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Quinta, 29 Outubro 2015 19:47

Angola vista como “Primavera Árabe” em potência

A corrupção do governo, “elemento principal que impulsionou os acontecimentos da Primavera Árabe” na Tunísia ou Egito, tem vindo a acentuar-se em Angola desde 2005, com os empréstimos da China. 

Os políticos e algumas pessoas próximas ao regime são apontados como os principais beneficiários dos “negócios de empréstimos opacos com a China”. São estes os ingredientes para uma provável “transformação política dramática”, segundo artigo publicado na presitigiada revista Foreign Policy.

Num extenso artigo sobre a situação política, económica e social do país, assinado na FP por Robert Looney, é identificada uma “semelhança notável” com a situação de marginalização de grupos políticos e desigualdades sociais registada em países como a Tunísia ou o Egito em 2011, antes da eclosão das chamadas “Primaveras Árabes”, que levaram à queda dos respetivos regimes, com ondas de choque em toda a região.

corte drástico nos gastos públicos poderá criar um cenário de repetições de manifestações crescentemente violentas e a possibilidade de descontrolo da situação, tal como aconteceu nos países árabes. O governo tem estado a tratar como “temporários” os problemas de receitas e a evitar reformas, de cujos resultados desconfia. Mas as previsões sugerem que “poderá levar anos, se é que virá a suceder alguma vez”, até que o petróleo volte a impulsionar a economia como no passado, refere o artigo.

A previsão de Looney é de que a estratégia do governo falhe e a indignação pública aumente, possivelmente resultando em violência, com as redes sociais a facilitarem a crescente oposição. Medidas mais repressivas serão a resposta das autoridades ao aumento de protestos.

O crescimento económico angolano da última década não se refletiu em melhores condições de vida para a generalidade da população: o desemprego (oficial) continua na casa dos 26 por cento, mais de um terço da população vive abaixo do nível de pobreza delineado pelo Banco Mundial e as desigualdades são consideradas “persistentes”, com moradias de luxo a coexistirem com musseques.

O “comando do governo autocrático de longa duração” está nas mãos de “uma elite privilegiada”. A transparência orçamental é “mínima” e a liberdade de imprensa “pouca”. A estratégia de controlo de manifestações seguida pelo regime tem-se apoiado no uso das receitas de petróleo para alimentar a “rede de clientelismo” e distribuição de “recompensas”, que para a população em geral incluíram os subsídios para o combustível, e também para fortificar as suas forças de segurança interna.

O aumento dos preços dos combustíveis - 28 por cento depois do cancelamento forçado dos subsídios – a par da falta de divisas e do congelamento da contratação no sector público “está a incrementar a irá pública contra o governo”. Os protestos têm-se intensificado em todo o país, envolvendo jovens das zonas urbanas, veteranos da guerra civil e, mais recentemente, taxistas.

As “novas preocupações socioeconómicas estão a fundir-se às tensões políticas pré-existentes”, afirma Looney. Cabinda, Lunda Norte e Lunda Sul também registaram protestos, contra alegadas violações dos direitos humanos por parte dos militares. Para o governo é atraente manter o actual status quo, obtendo financiamento através da hipoteca de receitas futuras do petróleo, sobretudo junto da China.

Fontes do governo sugerem que o último negócio entre Angola e China, elaborado durante a visita a mais recente visita de José Eduardo dos Santos Pequim, poderá envolver o uso de mais de 485 mil hectares de terras agrícolas como garantia para 30 por cento do empréstimo.

AM

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