolífera estatal Sonangol, questiona, sem nunca se referir à visita do chefe de Estado à Europa, a atractividade do país, do ponto de vista dos investidores estrangeiros.
"Qual o investidor que vai entrar se não dão autorização aos actuais investidores estrangeiros para levarem os lucros em dólares", aponta Isabel dos Santos, considerada a mulher mais rica de África, referindo-se às dificuldades que as empresas e investidores enfrentaram, nos últimos anos, para repatriar lucros e dividendos, devido à escassez de divisas em Angola.
Qual o investidor que vai entrar se não dão autorização aos actuais investidores estrangeiros para levarem os lucros em dólares?#angola
— Isabel Dos Santos (@isabelaangola) 5 de junho de 2018
Mais concorrência, menos corrupção
Foram vários os destaques de João Lourenço no encontro com mais de 60 empresários belgas. Referiu-se à nova lei do investimento privado como “mais atrativa e que melhor protege o investimento externo”, porque vai permitir que os investidores estrangeiros possam assumir iniciativas no país sem terem de se associar a parcerias com empresas nacionais.
O chefe de Estado angolano destacou ainda a nova lei da concorrência, que reforça a livre concorrência na economia ao combater monopólios. Foi neste ponto que João Lourenço revelou que o Governo vai lançar um concurso público para a atribuição de mais uma licença de telefonia móvel, destinada a aumentar a concorrência no setor, onde só existem duas operadores — uma das quais é de Isabel dos Santos.
“Com isso, procuramos a melhoria dos serviços prestados pelas operadoras e, consequentemente, a baixa de preços das tarifas telefónicas para os utilizadores”, afirmou.
Por outro lado, o governante sublinhou a “verdadeira cruzada contra a corrupção e impunidade, cujos resultados não tardarão a chegar”. “É um dos grandes males de que a nossa sociedade enferma, mas que felizmente tem os dias contados”, disse João Lourenço. ECO