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Terça, 02 Junho 2020 20:01

Sonangol, a galinha dos ovos de ouro que pode ficar estéril

Um memorando anónimo sustenta que a petrolífera continua a estar dominada por interesses pessoais e de grupos que são lesivos para o Estado e sugere uma “investigação dos competentes órgãos de inteligência e segurança” do país.

O processo de reestruturação da Sonangol está em curso, atrapalhado pela pandemia de covid-19, mas ainda assim a empresa não se livra do manto diáfano das suspeitas que desde há muito envolvem as suas múltiplas operações.

Agora, em círculos restritos, está a ser partilhado um memorando anónimo, intitulado “Regeneração da Sonangol – O Contínuo Assalto Doloso e Impiedoso à ‘Galinha dos Ovos de Ouro’”, no qual se sustenta que a petrolífera continua à mercê de interesses que são conflituantes com os do Estado angolano.

O autor do documento considera que existe “uma agenda delineada por indivíduos alheios à empresa, perfeitamente identificados, mas que, incompreensível e impunemente, vêm fortalecendo de forma faraónica e contínua, os seus interesses pessoais e de grupo, altamente lesivos aos superiores interesses do Estado angolano”.

Neste sentido, sugere “uma investigação dos competentes órgãos de inteligência e segurança do Estado angolano, que são quem possui os recursos e os expedientes necessários para a habilitada aferição” das queixas que são feitas no referido memorando. Nele, o autor enumera situações indiciadoras de conluio entre gestores atuais da Sonangol e pessoas politicamente expostas, as quais se traduzem em perdas para a empresa.

Para suportar o seu argumento, o autor enumera “procedimentos administrativos que foram praticados de forma displicente e que ferem o bom nome e a lisura que a gestão científica de uma empresa da grandeza e do cariz da Sonangol deveriam demandar e que (…) deveriam suscitar dúvidas e ações corretivas urgentes do acionista único, que é o Estado angolano”.

Esta denúncia surge num contexto em que são reconhecidos como pertinentes e bem-intencionados os esforços do atual ministro dos Recursos Naturais, Petróleos e Gás, Diamantino Azevedo, para reformar o setor, de maneira que o mesmo volte a dar um contributo importante para os cofres do Estado e, simultaneamente, alivie os mesmos de despesa considerada supérflua.

Entre as medidas tomadas por Diamantino Azevedo destacam-se as que deram autonomia às empresas concessionárias para fazer contratos sem terem de passar pelo crivo da Sonangol, as autorizações para fazerem pesquisas em campos maduros, a aposta no gás e também em projetos de refinação para extrair mais da cadeia de valor.

Aliás, Angola enfrenta um cabo das tormentas no que toca à exploração petrolífera, na medida em que a queda do preço da matéria-prima, além dos impactos orçamentais negativos, forçou também à paragem dos investimentos em prospeção. Imaginando um cenário em que esta atividade seja abandonada por completo, as reservas de petróleo do país esgotar-se-iam num horizonte temporal de sete/oito anos. Ou seja, em vez de poedeira, a galinha passaria a ser estéril. JN

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